segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Letra e música [1]

Pétala
Djavan

O seu amor
Reluz
Que nem riqueza
Asa do meu destino
Clareza do tino
Pétala
De estrela caindo
Bem devagar...

Oh! meu amor!
Viver
É todo sacrifício
Feito em seu nome
Quanto mais desejo
Um beijo, um beijo seu
Muito mais eu vejo
Gosto em viver
Viver!

Por ser exato
O amor não cabe em si
Por ser encantado
O amor revela-se
O Ser amor
Invade
E fim!!...(3x)

domingo, 21 de dezembro de 2008

O nosso amor a gente inventa

(Estória Romântica)

Composição: Cazuza / Rogério Meanda / João Rebouças

O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver...

Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu...

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu...

O nosso amor a gente inventa
Inventa
O nosso amor
A gente inventa...

Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa...

Mas ficou tudo fora de lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica...

O nosso amor
A gente inventa
Prá se distrair
E quando acaba
A gente pensa
Que ele nunca existiu...

Mas ficou tudo fora de lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica...

O nosso amor a gente inventa
Prá se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu...

O nosso amor a gente inventa
Inventa...
O nosso amor a gente inventa...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Quando o silêncio diz tudo

Segundo os organizadores do protesto, os cocos representam a cabeça humana. De acordo com a ONG, esse é o alvo mais freqüente nas mortes violentas no Rio. (Foto: André Teixeira / Ag. O globo)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O que as maduras querem?

Eu não gosto se ser repetitiva ou ficar reproduzindo os assuntos mais comentados do momento. Mas, é impossível fugir do óbvio nesse momento e comentar com um e com outro sobre a morte de Marcelo Silva (mais conhecido como ex-marido de Susana Vieira).

Eu li algumas matérias e posts em blogs famoso. Inclusive, assisti a um vídeo ridículo que mostrava o corpo do falecido, bem trajado em uma sunga Diesel. O blog comentava que o ex-PM morreu como tinha vivido: de sunga branca.

Enfim...

Agora há pouco, li algo mais interessante sobre o ocorrido. Então, resolvi abrir espaço aqui para o pensamento alheio. O texto foca pra outro lado, assim como eu gostaria de ter feito...

Eu concordo com "envelhecer dignamente". Embora use anti-rugas desde os 20, não almejo ser uma senhora à Vera Fisher - esticada e bancando a garotona (nada contra, Dona Vera...).

Segue:


BARBARA GANCIAO

O que as maduras querem?

Que tipo de troca terá existido entre a atriz Susana Vieira e esse pobre rapaz de vida desperdiçada?

CAFAJESTE, TOSCO , aproveitador, truculento, drogado, imoral... De uns meses para cá, Marcelo Silva, 38, ex-marido de Susana Vieira, 66, encontrado morto em um apart-hotel da Barra da Tijuca na manhã de ontem, vinha sendo chamado de tudo um pouco.Recentemente, em seu programa matutino, a apresentadora Ana Maria Braga chegou a sugerir que a melhor coisa que ele poderia fazer seria "desaparecer da face da terra".

Ex-policial militar com histórico de agressão física contra mulheres e internação por dependência de drogas, Marcelo não parecia muito preocupado com sua reputação.Ao sair de mala e cuia da casa de Susana, no mês passado, ele declarou: "Hoje sou um homem aliviado. O que adianta comer picanha argentina num restaurante chique e não digerir a comida? Hoje, eu como alcatra num restaurante barato e tenho uma boa digestão".

Não sou do tipo que transforma capetas em santos só porque eles passaram desta para melhor. Mas, quer saber? Marcelo Silva, que Deus o tenha, com todas as suas fraquezas e limitações, não é o principal problema desta triste novela.Vamos e venhamos: o que Susana Vieira e outras mulheres maduras como ela procuram? O que a atriz estava querendo quando se casou com um rapagão enxuto, dependente de drogas e 28 anos mais jovem do que ela? Amor eterno? Estabilidade conjugal? Um bezerrinho para chamar de seu?A metáfora sobre a alcatra e a picanha utilizada por Marcelo Silva pode não ser digna de constar do livro de etiqueta de Marcelino de Carvalho, mas pulula de franqueza.Ou será que existe algum homem sarado na faixa dos trintinha que prefira uma picanha de 66 anos a uma alcatra de 27 -a idade da amante de Marcelo que acabou se tornando o pivô da separação?

Com o advento do botox e das várias técnicas de recauchutagem (e de reposição hormonal) hoje disponíveis para quem se recusa a envelhecer com dignidade, a mulherada passou a acreditar que bastou ter dinheiro e o telefone de um bom dermatologista para adiar o inevitável.Mas um dia a casa cai. E se não cai, ficam todas com a cara das senhorinhas daquele filme "Mulheres Perfeitas" ("The Stepford Wives", 2004), que parecem saídas da mesma cadeia de montagem.Freud já não perguntava o que as mulheres querem? Pois, tudo ao mesmo tempo é que não dá para ser. Ou bem a endinheirada poderosa se contenta com prazeres pontuais da carne ou opta pelo companheirismo (e conseqüente enfado) que um relacionamento maduro é capaz de proporcionar.

Veja: não estou tecendo julgamento, longe de mim, mas a curiosidade me corrói as paredes internas do estômago. Sempre que vejo esses casais em que um dos cônjuges é bem mais velho do que o outro, eu me pergunto: sobre o que será que eles conversam? O que será que a Ana Maria Braga cavaqueia com seu mais recente marido? Que tipo de troca terá existido entre Susana Vieira e esse pobre rapaz de vida desperdiçada? Sobre que assuntos o Olacyr de Moraes confabula com suas jovens amigas?

Se alguém souber a resposta, por favor me diga.
barbara@uol.com.br
mailto:iga.barbara@uol.com.brwww.barbaragancia.com.br

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Até tu, Mônica??

Ainda no mesmo clima saudosista do post anterior, vim registrar aqui minha surpresa com a notícia de que a Turma da Mônica também cresceu! Li a chamada e logo pensei: "como assim?? Até tu, Mônica??".

Pois é...

Apostando em uma série de fatores, Maurício de Souza lançou uma nova revista, a Turma da Mônica Jovem, que já choca só pela capa. Afinal, nenhum fã da turma está totalmente preparado para ver Mônica e Cebolinha trocando beijos adolescentes, né? Olha só:


"FORTES EMOÇÕES" Capa do exemplar, já nas bancas

Eu sou tradicional, ainda mais quando se trata de coisas tradicionais. Confesso que fiquei incomodada com essa nova proposta teen (odeio esse termo) pra Turma e muito mais pelo fato da Mônica (meu quase alter-ego) não ser mais "baixinha, dentuça e gorducha". Aí, o próprio Maurício explicou o porquê da minha angústia:

"(...) Mas é capaz que os mais velhos falem: 'pecado, isso não poderia ter acontecido. Meus ídolos de infância envelheceram, eu eu também envelheci'".


Ok, Maurício... me mate!


A versão crescida da Turma da Mônica ainda está em "teste" e traz os nossos personagens em versão adolescente, estilo mangá.



Primeiro beijo de Mônica e Cebolinha



Pra ler a matéria completa, basta clicar no título desta postagem. Adianto logo: Cascão tomando banho, Maurício, não dá!!!

Hunf!!!!


E eu/ Gostava tanto de você/ Gostava tanto de você...



*
*
*

Musique-se

Turma da Mônica
Composição: Indisponível

Sou a Mônica, sou a Mônica
Dentucinha e sabichona
Sou a Mônica, sou a Mônica
Tão teimosa e tão mandona
Quando diz que sim, quando diz que não
Mostra ter opinião
Fico sempre falando e brincando
Na sua imaginação

Ela inventa tudo que é brinquedo
Com a turminha gosta de brincar
Se as meninas têm algum segredo
Logo vêm correndo me contar

Se alguém sorrir, se alguém sorrir
Aí nossa turma pode vir
Se alguém chorar, se alguém chorar
Estou sempre eu para ajudar
Mas se algum menino me contrariar
Vou mostrar que eu não sou boba não
Vou lhe dando uma coelhada
E ele vai até cair no chão.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Aí um dia

Aquele ciclo diário de amanhecer e alvorecer camufla o passar do tempo em meio à rotina. Os dias passam e carregam semanas, meses, anos... e, se você não for um exímio observador, nem se dará conta disso.

E ele continuou a passar. Você cresceu, viu suas mudanças físicas e nem se deu conta de que estava envelhecendo, apesar de nem se reconhecer mais nas fotos de anos trás. E quando, finalmente, percebeu o tempo, lamentou-se por todas as coisas que deixou de fazer, por todas que renegou para depois. Aí nessa hora, lembrou de pessoas que passaram, de oportunidades perdidas e de tantas outras coisas.

O problema é que, de tanto ver os dias amanhecerem e anoitecerem, de tanto ver o amanhã chegando, você se aquieta e vira mero expectador. Sentado, lamenta demais e reage de menos.

Por esses dias, comecei a perceber que não vou mesmo conseguir segurar o tempo. Já vi os primeiros sinais de idade nos meus pais, vejo amigos de infância casando e me pergunto onde estava que não vi as coisas acontecerem?

De hoje em diante, ficarei bem atenta às horas do dia, cientes que elas são tão parte da vida quanto os sonhos e planos que almejamos para o futuro.

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Fiquei por três dias cozinhando esse texto até postá-lo aqui. Não sabia exatamente o que ele queria dizer, mas achava que não tinha mais nada a acrescentar. Acho lições de vida tão inúteis quanto as de moral e seria totalmente dispensável, como assim é, que eu tornasse este texto uma lição de como enxergar as coisas.

Creio que não somos nós que fazemos nossas escolhas, mas que elas também nos fazem. Eu sou resultado de cada uma das minhas escolhas; e mesmo que, aqui, não queira a elas creditar qualquer predicado, não me arrependo de qualquer uma delas.

Hoje, recebi por e-mail um vídeo muito inspirador. Era o que eu precisava para me fazer compreender aqui. Acesse:


http://video.google.com/googleplayer.swf?docid=-3827595897016378253&hl

Musique-se

Alvorada
(Cartola)

Alvorada lá no morro, que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo (a alvorada )

Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
E o que me resta é bem pouco
Ou quase nada, do que ir assim, vagando
Nesta estrada perdida

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ele, o Jornalismo, e suas agruras

Faz medo os sinais de abandono por aqui. Entro sem querer e me deparo com uma postagem de meses atrás. Aceito a acusação de que, realmente, perdi o prazer de escrever por prazer.

Colei grau e agora tenho registro de jornalista, o que me habilitaria a transcrever verdades que construiriam verdades. Mas depois de tanto sacrifício, financeiros e noturnos, querem cassar o meu diploma! É... aí bate um desânimo.
Raul dizia inúmeras verdades em Cowboy fora da lei e entre elas, os cortantes versos que escracham:


"Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz..."

Partidário da mesma idéia, Cazuza fora também taxativo em Medieval II (1986) quando disse:

"Eu acredito nas besteiras que eu leio no jornal..."

É o descrédito que, de tão grande e tão antigo, permite que se cogite a possibilidade de dispensar um jornalista de uma formação acadêmica, que o obrigue a conhecer seu compromisso social, as técnicas para o "fazer jornalístico" e algumas doses de ética. E talvez seja esse o ponto: embora devesse ser o norte de todo profissional, o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros para ter sido escrito em outro mundo, bem longe daqui.

Hoje, os jornais (aqueles conglomerados de mentiras e besteiras, segundo os poetas citados) divulgaram a concorrência do vestibular daqui. Jornalismo vem lá em cima da lista, com mais de 16 candidatos por vaga que sonham com alguma coisa a qual desconheço. Isso me faz pensar sobre os motivos pelos quais, entre tantas opções mais vantajosas (nas quais você ganha mais e pode até trabalhar menos), um ser opta por ser jornalista. Sem crédito, sem credibilidade, sem dinheiro e sem tempo...
Tive que responder a esta pergunta para a seleção do curso da Editora Abril e a resposta, tenho que confessar, não saiu satisfatória e não convenceu nem a mim mesma. Em 4 mil toques, eu teria que dissertar sobre quem sou e o porquê de ter escolhido o jornalismo como profissão. Oras! Tinha nada mais prático? Ainda não encontrei uma única criatura capaz de dar boas explicações pela escolha mal feita. Uma amiga que também fez o texto, começou o seu tratando da dificuldade do questionamento. Eu confesso [2]: Nunca tinha pensando sobre isso. Na verdade, eu queria ser médica e professora de português.
Agora, caro leitor, não sei se posso tecer comentário de total credibilidade, já que faço parte "dessa sub-raça safada". Todavia, devo registrar que este é um dos mals necessários e sendo tão atrelado à sociedade, só poderia ser "sua imagem e semelhança". Aprimorando, acaba sendo até um pouco mais fétido. O jornalismo tem dessas coisas.
Perdoem-me por talvez me colocar totalmente contrária aos seus eventuais conceitos. O fato é que sempre veremos com outros olhos, porém não menos críticos, a satisfação em noticiar, o orgulho de portar um nobre compromisso social e, ainda (embora para poucos, infelizmente), a missão de cumprir nosso papel de forma ética. Mesmo que, muitas vezes, ela ponha em risco nossos empregos. Parcos, mas vitais.
Confesso [3]: parece brincadeira.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Intra-Cranianos defende essa causa!

Em Defesa do Diploma - Ato em SP reúne jornalistas de todo País

Site do SJSP

Representantes da FENAJ e de 31 sindicatos de jornalistas de todo o País participaram hoje (20/08) de uma manifestação em defesa do diploma e da regulamentação da profissão. O ato foi em frente à Superintendência Regional do Trabalho e precedeu a abertura oficial do 33º Congresso Nacional da categoria, que acontece até este final de semana em São Paulo.

O objetivo da manifestação era esclarecer a população que está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF) a decisão final sobre a obrigatoriedade da formação superior específica para o exercício do jornalismo, notícia que as pessoas não estão vendo nos jornais ou na TV, porque não é do interesse das empresas de comunicação.“Nossa profissão corre o risco de um grande retrocesso, que é a perda da sua regulamentação, conquistada com anos de luta. Quem tem interesse nisso são as empresas, para quem ficará fácil contratar qualquer pessoa para trabalhar, não pagar direitos, não pagar horas extras. Isso prejudica os jornalistas, aumenta a precarização do trabalho nos jornais, nas televisões. Mas também atinge a qualidade da informação, o direito de todo cidadão a ser bem informado”, destacou o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo.

O presidente do SJSP, José Augusto Camargo, afirmou que defender o fim do diploma é do interesse das empresas de comunicação, e vai na contramão da necessidade de qualificação crescente em qualquer área de trabalho: “Isso não vale só para o jornalismo, mas para qualquer profissão”.Aniela Almeida, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Paraná, ressaltou que a importância da exigência do diploma está no fato de que ter uma formação técnica e ética ajuda o profissional a garantir o direito à informação independente e plural. “O jornalista tem o dever de assegurar que as diversas opiniões ou as diversas versões de um mesmo fato tenham seus espaços garantidos nas mídias. Os patrões dizem que a exigência de uma formação específica vai contra a liberdade de expressão. Mas isso é o que eles mesmos estão estimulando. Caso se confirme a desregulamentação, a mídia do País pode mergulhar no amadorismo, na precarização. Queremos discutir isso com a sociedade, para que apóie a nossa luta”.

Para Jim Boumelha, presidente da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), também presente ao ato, além da regulamentação profissional - tratada de diferentes formas de acordo com as peculiaridades de cada País -, os profissionais brasileiros devem discutir que tipo de jornalismo querem fazer: “Em novembro do ano passado, profissionais de vários países da Europa fizeram manifestações, discutiram o futuro do jornalismo. Não apenas o papel e o status quo do jornalista, mas a qualidade do trabalho que se quer fazer”.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Espaço reservado.

Nossos 10 anos

Não falemos do passar dos tempos, nem das mudanças que o fechar de um dia nos trazem. Falemos da vida, dos dias, prazeres e construções partilhadas.
E que cresçamos juntos, sempre. E que venham mais 10 anos.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Para refletir...

Foto publicada no jornal O Globo, no dia 8/8/90, no caderno especial sobre a morte de Cazuza.

"O jornalista deve evitar a divulgação de fatos de caráter móbido e contrários aos valores humanos" - Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, 1987, artigo 13, alínea "b".

sábado, 24 de maio de 2008

Três irmãos de sangue e vida

A diretora, com os três
Assinei a newsletter da gravadora Biscoito Fino para receber as novidades de lançamentos em CD e DVD e, quem sabe, aproveitar algum como sugestão de pauta para o jornal. Já na primeira semana, fiquei sabendo que iriam lançar “Três irmãos de sangue”, um documentário sobre a vida de Betinho, Henfil e Chico Mário.

Aceita a pauta, fiquei descansada até descobrir que a ela fora destinada à capa de domingo (passado, dia 18). Então, peguei contatos e sentei ao telefone para uma boa conversa com a diretora Ângela Patrícia Reiniger (foto acima). Na entrevista (ela lá – no Rio – e eu cá), Ângela tentou me explicar todo o processo de feitura do documentário, desde a gênese, na cabeça do filho de Chico Mário, Marcos Souza, até o recolhimentos de entrevistas, imagens e filmagens em locações. Ao final da conversa, a diretora me prometeu uma cópia do filme, que chegou às minhas mãos ainda naquela semana, infelizmente, depois que a matéria já havia sido finalizada...

Então... é esse o motivo deste post: me redimir dos detalhes que a “ignorância” sobre a construção desta película fez estar ausente da minha matéria.

Primeiramente, o quão (aparentemente) esquecidas estavam figuras tão... (pausa para escolher o predicado adequado) exemplares. Sim, porque exemplos são muito tocantes, principalmente quando sabe-se que o ser humano viveu aquilo que pregava. E esse é o caso dos três.

Hebert, Henrique Filho e Francisco Mário eram irmãos, mineiros, hemofílicos e morreram, os três, em decorrência da aids. Vale lembrar que a infecção foi causada pelas transfusões de sangue que tomavam regularmente; talvez por um “lote” de sangue contaminado. (pausa para reflexão) Imagine, você, ser contaminado por descaso alheio, por um vírus letal que assolava e matava. Era o meio da década de 80. Henfil foi o primeiro a ficar sabendo que estava contaminado e morreu pouco tempo depois. Chico Mário foi o segundo e Betinho, o último, conviveu com a doença por quase 11 anos (de 86 a 97), quando morreu em casa, no Rio.

Mas vamos deixar esse assunto de aids pra lá, porque quando se trata deles há muito mais se dizer.

Henfil (abaixo, com a mãe, Dona Maria) era humorista, cartunista, tinha ideologias e lutou por elas até o fim. Sabe aquela música de João Bosco e Aldir Blanc, famosa na voz de Elis, “O bêbado e a equilibrista”? Pois bem, o verso “...meu Brasil/ Que sonha com a volta do irmão do Henfil” foi inspirado na seção que Henfil assinava na revista IstoÉ, chamada “Cartas à mãe”. Nela, uma foto de Dona Maria, mãe dos três, apaziguava qualquer reação às manifestações do colunista, que usava o meio para tratar de política e de assuntos que poderiam ser censurados pela ditadura, então vigente. Betinho estava exilado e a sessão de Henfil acabou dando cara aos demais “apatriados”.
Chico Mário (abaixo) era sensível e marcante, não pela boca grande que tinha (no sentido físico da palavra) e que o caracterizava (pelo menos me chamou atenção), mas pela mágica musical que conseguia fazer com violão em punho. Eu sou verdadeira adoradora de música, mas nunca ouvira falar que o irmão de Betinho era um músico de tamanha qualidade. O filme tem umas cenas de close nos dedos de Mário, que quando dedilhavam, prenderam totalmente a minha atenção.


Betinho (abaixo) morreu em 97, como eu disse acima, e eu me lembro dele falando na televisão. Já sabia que ele estava à frente do Ação, mas nem desconfiava da grandeza daquele homem franzino, calvo e de olhos cavados e de visão profunda. Aliás, a Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria é algo tão de função tão óbvia que me incomoda. Por sinal, até o dia 30 de maio, no site da instituição, acontecem inscrições para o Prêmio Betinho de Democracia e Cidadania 2008. E, sinceramente, espero que eles tenham muitos a premiar.



O símbolo da ONG (ao lado) é cruel de tão realista, mas de uma dor que você, com certeza, nunca sentiu. Mas, talvez por ser tão vital, a dor da fome nunca passa impune aos olhos.

Voltando ao filme – “Três irmãos de sangue” não tem pecados. Quando se pensa que o filme começa a esmorecer, vem uma lição. E uma história que tinha todas as ferramentas para ser piegas, tamanha as desgraças que se sucederam na vida de Betinho, Henfil e Chico, é de uma beleza especial. Emociona, mas não arranca lágrimas de tão sóbria é sua narrativa. E quando o filme acaba, com Betinho dizendo que a morte não é o mais importante, mas que se continuem as lutas, fiquei com vontade de fazer alguma coisa.

E como temos sempre a tendência a achar que não temos nada com isso (ou com qualquer coisa que se passe além do vidro do nosso carro), talvez por termos a sensação que não podemos resolver nada sozinhos, o sociólogo Betinho, ensina:


“Houve um incêndio na mata e os animais corriam para se salvar. Foi quando o leão viu um beija-flor que pegava água no rio, jogava a água no fogo e voltava pro rio. Então o leão perguntou:

- Você não está vendo que não vai conseguir apagar esse fogo sozinho, beija-flor?
- Sim, eu sei que não posso resolver esse problema sozinho. Mas estou fazendo a minha parte”.



Ação do Recife

Comitê Pernambuco Solidário
Coordenador estadual: Anselmo Monteiro da Silva
Tel.: 3226-0063 Comitê / (81) 3074-1945 (res.)/ (81) 3273-0548 (rádio)
Cel.: (81) 9979-9716 / (81) 9114-9716
E-mail:
anselmomonte@yahoo.com.br
End. Comitê: Av. Caxangá, 2.200- Cordeiro - Recife (Parque de Exposições do Cordeiro)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

E falando em música...

E nesses quase findos tempos de JC, me mantive sempre atenta ao comportamento dos colegas de caderno, especialmente uma figura peculiar que sempre me faz rir. Quando ele escreve sobre música, fico atenta a cada um das críticas (sempre ferrenhas e carregadas de um vocabulário bastante peculiar); quando ele fala, levanto bem as orelhas (ou as abaixo, seguindo aquele ditado que diz que "quando um burro fala, o outro abaixa as orelhas") para não perder nenhuma das palavras proferidas por ele na velocidade da luz.
Esse meu colega (olha, que orgulho!) trabalha no jornal há anos e isso me deixa mais ainda com cara de besta. Toda vez que eu estou fazendo uma matéria sobre música, ouso chamá-lo para uma assessoria rápida. Aí ele olha meio cabreiro pro texto, senta e começa a digitar. E fica massa! Um dia, assinarei uma matéria com ele...
Ainda dedicarei um post neste espaço somente para registrar grandes feitos deste colega em nosso ambiente de trabalho. Não que ache que vá interessar a alguém, mas eu preciso disso para rir e me lembrar em alguns anos. Ah, o nome dele não foi dito aqui pelo simples motivo de que ele pode se zangar por eu estar usando seu santo nome em vão (mas você pode clicar no título que rapidinho aparece a cara o cidadão)!

Bem, mas o objetivo desse post aqui é mostrar o grau de criticidade e humor do meu colega. Fora que eu concordo em "gênero, número e grau" com tudo o que ele escreveu nesta edição da sua coluna Toques digitais. Recomendo também a leitura dominical de Curto & Grosso. É ótima!

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A música dos valores perdidos


"Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!". A maioria, as moças, levanta a mão.

Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são "gaia", "cabaré", e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.

O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhando uma música da banda Calypso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Foi daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de "forró", e Ariano exclamou: "Eita que é pior do que eu pensava". Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou.

Pruma matéria que escrevi no São João passado, baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém, esta "desculhambação" não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de "forró" (parafraseando Luiz Gonzaga, "as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde"). Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.

A cantora Ceca foi uma espécie de Ivete Sangalo do turbo folk (ainda está na estada, porém com menor sucesso). Foram comprados 100 mil vídeos do seu casamento com Arkan, mafioso e líder de grupo para-militares na Croácia e Bósnia. Arkan foi assassinado em 2000. Ceca presa em 2003. Ela não foi a única envolvida com a polícia, depois da queda de Milosevic, muitos dos ídolos do turbo folk envolveram-se com a justa pelo envolvimento com a poderosa máfia de Belgrado.

A temática da turbo folk era sexo, nacionalismo e drogas. Lukas, o maior ídolo masculino do turbo folk pregava em sua música o uso da cocaína. Um dos seus maiores hits chama-se White (a cor do pó, se é que alguém ignora), e ele, segundo o Guardian, costumava afirmar: "Se cocaína é uma droga, pode me chamar de viciado". Esteticamente, além da pouca roupa, a sanfona é o instrumento que se destaca tanto no turbo folk quanto no chamado forró eletrônico, instrumento decorativo, ali muito mais para lembrar das raízes da música tradicional. Ressaltando-se que não se tem notícia de ligação entre bandas de "forró" e crime organizado. No que elas são iguaizinhas é que proliferaram em meio a débâcle de valores estéticos, morais, e éticos, e despolitização da juventude. Com a volta da governabilidade nas repúblicas da antiga Iugoslávia, o turbo folk perdeu a força. Vende ainda, porém muito menos do que no passado. Hoje é apenas uma música popular para se dançar, e não a trilha sonora de um regime condenado por, entre outras lástimas, genocídio.

Aqui o que se autodenomina "forró estilizado" continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem "rapariga na platéia", alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é "É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!", alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Lição de moral I

Eu recebo umas frases de efeito, textos de auto-ajuda e coisas afins na minha caixa de e-mail. Geralmente, elas acabam na lixeira eletrônica, simplesmente por que eu não acredito que terei 200 anos de azar se não encaminhar tal e-mail para 5 mil pessoas e coisas do tipo.
Também acho macabro quando as pessoas encaminham avisos que traficante de órgãos em boates, seringas contaminadas em cadeiras de cinema e seqüestros nos quais os bandidos, após receber o resgate, devolvem a vítima totalmente contaminada, com num sei quantos tipos diferentes de doenças.

Bem, o pretexto deste texto (ui!) é dar utilidade a uma destas muitas mensagens que recebemos todos os dias, mas que, lida com atenção, faz você pensar: "Como é que eu não pensei nisso antes?"

Pois é...

Uma mulher acordou uma manhã após a quimioterapia, olhou no espelho e percebeu que tinha somente três fios de cabelo na cabeça. "Bom", ela disse,"acho que vou trançar meus cabelos hoje". Assim ela fez e teve um dia maravilhoso.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e viu que tinha somente dois fios de cabelo na cabeça. "Hummm", ela disse, "acho que vou repartir meu cabelo no meio hoje". Assim ela fez e teve um dia magnífico.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que tinha apenas um único fio de cabelo na cabeça. "Bem", ela disse, "hoje vou amarrar meu cabelo como um rabo de cavalo". Assim ela fez e teve um dia divertido.
No dia seguinte, ela acordou, olhou no espelho e percebeu que não havia nenhum fio de cabelo na cabeça. "Yeeesss", ela exclamou, "hoje não tenho que pentear meu cabelo".

Atitude é tudo! Seja mais humano e agradável com as pessoas. Cada uma das pessoas com quem você convive está travando algum tipo de batalha. Viva com simplicidade, ame generosamente. Cuide-se intensamente, fale com gentileza e, principalmente, não reclame.
Se preocupe em agradecer pelo que você é e por tudo o que tem!

domingo, 4 de maio de 2008

Especial - 50 anos de Cazuza II

Arquivo N, da Globo News, em homenagem a Cazuza!

"Em busca do borogodó perdido"

Dia desses, no meio a um garimpo no GRANDE acervo de livros numa das (várias) Lojas Americanas do Recife, me deparei com um exemplar "exemplar" da grande literatura mundial. Estava por lá, jogado como grande parte dos outros livros, alguns já sem capa, sujos e maltrapilhos, ansiosos por serem lidos (afff, terrível), mas este me chamou a atenção por conta do título, bastante inquietante. Então, registrei-o com a minha fabulosa câmera de celular, seguindo a inspiração do meu amigo Carlos Leite em um post.



Como disse, fiquei inquieta com o tal do borogodó, então fui fazer uma pesquisa a respeito para maiores esclarecimentos aqui. Achei um blog interessante falando sobre o assunto. Segue alguns trechos:
"Que me desculpem os belos, mas BOROGODÓ é fundamental. Sim, Vinícius estava errado quando falou que era a beleza. Ele ainda não conhecia o borogodó. Fenômeno interessante que acontece com alguns mortais que não nasceram com o padrão estético vigente, mas são dotados de um brilho que chama a atenção de qualquer um. Com certeza você já ouviu falar desse magnetismo que certas pessoas exercem sobre outras. Quem tem borogodó faz os outros pensarem em sexo a um simples olhar. Dá vontade de querer conhecer, saber se é só impressão ou a pessoa é aquilo tudo mesmo. É um desejo movido pelo mistério, pelas fantasias que o outro nos inspira..." (Estranho mundo de Lena)
Eu curti esse negócio de borogodó...
Fica a pergunta: Você já encontrou seu borogodó perdido?

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A justificatica da grandeZa

Há meses não aparece um assunto novo por aqui e várias (mentira, algumas...) pessoas já vieram reclamar desse abandono total ao blog. Devo justificar aos meus poucos leitores a ausência de novidades, nem que seja por mera formalidade entre partes?

Deve ser, realmente, muito chato procurar algo que preste para ler na internet e se deparar com a mesma coisa postada há meses. Como li num livro infame, ao qual não titularei nesse post, meus poucos leitores, ao acessar essa página, ouvem um silêncio fúnebre e:

- Cri, cri, cri (como grilos).

Não que eu goste de plágiar idéias, boas ou péssimas (como esta acima), mas esta me pareceu encaixar bem neste caso.

Sim, mas antes que eu fuja ao tema, como é costumeiro, deixe-me registrar os porquês do abandono do recinto. Além da monografia (não, não a postarei aqui como faço com algumas matérias que escrevo pro jornal), não tem muito graça fazer em casa, nas horas de descanso, o que eu passo o dia fazendo no trabalho.

Neste momento, vejo que isso não justificaria, já que muitos e muitos jornalistas alimentam seus blogs de forma decente e estes pensamentos aqui andam vazios, ocos. Nem é por falta de imaginação, nem de tempo... Aliás, passo o dia podando pensamentos no jornal e muitos deles renderiam posts fantásticos como alguns de tempos atrás.

Já me chamaram de vendida, mas eu discordo. Nesse momento mesmo, estou bolando justificativas e as idéias vão falhando. Aí eu penso se devo mesmo postar isso ou deixar pra outro dia, quando tiver alguma boa idéia.

er...

Sim! Ontem aconteceu uma coisa interessante (pelo menos pra mim). Coloquei meu nome no Google para ver por onde ele anda. Pois saibam que virei link em blogs de terceiros (Blog da Tatiana Notaro) e comentário: uma pessoa postou uma matéria minha em seu blog, elogiou o texto e falou que ignorou "erros de pontuação". Céus!!! Erros de pontuação? Ondeeee?

É bem provável, mas justificável. Sabe quando você faz tanto uma coisa que ela sai no automático e quando você pára para racionalizar, nem sabe mais o que está fazendo? Sabe? Que ótimo... você me entende, então, quando eu leio e releio a mesma frase 20 vezes sem saber exatamente onde pôr a vírgula. Oras, vírgulas são indispensáveis para a boa compreensão da frase. Uma delas no lugar errado acaba com o sentido da oração e o juízo do autor do erro.

Olhe... o que eu já recebi de e-mails reclamando de erros não é brincadeira....
Ótimo, vou usar esse espaço para desabafar.

Eu sempre faço o possível para que TODAS as minhas matérias sejam entendidas, e bem entendidas, por TODO tipo de gente. Este post, por exemplo, se encaixa bem no tipo de texto que eu costumo fazer (a carpintaria do texto, como li certa vez). Pois bem. Lá estou eu escrevendo uma matéria sobre um bailarino que vinha ao Recife fazer uma apresentação SOLO de DANÇA CONTEMPORÂNEA. No espetáculo, ele ia dançar no marco zero da cidade, sobre um tapete...

Você já viu uma apresentação de dança contemporânea? É uma aula de contorcionismo (pelo menos pra mim, que sou uma reles leiga)... Então, imagine você conseguir transcrever o abstrato pro papel, delirando junto com o autor daquela coreografia?

Voltando pro texto. No dia seguinte ao da publicação da matéria, recebi um e-mail desaforado perguntando "por qual cartilha" eu escrevia, já que minha matéria trazia que o bailarino em questão era um "profissional de primeira grandeSa" (é, com S). Agora, você... olhe pro seu teclado e veja que S e Z são quase letras vizinhas. Eu aprendi em 89 que grandeZa é com Z, mas digitei errado, oras!!!!

Eu posso continuar não sabendo bulhufas sobre dança contemporânea, seus nudismos e movimentos. Vou continuar desconfiando que aqueles bailarinos fazem movimentos aleatórios, mas nunca mais eu esqueço da grandeZa!.

Hunf!

domingo, 6 de abril de 2008

CAZUZA - Especial 50 anos

O material abaixo foi produzido para uma matéria especial, publicada no Jornal do Commercio (www.jc.com.br), do Recife/PE, em 3 de abril de 2008. As entrevistas registradas ao final do post foram feitas por telefone ou e-mail.

Aquela com o produtor e jornalista Ezequiel Neves foi publicada, com alguns cortes, em ping-pong, na edição do JC. As concedidas por Lobão, Maurício Barros e Sandra de Sá, foram utilizadas ao longo dos textos.

A entrevista de Guto foi irrelevante, então, vai aqui inédita. A de Gilda Mattoso, acabou esquecida nos arquivos. Vai também, aqui, na íntegra, numa tentativa minha de me redimir...

Algumas das fotos foram tiradas por mim, quando visitei a Sociedade Viva Cazuza, no Rio, em janeiro de 2007. A fundação vive dos direitos autorais de Cazuza e recebe doações através da conta:
Agência 0887-7
C/C 26901-8

Títulos e subtítulos da matéria, frutos da imaginação do meu chefe, Marcelo Pereira.

Ao poeta!
Abraços a todos
Tati

O poeta exagerado do rock

Cazuza, que viveu a vida em toda a sua intensidade e não temeu correr riscos, completaria, amanhã (4 de abril), 50 anos

Tatiana Notaro (com a paciência, pitacos e madrugadas de Tacyana Viard)


“Nasci no Rio de Janeiro/ Fruto do amor verdadeiro/ De uma cristã e um cristão/ (...) Fui na infância um cordeiro/ Até descobrir no banheiro/ Que eu tava na contramão/ Daí sartei fora sem freio/ Me estrepo mas tô sempre inteiro/ E sou bem feliz, meu irmão!”. Com estes versos, Cazuza descrevia sua vida que chegaria aos 50 anos, no dia 4 de abril de 2008. Da trajetória de 32 anos, dedicou oito aos berros do seu rock’n roll, depois acalmados pela fase bossa nova e samba. “Conquistei a vida de um ano pra cá e quero passar isso pras pessoas. Isso é uma coisa meio cristã. Você repassa aquele amor que armazenou e as pessoas adoram”, dizia em 1990, ano em que morreu (no dia 7 de julho), vítima de aids. No dia 1º de maio, na Praia de Copacabana, um show em sua homenagem leva Sandra de Sá, Lobão e Roberto Frejat ao palco. Outros amigos, como Caetano Veloso, ainda estão sendo cogitados para a apresentação. Um DVD, com clipes e entrevistas do cantor, também será lançado, mas ainda sem data.

Cazuza nasceu numa Sexta-feira Santa e foi batizado como Agenor de Miranda Araujo Neto, em homenagem ao avô paterno. Garoto da Zona Sul, vivia nas areias do posto 9 da Praia de Ipanema; à noite, na boemia do Baixo Leblon. Até encontrar Roberto Frejat, seu maior companheiro de composições, o cantor aventurou-se pela fotografia, teatro e na assessoria de imprensa da Som Livre, gravadora presidida pelo pai, João Araujo. A primeira vez que cantou em público, foi sob a tenda do Circo Voador, montado no Arpoador, em 1981. Na peça "A noviça rebelde", Cazuza cantava "Odara", de Caetano Veloso. “Meu Deus, esse menino canta bem e eu nem sabia!”, relembra a mãe Lucinha Araujo em seu livro "Cazuza – só as mães são felizes".


Boletim do Colégio Santo Inácio - SVC


Cazuza conheceu os meninos do Barão Vermelho através do cantor Leo Jaime, primeiro cogitado para assumir os vocais da banda. Na época, o grupo se resumia ao som de garagem da guitarra de Frejat, do baterista Guto Goffi, do tecladista Maurício Barros e do baixista Dé Palmeira. Taxada como “banda maldita” pela mídia especializada da época, o Barão não tinha suas músicas tocadas nas rádios, mesmo depois de lançar os dois primeiros LPs. “Nossas músicas tinham letras que se destacavam pelo teor poético e selvagem, embaladas com um som cru, que ignorava as tendências da época”, disse Maurício Barros, em entrevista por e-mail ao Jornal do Commercio. O primeiro empurrão foi de Caetano, que cantou, na casa de shows carioca Canecão, em junho de 1983, "Todo amor que houver nessa vida". Depois, Ney Matogrosso gravou aquela que seria uma das músicas mais famosas da dupla Cazuza/Frejat: "Pro dia nascer feliz".

Cazuza gravou quatro álbuns com o Barão Vermelho e cinco solos. Após sua morte, foi lançado "Por aí", de 1991. Em vida, colecionou amigos apaixonados por sua memória. “Este ano, no Expresso 2222, trio do Gilberto Gil em Salvador, cantei 'Pro dia nascer feliz' e o público amou!”, disse, em entrevista ao JC, a cantora, amiga e comadre de Cazuza, Sandra de Sá. Outra fã apaixonada foi a cantora Cássia Eller, que em 1997, gravou "Veneno antimonotonia", com 14 músicas do compositor. Bom lembrar que "Malandragem", grande sucesso da carreira de Cássia, foi composta por Cazuza e Frejat.

No cinema, Cazuza atuou em dois filmes: "Bete Balanço" (de Lael Rodrigues, em 1984, para o qual compôs a famosa faixa de mesmo nome) e "Um trem para as estrelas" (de Cacá Diegues, em 1987). Neste, assina a faixa-título da trilha. “Foi minha primeira parceria com o Gilberto Gil, que é uma coisa da qual eu me orgulho muito, porque o Gil é meu guru. Eu tremia na base na hora que eu fui levar a letra pra ele, super envergonhado, mas ele adorou e fez uma música linda”, disse na época. A música "Brasil" foi feita para a trilha sonora do filme "Rádio Brasil", também de Lael.

Quando descobriu a aids, Cazuza estava às vésperas de lançar seu segundo álbum solo, "Só se for a dois", em 1987. À medida que a doença se manifestava, afetando-o visivelmente, Cazuza acelerava na composição das suas músicas. “É a minha criatividade que me mantém vivo. Meu médico diz que eu sou um milagre, porque tenho tanta energia, tanta vontade de criar”, dizia. Cazuza deixou 220 canções. Hoje, a renda dos seus direitos autoriais é revertida para a Sociedade Viva Cazuza (SVC), fundada por Lucinha Araujo, que cuida de crianças portadoras do HIV, no Rio.

Um amor correspondido


Cazuza teve uma relação intensa e produtiva com os parceiros musicais, que guardam boas recordações


Mural de fotos do quarto de Cazuza, ainda hoje preservado na SVC

Cazuza cantou de 82 a 85 no Barão Vermelho, lançando "Barão Vermelho", "Barão Vermelho 2", o single de "Bete Balanço", "Maior abandonado" e "Barão Vermelho ao vivo" (registro do Rock in Rio 85, relançado no ano passado em CD e DVD). “O grupo ficou fragilizado com a saída de Cazuza, mas sabíamos que ainda tínhamos o que mostrar. O primeiro disco sem Cazuza foi 'Declare guerra', no qual, na música homônima, o refrão desabafava 'declare guerra a quem finge te amar/ chega de passar a mão na cabeça de quem te sacaneia'", disse o tecladista Maurício Barros, em entrevista ao JC.

Solo, o cantor deixou "Exagerado" (ainda em 1985), "Só se for a dois" (1987), "Ideologia" (1988) e "Burguesia" (1989). Entre as 220 músicas que Cazuza assinou em seus oito anos de carreira, muitas parcerias se deram à base da amizade com outros músicos. “A gente vivia pelo Baixo Leblon, bebendo e escrevendo letras de futuras músicas. Pagávamos a conta dos bares tocando Dolores Duran até o fim da noite”, relembrou em entrevista o cantor Lobão.

A primeira parceria dos dois foi em "Mal nenhum" (dos versos “Eu não posso causar mal nenhum/ A não ser a mim mesmo”). “Era uma espécie de manifesto da nossa maneira de ser e de viver, de quanto nos achávamos deslocados naquele espaço, naquele tempo”. Na última música composta com Lobão, "Azul e amarelo", Cazuza se despediu. “Ele me veio visitar, já muito combalido, sem poder mais andar. Ele se deslocava no colo de Bené, uma querida criatura enorme que ia pra todos os lugares com ele. Chegou cheio de papéis de letras debaixo do braço, colocou o calhamaço na mesa, e começou a folheá-lo. Apanhou uma dessas letras e me disse: ‘Essa parceria você não entra porque eu fiz com o Cartola. Ele se chama Agenor (na verdade, Angenor) assim com também me chamo Agenor, então você tá fora! Só entra com uma coisa em comum, com algo extraordinário!’. Aí eu respondi: ‘Ok, mas se é pra ter algum vínculo dessa natureza com o Cartola, sem problema, porque eu faço aniversário no mesmo dia que ele. Serve?!’. Daí ele pensou e decidiu: ‘Ok, sendo assim, você pode entrar na parceria’. Na assinatura da canção, consta: Cazuza, Cartola e Lobão, já que o poeta usou o verso “Não quero, não vou, não quero”, de autoria do sambista.

Embora tenha composto com Ezequiel Neves (ver entrevista abaixo), Ângela Rô Rô, Rita Lee, Leoni, João Rebouças e Nilo Romero, somente para citar alguns, foi com Roberto Frejat que Cazuza encontrou a grande parceria. “Eu morro sem o Frejat. É a paixão da minha vida. Quero fazer parceira com ele até morrer”, disse, em 1987. Os dois são os responsáveis por grande parte das composições da época em que Cazuza estava no Barão Vermelho, além de outras da carreira solo do poeta. “Cazuza e Frejat eram como irmãos. Uma linda amizade, sem dúvida, uma das mais fundamentais para meu filho”, conta Lucinha.

Cazuza com Roberto Frejat e Sandra de Sá

Das amizade fortes, uma era com a cantora Sandra de Sá. “Tenho duas lembranças bem fortes do Cazuza. A primeira, eu estava grávida de três meses. Estávamos bebendo, eu estava com um copo de uísque. Quando ele viu, me deu uma bronca – ‘sua irresponsável, eu não quero que o meu afilhado seja um louco antes de nascer’ (risos) – e tomou o copo. A outra é a imagem dele no batizado do meu filho: estava todo de branco, com uma vela na mão... Ele é o meu melhor amigo até hoje”, relembra, emocionada, a cantora. Hoje, o afilhado de Cazuza, Jorge, tem 23 anos e é fã do padrinho, segundo Sandra. (T.N.)


Um ídolo de várias gerações


Filme "Cazuza – O tempo não pára" apresentou o cantor para um público mais jovem que não o viu ao vivo, mas virou fã de sua ideologia


"Cazuza – O tempo não pára" foi uns dos maiores sucessos do ano de 2004 no cinema. O filme apresentou o poeta exagerado a um jovem público que o acolheu como novo ídolo. O roteiro foi baseado no livro de Lucinha Araujo, que foi narrado à jornalista Regina Echeverria (a mesma de "Furacão Elis"). “Achei que o filme mostrou muito só o lado louco dele, e ninguém é uma coisa só”, disse Lucinha sobre o filme, que revelou o ator Daniel Oliveira, intérprete de Cazuza e vencedor de vários prêmios.

Lucinha pode discordar da abordagem, mas não pode negar que o filme popularizou Cazuza entre os jovens de uma geração que não o viu cantar, mas que se identificou com esse “falso” espírito transgressor. Um bom exemplo disso são as comunidades sobre o cantor no Orkut – são cerca de 1.000, com os mais variados temas – desde a “oficial”, que conta quase 400 mil membros, até as que levam nomes inusitados como “Cazuza, volta pra cá agora”, “Cazuza é meu psicólogo”, “Minha ideologia? Cazuza!” e “Deus, ressuscita Cazuza, por favor”.

“Quando Cazuza morreu, eu tinha dez anos, mas já gostava de várias músicas dele”, conta o advogado Alberto Freire, de 28 anos. “Já assisti ao filme três vezes e gostei muito. Retratou fielmente o que foi a vida de Cazuza, um cara gênio mais também um louco”. Já Ana Maria de Queiroz, advogada de 24 anos, é fã por influência. “Eu descobri o Cajú ainda na década de 90, apesar de ser muito nova para ouvir suas músicas. Minha irmã, oito anos mais velha, já era sua fã, então, cresci ouvindo os clássicos do Agenor”.

Em 24 de janeiro de 1989, Cazuza fazia, aqui no Recife, a última apresentação da sua vida. No Centro de Convenções de Pernambuco, de acordo com matéria publicada no JC, o cantor travou uma batalha com a platéia. “Após duas músicas, iniciou um estranho monólogo em inglês, sendo recebido com apupos (vaias) pelo público. ‘Show é troca. Se vocês não me dão nada de volta, não terão nada também’, disse Cazuza, para receber uma estrondosa vaia”, registrou o jornalista Lúcio Flávio Regueira. “Em seguida, Cazuza passou a sussurrar algumas canções, deixando frustrados seus fãs, que ainda tentaram sufocar as vaias, ajudando ele a cantar”, escreveu o jornalista.

Essa história sob o ponto de vista de um fã, muda de versão. “Sempre fui fã de Cazuza, desde a época do Barão Vermelho. Os ingressos para aquele show era caros, teria que juntar dois meses de salário para conseguir ir”, relembra o comerciante Bruno Moutinho, de 38 anos. “Ganhei o ingresso num sorteio de uma rádio. O show foi emocionante. Em vários momentos, Cazuza parava de cantar para respirar, visivelmente cansado. Aí o pessoal aplaudia e tinha muita gente chorando também. Acho que nenhum dos fãs ali se sentiu agredido. Eu, pelo menos, adorei o show”, relembra o Bruno, que na época tinha 22 anos. (T.N.)


***************************************** ENTREVISTAS:


(1) Ezequiel Neves - publicada no JC

"Cazuza é a ausência mais presente na minha vida"



Ezequiel Neves tem 73 anos. É jornalista, produtor musical e orgulha-se de ser o "pai" (ou avô, como a ele se refere o baterista Guto Goffi) da banda Barão Vermelho.
Até hoje, Zeca trabalha com os meninos do Barão, atualmente fazendo trabalhos individuais, e se formos comparar os relatos sobre ele, datados daquela época, o produtor musical e jornalista continua o mesmo maluco, amante da boemia, das artes (como ele mesmo se declara) e das drogas ("das boas!"). Sua amizade quase siamesa com Cazuza entrelaça as vidas dos dois - então há jeito de falar do poeta exagerado sem juntar-se para um papo ao seu fiel companheiro (de noitadas no Baixo Leblon ao dia do resultado do teste da aids). Entusiasmado com a idéia de relembrar seu "neto", Ezequiel Neves concedeu uma entrevista ao JC.

Jornal do Commercio – Você lembra quando conheceu Cazuza e como foi o começo da história dele na música?
Ezequiel NevesConheci Cazuza antes dele virar cantor. O conheci como boêmio, em 1979... a gente papeava. Eu sempre fui boêmio, ele também, e ficamos amigos instantaneamente. Eu nunca soube que ele escrevia, nessa época. Cazuza tentou muitas coisas até chegar à música, mas não era a dele. Quando eu roubei a fita demo do Barão Vermelho achei aquela banda maravilhosamente underground, diferente. Soube que era o Cazuza quem cantava ali e liguei para Lucinha (Araujo, mãe do cantor, a quem Zeca já conhecia), e disse "ouvi uma fita da banda do seu filho. Quem faz aquelas letras?. Aí ela me repondeu: "é o Cazuza". "Pois se prepare, porque seu filho é absolutamente genial!" (gargalhas).

JC – Isso foi quando, exatamente?
ZECAFaz as contas aí... Eu tinha uns 47 anos. Ele devia ter uns 24, era o mais velho dos barões, e tinha ódio disso (risos).

JC – A sua posição foi a mais incômoda quando Cazuza resolveu sair do Barão. Por que você assumiu os dois?
ZECAOlha, quando Cazuza me disse que ia sair da banda, eu disse a ele que era a maior bobagem esse negócio de querer virar patrão dele mesmo, sabe? O Barão sempre foi uma excelente moldura pra ele, a luz maior era pra ele, que também era letrista e cantor... não tinha motivo. Quando eu disse ao Cazuza que ia cuidar dois dois, ele me disse que eu fazia muito bem. Eu fui "salomônico" (risos).

JC – Lucinha contou no livro "Cazuza - só as mães são felizes", que era você quem estava com Cazuza no dia em que ele soube que estava com aids. Como foi esse dia?
ZECANossa, foi muito difícil. Primeiro porque eu já sabia. O médico, ao invés de contar direto para o Cazuza, contou primeiro ao João (pai do cantor) e à Lucinha e os dois me contaram. Achei aquilo erradíssimo! Até porque ficamos os três o tempo todo regulando ele, "não beba tanto" e tal. Bem, mas naquele dia, ele insistiu para que eu fosse, mas me deixou na sala de espera do consultório. Quando saiu, foi logo dizendo "estou, estou, estou"... Aí a gente foi para Ipanema, era umas 19h. Ele estava desesperado! Eu tentei acalmá-lo, dizendo que tinham outros médicos e que ele não era promíscuo, então não tinha como estar contamidado.

JC
– Era a época do "Só se for a dois"?
ZECA Sim, ele ia estrear o segundo álbum solo, "Só se for a dois". Naquele dia a gente tinha um ensaio desse show, mas ele não quis ir. Disse que ia pra onde tudo havia começado, e foi pra casa dos pais.

JC – Há muitas comunidades sobre Cazuza no Orkut e em muitas delas, vemos discussões sobre o que teria inspirado a letra de "Codinome beija-flor". Você assina a parceria da música, pode explicar sobre o que fala a letra?
ZECA – (risos) Cazuza foi internado com uma "baronite aguda", porque estava com febres altíssimas e queimou um baseado. Foi neste hospital onde a gente compôs "Codinome" e a letra fala de uma imagem de alguém, mas não alguém específico. Fizemos umas mudanças porque eu achava a letra abstrata demais. Há umas sacadas geniais dele, como aquela história de "terceiras intenções". Mas é isso, não foi pra ninguém não.

JC – Qual foi o motivo desta internação? Já era por causa da aids?
ZECAFoi em 87 e ninguém sabia do que se tratava. (pausa) Olhe... a morte é insubornável! Os pais dele fizeram de tudo para salvá-lo! Os exames desta internação deram negativos à contaminação por HIV. (pausa) Em 79, 80, a aids era chamada de "câncer gay", não se sabia nada sobre ela.

JC – O quê você lembra sobre a fase da doença de Cazuza?
ZECAFoi uma coisa horrorosa. Eu estava brigado com Lucinha e João e Cazuza exigia a minha presença. Foi um calvário, eu não sei como sobrevivi. A primeira vez que ele tomou o AZT teve efeitos colaterais horríveis, porque essa é uma droga fortíssima. A Lucinha sempre foi muito cuidadosa com Cazuza, então distribuiu compridos de AZT com os amigos mais próximos. (pausa) Eu moro em frente a uma favela ótima (a Pavão Pavãozinho, no Rio) e uma vez tava tendo batida policial lá e eu não tive como entrar para comprar pó. Então cheirei AZT e fiquei louco... (risos) Era muito forte aquilo...

JC – Qual foi a última vez em que você viu o Cazuza?
ZECAFoi na véspera da morte dele. O achei muito ausente... (pausa) Saí da casa dele naquele dia, fui pra minha casa e cheirei muito. Me contaram que foi a Lucinha quem me ligou no dia seguinte, me avisando que ele tinha morrido, mas eu não lembro. Sei que caí no apartamento e acordei com a Dulce Quental, o Nilo Romero e o Frejat, que tinham arrombado a porta. Pus uma camisa que o Cazuza tinha me dado e fui pro velório. Não me lembro de nada... só de ver pessoas chegando. Você quer uma frase bonita pra colocar ai? O Cazuza é a ausência mais presente na minha vida!

JC – Vai muito ao cemitério (São João Batista, no Rio, onde Cazuza foi sepultado)?
ZECATúmulo é uma coisa muito forte, sabe? Principalmente pro Cazuza, que era muito livre. Mas eu vou lá, levo flores, acendo um cigarro Hollywood e coloco em cima do túmulo... ele fuma todinho (risos).

JC – Como seria a relação do Zeca aos 70 com o Cazuza aos 50?
ZECAA gente já teria brigado umas 500 vezes, mas isso não é palpável. Não quero luzes, quero mágica! Não sei o que seria, sei que ele não está mais aqui... (pausa) Hoje eu estava ouvindo o primeiro álbum solo dele ("Exagerado", de 1985). É tão diferente de tudo, sabe? Não sei se é melhor, mas é maravilhosamente diferente...

JC – E as comemorações pelos 50 anos dele?
ZECAA Lucinha sempre manda rezar uma missa. De lá, vamos para a Pizzaria Guanabara, no Leblon... com ele, viu? Por que eu vou levar um pôster enorme do Cazuza! (risos) Me lembrei de quando eu fiz 49 anos. O Cazuza fez uma festa e disse a todo mundo que eu estava fazendo 50 anos, aí quando foi no ano seguinte, realmente meus 50, o pessoal falava: "de novo?". (risos)


(2) Lobão - Inédita na íntegra


Como você conheceu Cazuza?
Naquele tempo, todo mundo se encontrava e se via no Baixo Leblon.

Como era a relação entre vocês?
O Cazuza sempre me visitava. A noite começava no Baixo, bebendo e escrevendo futuras letras de música nos guardanapos, perambulávamos vagando por cada mesa cheios de idéias fantásticas para o mundo, para o Brasil... Para ser livre, ou, ao menos, nos reconhecermos de alguma forma! Depois, se a gente não ficasse lá até o último freguês, prá pagar a conta tocando Dolores Duran no piano bar, quem tivesse por perto ia em caravana prá minha casa. Aí a gente começava uma música nova, ou um conceito mirabolante para transmutar nossa insatisfatória existência em poesia.

De todas as composições em parceira com Cazuza, qual delas você destacaria e por qual motivo?
A primeira, "Mal Nenhum", uma espécie de manifesto da nossa maneira de ser e de viver... De quanto nós nos achávamos deslocados naquele espaço, naquele tempo. E a última, "Azul e Amarelo", que é a canção de despedida da vida dele. Ele me veio visitar, já muito combalido, sem poder mais andar (ele se deslocava no colo de Bené, uma querida criatura enorme que ia pra todos os lugares com ele). Chegou cheio de papéis de letras debaixo do braço, colocou o calhamaço na mesa de vidro que havia na varanda e começou a folheá-los tentando encontrar alguma coisa para ser trabalhar. Ele estava cada vez mais excêntrico e brincava com seu mau humor. Apanhou uma dessas letras e me disse: "Essa parceria voce não entra porque eu fiz com o Cartola e ele se chama Agenor (na verdade, Angenor) assim com também me chamo Agenor, então voce tá fora! Só entra com uma forte coisa em comum com algo extraordinário!" E aí eu respondi: "Ok, mas se é prá ter algum vículo dessa natureza com o Cartola, sem problema, porque eu faço aniversário no mesmo dia que ele. Serve?!!" Daí ele coçou a cabeça, pensou e decidiu... "Ok, sendo assim voce pode entrar na parceria".

A obra de Cazuza tem mudanças e oscilações visíveis. Por exemplo, depois da aids, suas composições apresentam um amadurecimento, se voltando para lado mais social. No álbum "Burguesia" há músicas ruins do ponto de vista poético. Na sua opinião, quais são as mudanças mais significativas e suas causas?
O Cazuza conseguiu ficar mais escrachado, mais profundo, mais denso e mais agressivo com tudo aquilo. Ele se permitiu tornar-se uma criatura muito, mas muito excêntrica. Podia, queria e devia vomitar tudo que tinha na alma. Achava que tinha esse direito, e tinha mesmo.

Como chegou pra você a notícia da doença dele?
Praticamente na mesma semana em que ele soube que estava com a doença.

De quem é a "Vida louca vida" sobre a qual você se refere na música (muitas pessoas pensam que essa música foi composta pelo Cazuza)?
Apesar da letra ser do Bernardo, ela falava sobre as perseguições que eu estava sofrendo na época. Falava sobre a imprensa que não parava de especular sobre minha personalidade ("tô carente, sou manchete popular") como se eu fosse um marciano. Eu fiz a música e dei um arremate na forma do que seria o refrão. Quando o Cazuza se apropriou da música ela se expandiui no seu significado, tornando-se, a partir de então, algo dele, pessoal e intransferível e isso foi muito emocionante pra mim.

Cazuza faria 50 anos no próximo 4 de abril. Como você imagina que ele seria aos 50? Alguma semelhança com este Lobão de 50 anos?
Cazuza estava em pleno crescimento artístico. A gente tinha que sair daquele escárnio que faziam do nosso trabalho, que era um tremendo fardo para se livrar. Nós sabíamos que aquilo era um incipiente começo, que estávamos desbravando territórios sem tradição de aprendizado e que a ordem natural seria o florescimento e o crescimento da nossa verve. Ele estaria fazendo coisas lindas, inspiradas e profundas. Assim como eu, ele nem sequer havia começado (o melhor estava ainda por vir) e isso é muito cruel... me dói o coração imaginar a cratera vazia que é a sua ausência para a cultura musical brasileira.

Daqui a 50 anos, como será vista a obra de compositores como vocês?
Ah, isso ninguém pode imaginar. Pra mim, tenho muitas reservas em fazer essa prospecção. Primeiro por trata-se de música popular e segundo porque nunca nos deram bola! Por sinal, o Cazuza recebeu um tratamento um pouco mais respeitoso depois de morto. Eu dizia pra ele, de sacanagem: "Cazuza, até que morrer aqui no Brasil pode ser uma vantagem! O Nelson Rodrigues sempre afirmou que o brasileiro só é solidário no câncer, agora, é bem provável que também na AIDS (embora com muitas ressalvas e crueldades!!!!!) e talvez, desde já, ou logo após a sua morte, você vire mesmo um glorioso membro da famigerada e tão seleta MPB!!!!AH AH AH !!". Sim, e nós rimos à beça e, para concluir, arrematei:"Quem sabe um Ariano Suassuna desses da vida, no futuro nos enquadrará como brasileiros legítimos de pura cepa mestiça e origem controlada com selo de qualidade e proveniência para que nos tornemos alguém nacional da gema com a dignidade intelectual aferida e confirmada neste celeiro jeca de belezas postiças impostas goela abaixo que chamam de Brasil!... Seremos a próxima aula de moral e cívica, e essa será nossa vingança ! Hahahahaha!



(3) Sandra de Sá - Inédita na íntegra (na foto, Sandra e o filho, Jorge, afilhado de Cazuza)


Como você conheceu Cazuza?
Conheci através da mãe dele. Lucinha falava demais dele, que na época morava em Nova Iorque. Na época, ela ia gravar um disco e fui mostrar uma música pra ela. A gente se encontrou numa gafieira no Rio... e foi uma paixão à primeira vista.

Chegaram a compor juntos?
Ele participou da gravação da faixa de um LP meu, gravamos um clipe juntos, que até foi ao ar no Fantástico, mas a gente não chegou a compor juntos. Engraçado isso... acho que talvez tenhamos rabiscado alguma coisa, mas se perdeu por aí.

Como era dividir o palco com ele?
Várias vezes, todas muito especiais. A primeira vez que o Barão cantou para um grande público foi no Morro da Urca (Rio), abrindo um show meu. Também cantamos juntos no especial da Globo, cantamos "Blues da piedade". Essa música, até hoje, eu canto no meu repertório.

Há mais músicas dele no seu repertório?
Canto muito ele. Gravei também para um disco comemorativo dele. Por sinal, este ano, no trio Expresso 2222, do Gilberto Gil, eu cantei "Pro dia nascer feliz" e o público amou! Canto "Ideologia" também...

Tem lembranças marcantes dele?
Tenho duas lembranças bem fortes do Cazuza. A primeira, eu estava grávida de três meses. Estávamos bebendo, eu estava com um como de uísque na mão. Quando ele viu, me deu uma bronca – “sua irresponsável, eu não quero que o meu afilhado seja um louco antes de nascer” (risos) – e tomou o copo da minha mão. (Cazuza era padrinho do filho de Sandra, Jorge, hoje com 23 anos). A outra é a imagem dele no batizado do meu filho: estava todo de branco, com uma vela na mão... (pausa) Ele é o meu melhor amigo até hoje!

Como você soube da doença?
Ele estava tentando me falar, mas eu não entendia... não queria me dizer diretamente. Um dia, estávamos juntos e outra pessoa, que não lembro que foi, falou da doença.. e ele me olhou. Depois, nunca mais comentamos... (pausa) Eu fui muito covarde. Ele me conhecia tanto, acho que o silêncio dele foi por isso. Teve uma vez, ele já bem doente e sem andar, que fui visita-lo. Cheguei perto dele e ele me disse no ouvido: filha da puta covarde, nem vem me visitar...

Como soube da morte de Cazuza?
Estava em casa, acordando... uma coisa assim. Não me lembro bem. Só sei que xinguei muito (emociona-se).

E Cazuza aos 50? Como seria?
Ele ia ter muito orgulho do afilhado dele, que apesar de ser bem pequeno quando Cazuza morreu, é alucinado por ele...


(4) Maurício Barros - Inédita na íntegra (na foto, Maurício, com Roberto Frejat e Cazuza)


O que representava Cazuza para o Barão nos anos 80?
Muito, é claro. Além de cantor e letrista, ele era a cara do grupo para o grande público.Tinha muita personalidade e um grande carisma, dentro e fora do palco.

Como você avalia a contribuição de vocês para o rock brasileiro?

As músicas do grupo tinham letras diferenciadas que se destacavam pelo teor poético e selvagem, embaladas com um som cru, que ignorava as tendências da época.

Como foi o primeiro trabalho do Barão sem Cazuza?
Foi complicado, o grupo estava fragilizado com sua saída, mas ao mesmo tempo sabíamos que ainda tínhamos o que mostrar. O primeiro disco sem Cazuza foi "Declare Guerra", no qual, na música homônima, o refrão desabafava ... "declare guerra a quem finge te amar/ chega de passar a mão na cabeça de quem te sacaneia"...

Tem como separar Barão (pós-Cazuza) e o Cazuza?
Acho que sim, cada um foi pro seu lado, e graças a Deus, ambos foram bem sucedidos. O grupo conquistou um novo público, assim como o cantor, que emplacou vários sucessos na carreira solo e virou um grande nome na música brasileira.

Como foi para você saber da doença dele?
Uma tristeza. Não sabíamos de nada quando ele saiu do grupo.

Consegue imaginar como seria Cazuza hoje, aos 50 anos?
Um pouco mais tranquilo, como um cinquentão que foi à guerra e voltou. Continuaria curtindo sua praia, tomandos seus drinques de vez em quando, exagerando vez por outra, escrevendo belas letras e nos contando que o dia ainda nasce feliz.


(5) Guto Goffi - totalmente inédita



Como você classifica a música de Cazuza para o sucesso do Barão?

De grande qualidade, a parte musical sempre foi mais responsabilidade do grupo.

Para você, como foi o dia em que Cazuza anunciou a saída do Barão?
Triste como tudo que é bom quando acaba.

Quais as transformações mais visíveis entre a obra de Cazuza, antes e depois da Aids?
Cazuza foi excepcional desde o princípio, o público é que demorou a perceber isso. Com a doença terminal e a piedade católica do brasileiro, todos resolveram tirar o chapéu pra ele. Graças a Deus, ainda em vida.

Como você soube da morte dele?
Já sabia que a hora estava chegando e quando ele morreu, fui avisado em minha casa.

Quais as suas lembranças do enterro?
Muitos amigos reunidos para uma última homenagem, como acontece em qualquer enterro de quem tem amigos.

Como Guto imagina que seria o Cazuza aos 50?
Um pensador, como foi Gilberto Freire, Darcy Ribeiro, etc... Estaria contribuindo muito para grandes mudanças sociais certamente.

De todos os discos da carreira de vocês nos anos 80, tem como eleger o preferido? Por qual motivo?
O primeiro tem um charme selvagem devastador e fez do Barão a maior banda de rock do Brasil.

(6) Gilda Mattoso e Marcus Vinícius (amigos pessoais e profissionais de Cazuza) - Totalmente inédita

Como vocês conheceram Cazuza?
Conhecemos Cazuza em meados dos anos 80, quando ele assinou contrato de carreira solo com a Polygram, gravadora onde faziamos assessoria de imprensa. Paralelo a isso, cruzavamos com ele nas noites do Baixo Leblon.

Vocês trabalharam com o Cazuza e acabaram amigos dele. Quais as características mais marcantes da "pessoa" que o "artista" escondia?
Cazuza nao escondia nada: sua irreverência, seu humor, seu lirismo, a fidelidade aos seus... enfim, a pessoa nao tinha nada diferente do artista.

Algum episódio interessante das parcerias de vocês por shows Brasil afora?
Fizemos uma viagem muito interessante com Cazuza, em sua última turnê pelo Nordeste, acompanhando uma equipe da extinta revista Manchete. Ele ja estava bem doente e fazia loucuras pra chocar as pessoas. Ele quis, por exemplo, fazer um piercing num salão de beleza bem careta no Recife. As madames ficaram em polvorosa.

Quais as mudanças que mais chamaram a atenção de vocês depois de Cazuza descobrir que tinha Aids?
Ficamos muito impressionados pela coragem dele de encarar, não só a doença, mas também a opinião pública, numa época que muito pouco se sabia sobre a doença. Além disso, costumavamos brincar que Cazuza estava tomando o soro da verdade pois tudo que lhe vinha em mente ele falava. Um dia, por exemplo, logo depois de termos sido despedidos da Polygram por razões meramente politicas, Cazuza cruzou no pátio da gravadora com o então presidente da mesma, um sujeito da África do Sul, muito careta, que disse: "Oi Cazuza, tudo bem?" Ao que ele respondeu de bate pronto: "Tudo bem é o caralho.... Você despede meus amigos e ainda me pergunta se está tudo bem?"

Como foram as manifestações da mídia depois da morte de Cazuza?
Foi uma onda enorme de solidariedade que seus pais, Lucinha e João, receberam de todo o Brasil. A midia, a exceção da Veja, foi muito respeitosa e até mesmo afetuosa.

Vocês imaginam como seria Cazuza aos 50? Qual seria o reflexo dessas mudanças na música dele?
Embora a gente continue a conviver com Frejat e outros contemporâneos de Cazuza, achamos difícil imaginá-lo grisalho, mais velho, mais sossegado... Conversamos sobre isso outro dia e acho que ele nao sossegaria nunca devido a inquietação natural que tinha.

Gilda, você me disse que passaria a Semana Santa com João e Lucinha. Como é a relação de vocês com a família de Cazuza hoje?
Nós fomos adotados por eles assim como os outros amigos queridos de Cazuza. Acho que faz bem a eles estarem conosco. Conversamos sobre Cazuza, como se ele estivesse aqui conosco, trocamos lembranças e tentamos amenizar a dor deles.



Gravador e máquina de escrever de Cazuza, preservados na SVC

Túmulo, no Cemitério São João Batista.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Gabriel Contino, O Pensador

Quando eu tinha 14 pra 15 anos (em 1997), descobri Gabriel O Pensador quando meu pai de me deu de presente o CD "Quebra-cabeça". Ouvia as músicas exaustivamente, como é comum sempre que descubro ou redescubro alguém (Cazuza e Lobão não me deixam mentir), chegando a levar reclamações da minha irmã, que quando não me ouvia cantando "dois, três, quatro, cinco, meia, sete, oito...", me pegava tentando decorar a letra de outra música.

O mais engraçado de lembrar desta época é que eu era muito inocente. A hermenéutica funcionava mal, confesso:

- "É a bola da vez, Elizabeth/ Dizem as más línguas que ela é boa de.../ Alô?/ Alô, a Beth tá?/ Tá, mas não pode falar/ Ela tá de boca cheia, eu tô comendo, rapá..."

[Destes versos, eu concluía que a moça estava comendo (gastronomicamente falando) e estava (literalmente) de boca cheia.]

Ontem fui cobrir o show do Pensador em Maracaípe, junto com minha nova companheira de masmorra e o fotógrafo. Todas essas experiências do jornal têm sido interessantíssimas. Primeiro, pelo fato de que eu nunca havia ido para um show na praia (exceto no Rio, quando fui ver Rita Lee em Copacabana). Depois, passo sempre longe de áreas vips (não por qualquer princípio ou frescuras assim, mas pela falta de dinheiro e de amigos influentes).

Esse tipo de "demarcação" esconde peculiaridades bem diferentes. Além do desfile de modelitos "fashion" (bem distantes daquilo que eu entendo como "próprios para praia"), uma distribuição gratuita de bebidas (o evento era patrocinado pela Montilla, que sugeria que todos "vivessem seu espírito pirata) e aquele clima de descontração forçada. Sei lá, algo assim...

Primeiramente o show foi uma prova de que a minha memória é, sim, das melhores. Ainda me lembrava de todas as músicas do meu antigo CD de estimação.

Parênteses:

Gabriel convida uma menina da platéia para acompanhá-lo em "2345meia78", fazendo as vozes femininas da música. Ela sobe e fica muda. Eu, na platéia, anotava algumas palavras-chaves que refrescam a memória na hora de fazer a matéria, e cantava toda a letra. Eis que o produtor me abordou e arrastou pro palco. Nem o aviso de que estava "à serviço" o convenceram de que aquilo não seria uma boa idéia, mas eu me safei. Sou ótima cantora, calada...


Musique-se

Cachimbo da paz

A criminalidade toma conta da cidade
A sociedade põe a culpa nas autoridades
O cacique oficial viajou pro Pantanal
Porque aqui a violência tá demais
E lá encontrou um velho índio que usava um fio dental
E fumava um cachimbo da paz
O presidente deu um tapa no cachimbo e na hora de voltar pra capital ficou com preguiça T
Trocou seu paletó pelo fio dental e nomeou o velho índio pra ministro da justiça
E o novo ministro chegando na cidade
Achou aquela tribo violenta demais
Viu que todo cara-pálida vivia atrás das grades
E chamou a TV e os jornais
E disse: "Índio chegou trazendo novidade
Índio trouxe cachimbo da paz"

Maresia, sente a maresia
Maresia, uuuuu...

Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça

Todo mundo experimenta o cachimbo da floresta
Dizem que é do bom
Dizem que não presta
Querem proibir, querem liberar
E a polêmica chegou até o congresso
Tudo isso deve ser pra evitar a concorrência
Porque não é Hollywood mas é o sucesso
O cachimbo da paz deixou o povo mais tranqüilo
Mas o fumo acabou porque só tinha oitenta quilos
E o povo aplaudiu quando o índio partiu pra selva
E prometeu voltar com uma tonelada
Só que quando ele voltou, sujou
A polícia federal preparou uma cilada
"O cachimbo da paz foi proibido, entra na caçamba, vagabundo!
Vamô pra DP!
Ê êê! Índio tá fudido porque lá o pau vai comer!"

Maresia, sente a maresia
Maresia, uuu...

Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça

Na delegacia só tinha viciado e delinqüente
Cada um com um vício e um caso diferente
Um cachaceiro esfaqueou o dono do bar porque ele não vendia pinga fiado
E um senhor bebeu uísque demais
Acordou com um travesti e assassinou o coitado
Um viciado no jogo apostou a mulher, perdeu a aposta e ela foi seqüestrada
Era tanta ocorrência, tanta violência
Que o índio não tava entendendo nada

Ele viu que o delegado fumava um charuto fedorento
E acendeu um "da paz" pra relaxar
Mas quando foi dar um tapinha
Levou um tapão violento e um chute naquele lugar
Foi mandado pro presídio e no caminho assistiu um acidente provocado por excesso de cerveja
Uma jovem que bebeu demais atropelou um padre e os noivos na porta da igreja
E pro índio nada mais faz sentido
Com tantas drogas porque só o seu cachimbo é proibido?

Maresia, sente a maresia
Maresia, uuu...

Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça

Na penitenciária o "índio fora da lei" conheceu os criminosos de verdade
Entrando, saindo e voltando cada vez mais perigosos pra sociedade
Aí, cumpádi, tá rolando um sorteio na prisão
Pra reduzir a super lotação
Todo mês alguns presos têm que ser executados
E o índio dessa vez foi um dos sorteados
E tentou acalmar os outros presos: "Peraí..., vamô fumar um cachimbinho da paz"
Eles começaram a rir e espancaram o velho índio até Até não poder mais

E antes de morrer ele pensou: "Essa tribo é atrasada demais...
Eles querem acabar com a violência, mas a paz é contra a lei e a lei é contra a paz"

E o cachimbo do índio continua proibido mas se você quer comprar, é mais fácil que pão
Hoje em dia ele é vendido pelos mesmos bandidos que mataram o velho índio na prisão