segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Poetinha

Vinicius é um amor antigo, desde a época da radiola do meu avô, que trabalhava incessantemente aos domingos.

Voz boêmia, fascinante.
Poemas delirantes, regados à uísque e temperados à tragos.

E, como se isso fosse pouco, juntou sua embriaguez poética à de Tom.
Nascem as grandes maravilhas da nossa Bossa Nova.

Reverência total ao Mestre!
Sua bênção, Poetinha!





Musique-se

Samba da Bênção


♪ ♪ É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim, como luz no coração

♪♪ Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba não

Senão, é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher
Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e para ser só perdão

♪♪ Fazer samba não é contar piada
Quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração

♪♪ Por que o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida
Cuidado, companheiro
A vida é pra valer
E não se engane não, é uma só
Duas mesmo, que é bom, ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: DEUS!
E com firma reconhecida

A vida não é de brincadeira, amigo
A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida

Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão

♪♪ Ponha um pouco de amor na sua vida, como no seu samba
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem o samba não

♪♪ Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

Eu, por exemplo
Capitão-do-mato Vinicius de Moraes, poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô

Saravá (saravá)

A bênção, Senhora, a maior ialorixá da Bahia
Terra de Caimmy e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha, tu que choraste na flauta todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Senhor
A bênção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Ciro Monteiro, você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel
Sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes sambistas do meu Brasil branco, preto, mulato, lindo como a pele macia de Oxum

A bênção, Maestro Antônio Carlos Jobim, parceiro e amigo querido, que já viajaste tantas canções comigo e ainda há tantas a viajar
A bênção, Carlinhos Lira, parceirinho cem porcento, você que une a ação ao pensamento
A bênção
A bênção, Baden Powel, amigo novo, parceiro novo, que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos, que não é um só, és tantos
Tantos como o meu Brasil de todos os santos, inclusive meu São Sebastião

Saravá (saravá)

A bênção, que eu vou ter que partir
Eu vou ter que dizer adeus...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Breve diálogo

Sexta, 12 de outubro.
Destino: um pesque-e-pague em Olinda (idéia esdrúchula do meu pai, mas eu adoro pescar)
Trilha: Toquinho e Vinicius

Segue a cena...


Mariana, sentada em sua cadeira, no banco de trás do carro, cantarola "Aquarela", de Toquinho. Eu, surpresa com a cena, digo:


- Não acredito!!!
- É, ela adora Toquinho - disse meu pai.
- Ah, gorda safada - disse, apertando as pernas dela.
- Faz quinze dias que ela descobriu um DVD de Ney Matogrosso em casa e é só o que ela vê. Me disse que adora ele e que ele tem olhos lindos - completou papai, com tom orgulhoso.
- ... [= o]

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Segundo de reflexão

Todas as vezes que me proponho a escrever além da redação, a cabeça está tão estafada que não consigo tecer nenhuma linha. Durante o dia, fico tentando escapar das amarras editoriais e imaginando o quanto é bom a "livre expressão" do meu blog. Penso e escrevo como quero.

É um alívio, pra variar.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Nelson Rodrigues

"A sorte não existe!
Nem o azar
Tal como não existe deus
nem o demônio.

Faz falta às pessoas atribuir nomes às coisas boas ou más que lhes acontecem.
Querem chamar sorte o fato de alguém ter ganho a loteria
ou azar por alguém ter caído e partir uma perna?

Chamem.

Eu não!

São episódios da vida comum, normalidades.
Se um ganhou, foi porque jogou.
Se o outro partiu, foi porque caiu.

Nada mais simples".

sábado, 13 de outubro de 2007

Tirando as teias


Hoje é dia de faxina por aqui.
Chega do ócio intelectual. Chega da total entrega ao trabalho. Chega de encaixar planos pessoais em segundo plano. Sempre, sempre depois.
Isso é assunto para depois. Vamos tentar recaptular as inspirações passadas. Daria uma boa postagem, como há tempos não faço.
O trabalho oscila entre o automático e o imaginário. Fatos se fundem em textos construídos com inexperiência. A tediosa "pirâmide invertida". Danem-se as regras.
Ando levando muito à sério a idéia de mudar. Tentei começar pelo cabelo hoje, mas me faltou coragem de enfrentar a tesoura. A dieta também foi esquecida durante o feriado prolongado. O peso do corpo contamina a cabeça... essas coisas que só que é do time do sobre-peso entente.
Ok. Chega.
Estou mesmo sem assunto e isso explica o silêncio fúnebre no qual esse espaço está mergulhado há dias. Ando pela rua tentando encontrar pautas pro blog, mas elas acabam se perdendo pela falta de sentar e escrever. Isso sem aquelas amarras do "preciso ser entendida". Acho que o jornalismo corroeu minha artéria poética-literária.
Aquisições ótimas na bienal. Com certeza renderão excelentes posts por aqui.
Fico devendo a música.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

E EU QUE NÃO SEI QUASE NADA DO MAR

Garimpeira da beleza
Te achei na beira de você me achar
Me agarra na cintura, me segura e jura que não vai soltar
E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer
Navegando nos meios seios, mar partindo ao meio
Não vou esquecer

Eu que não sei quase nada do mar
Descobri que não sei nada de mim


Clara, noite rara, nos levando além da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão

Me agarrei nos seus cabelos
Sua boca quente pra não me afogar
Tua língua correnteza
lambe minhas pernas
Como faz o mar
E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer
Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio
Não vou esquecer

Eu que não sei quase nada do mar
Descobri que não sei nada de mim