domingo, 27 de maio de 2007

Conceição e seus sentidos

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida...
...
...
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar...

*******************************************

Domingo é dia de ficar na penumbra do quarto, ouvindo vozes.

Estou decupando uma fita de uma entrevista com a atriz pernambucana Conceição Camarotti, de Amarelo Manga (2005). É meio complicado esse trabalho de decupagem, quando você tem que tirar de uma entrevista de 2 horas, poucos trechos para compor um esqueleto de 2 minutos.
O que me chama atenção na entrevistada, é a emoção que ela passa com as palavras.

Conceição foi casada com Marco Camarotti por 26 anos. Ele morreu há 2, quando eles já não dividiam mais a mesma casa. Ela conta que se separou dele por que precisava desse "vôo" e por ter ciúmes de seus livros...

"Antes dele morrer, perguntei por que me deixou ir embora de casa. Ele disse: 'por que eu a amo''. - explicou, afogada.

O que eram risos traquinos de alguém que relata as aventuras de uma vida, realmente, cheia delas, transformam-se em relatos doloridos. Daquelas dores de emudecer.

"Eu era mais feliz antes disso. Não que minha vida tenha perdido sentido, mas eu era muito mais alegre..." - conclui.

Entende?
Eu também!

Chega de penumbra. Vou passear!
cheiro!

-----------------------------------------------------
Ouça-me

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Sal e chocolate

Uma semana pesada, digna de dores musculares e cefaléias insuportáveis. As mãos perdem o compasso no ritmo frenético de toques no teclado e eu tenho que espremer os olhos que ardem para compreender o que eu mesma escrevo e já não consigo mais acompanhar.
Apesar das dores físicas, eu curto esses momentos de “parto”, só para ter o prazer de contemplar o filho pronto depois. Deve ser alguma coisa que restou de um tal instinto maternal ou, até mesmo, um pouco de masoquismo, como aquelas pessoas que gostam do prazer de sentir dor...
Ah, sei lá.
Faz uns 15 dias que estou dormindo no chão do quarto por causa das dores de coluna. Antes seria a idade, não fosse a má postura na cadeira do computador. O que deveria ser lazer, virou obrigação. E das piores.
Mas ainda há prazeres, e dos melhores. Como falei, o bem-estar do trabalho completo é, pra mim, uma coisa impagável. “To vendo o trabalho imprimindo e fico arrepiada”, disse para um amigo hoje, pelo MSN, logo que terminamos uma pesquisa de meses. Ele riu, mas eu falava a verdade. A impressora cuspiu 37 páginas e eu fiquei lembrando das brigas, dos e-mails, da reunião de marco teórico e dos dias, embaixo do sol forte, aplicando questionários. A nota nem saiu, mas já posso dizer que aprendi, e muito.
Preparar aulas também me dá trabalho. Tenho que ler, estudar, revisar, mas a ficha pronta e as gargalhadas nas aulas são o melhor pagamento. Sinto quando, às vezes, me pego mais feliz naquela horinha da quarta-feira do que nas minhas 25 horas semanais brincando de ser jornalista.
Mas deve ser sempre assim, imagino. Tudo compõe as paredes da vida. Tem uma criatura muito amada que me falou algumas vezes de uma metáfora com sal e chocolate. Eu não me lembro exatamente da frase, mas sempre ligo isso aos sabores da vida; ora, pitadas de sal, oras barras enormes de chocolate. Eu acredito muito em metáforas. Nas palavras...

Enfim.

Quem me conhece sabe que eu tenho uma fileira de primos pequenos. Dos meus dez primos, apenas uma é mais velha que eu. Com idades que variam dos 13 à 1 ano e meio, eles me divertem (não que a minha prima mais velha não seja uma figuraça, cabeça de vento), quando não tiram a minha paciência. Tem um trio quase paraibano que consegue me deixar variando entre a louca paixão e a raiva.

Fica o registro.
E viva o poder das minhas palavras e da vossa persuasão.

Cheiro.


Lucas e Lydia

domingo, 13 de maio de 2007

E em um jornal indiano, lia-se:

Só quem é pobre procede com tanta generosidade. Pena o homem não ser sempre assim.


--------------------------------------


Hoje comemora-se a Abolição da Escravatura. Em 13 de maio de 1888, há nem tanto tempo assim, a princesa regente Isabel assinou a Lei 3.353, conhecida como Lei Áurea, e "libertou" os escravos. A pena da tal assinatura, eu vi. Esse negócio de liberdade é que tá meio difícil.
O Brasil foi o último país do mundo a "abolir" a escravidão e, entre a segunda metade do século XVI e 1850, ano em que acabou o comércio de escravos, mais de 3,6 milhões de africanos foram capturados e trazidos para o Brasil.

É tanta gente que, até o século XVIII, 80% da população brasileira era negra e trabalho era sinônimo de escravidão.


Essa colou mesmo, heim???


Quem não tiver um pezinho na senzala, que atire a primeira pedra!

Eu fico na minha, com meus cabelos cacheados!


-------------------------------

sábado, 5 de maio de 2007

"Miedo..."

Você tem medos?
Conte-me todos...


Musique-se

Miedo
Lenine/ Pedro Guerra

Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienem miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienem miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tienem miedo de subir y miedo de bajar
Tienem miedo de la noche y miedo del azul
Tienem miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da

El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor

Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá

Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como un laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tienem miedo de reir y miedo de llorar
Tienem miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienem miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor

El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
Medo de fechar a cara, medo de encarar
Medo de calar a boca, medo de escutar
Medo de passar a perna, medo de cair
Medo de fazer de conta, medo de dormir
Medo de se arrepender, medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez
Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar

Medo... que dá medo do medo que dá
Miedo... que da miedo del miedo que da

Tem nem o que dizer. Também não tem nada a ver com o resto do blog (até por que o do Rio é outro), mas eu não resisti.
Eu ainda volto lá...
E fico!
(E o Recife que me perdoe, mas o Rio é a coisa mais linda que eu já vi.)
-----------
"Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Esse samba é só por que
Rio, eu gosto de você
(...)"

terça-feira, 1 de maio de 2007

Trecho de "Água Viva"

"Quero apossar-me do é da coisa.
Quero possuir os átomos do tempo.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.
Mas bem sei o que quero aqui: quero o inconcluso.
Quero a profunda desordem que no entanto dá a pressentir uma ordem subjacente.
Um dia eu disse infantilmente: eu posso tudo.
Era a antevisão de poder um dia me largar e cair num abandono de qualquer lei."

Clarice Lispector