quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Papo furado de trânsito [1]

Saindo do jornal hoje, aproveitando para dar uma caroninha ao meu querido André Clemente e aproveitando mais de sua agradável [e sempre compatível] companhia, conversávamos sobre os professores figuras que tivemos na época da Católica. Foram vários, mas duas professoras especificamente têm espaço garantido no coração da gente. É uma identificação que temos, os dois, por pessoas que conseguem ser "grosseiras" sem perder a classe. Sabe a doce "acidez" de ser inteligente e chato? É isso...

É difícil de entender, então, vamos a elas. Por ordem alfabética.

Neide Mendonça é uma senhora (não arrisco chutar sua faixa etária, tenho medo), aliás, é a "senhora" da Língua Portuguesa. Mas digamos que ela é direta, curta e grossa. Prática. É ela mesma aí nessa foto, que eu achei ilustrando essa matéria do Diario de Pernambuco. Mas não se engane muito com o sorrisão não...

Contei eu a André que, quando pagava cadeira com ela, chegou o dia de apresentar trabalhos. Lembro de ter lido incansavelmente o texto que me cabia para não fazer feio. Não tinha um pé de gente naquela sala que não morresse de medo de Neide. Só que um teve a ousadia de chegar lá na frente da turma, pior, na frente de Neide, e começar a ler o texto. Ao que ela interrompeu:

- Meu filho, alfabetizado eu sei que você é. Se for pra ler, pode sentar. Não perdemos nem o meu tempo nem o seu.

[quem arrasa com um é ela!]

Então André me contou que quando ele era seu aluno, Neide perguntou em sala como a turma fazia para identificar um erro de grafia [nunca diga erro de "ortografia" perto de Neide, o fora é certo*], para identificar se uma palavra estava escrita de forma correta. Uma pobre alma respondeu:

- Professora, eu escrevo de várias formas e utilizo a memória visual para identificar a correta...

E Neide:

- É uma saída... de ignorante, mas é uma saída.

E André morreu de rir. Eu também.


Stella é o mesmo tipo. Aliás, é um tipo mais ameno, mas não menos ácido. Filipe (meu amigo Filipe Falcão) costuma dizer que Stella Maris Saldanha é a "dama da tv pernambucana". André e eu assinamos embaixo. A elegância passou por ali e ficou.

Pois então.

Stella foi professora da minha turma em três das quatro cadeiras que pagamos de televisão. Em TV 1, avisava logo que a leitura de "Chatô, o Rei do Brasil" era obrigatória e, pra piorar, com prova oral. E fez mesmo. Lembro até que tirei um 8, em companhia do eu amigo Rodrigo Raposo.

Mas vamos aos clássicos "stelísticos". 

Filipe contava (fique claro que não sei se é lenda) que certa vez, assistindo a um stand up de uma aluna, Stella interrompeu e disse:

- Algo em você incomoda ao telespectador, mas ainda não sei o que é...

E reviu o vídeo mais duas vezes, até que:

- Aaaaah... é que você tem os olhos 'assimétricos'. Eu não sei se é o caso de uma intervenção cirúrgica ou se uma maquiagem resolveria o problema.

[Nesse momento, André diz: palmaaaaaaaaaas!!!]

Em outra vez (essa eu estava na sala), ela virou-se para uma colega nossa e disse, com o script da matéria na mão:

- Minha filha, antes de qualquer coisa, sugiro que você faça um investimento em você. Compre uma gramática... seus erros de Português são inadmissíveis para uma aluna de jornalismo.

[momento tenso de silêncio...]

Num outro momento, também na nossa sala, Stella assistia a uma matéria de uma colega nossa. Até que aparece "Fofão", o dono de um dos bares do entorno da Católica. Digamos que Fofão não é das pessoas mais bonitas do Recife. Ele mais parece que pegou varíola... Stella então manda o pessoal parar a fita e diz:

- Minha filha, como é que você coloca um ser tenebroso desse no vídeo?

A "repórter" se zangou com o "preconceito" da professora, que deu logo um corte:

- Nada, menina, nada pode chamar mais atenção na reportagem do que a notícia. Nem você, nem seu cabelo, nem seus brincos e, muito menos, o personagem.

Mas Stella tem uma coletânea de frases impagáveis:

- "Olhe, Tatiana, sua matéria sai do nada para canto nenhum" - sim, essa foi comigo.
- "Você tem a voz infantilizada. E quem vai dar credibilidade a uma criança?" - essa foi com uma amiga nossa, Ana Patrícia.
- "Meu filho, o seu sotaque não precisa gritar: EU SOU DE CARUARU" - essa foi pra André.

Ai, ai... Neide e Stella são tudo! E que fique claro que são profissionais exemplares, excelentes mestras! Amor eterno às duas!

* segundo Neide ensinou: ORTOGRAFIA ["orto" - correta; "grafia" - escrita]

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"E eu vou ensinar a você tudo o que eu sei..."

Eu tenho um amigo que, vez ou outra, resolve filosofar sobre o universo feminino. Confesso que até agora não encontrei muita conexão entre as teorias de "Bonifácio" e as minhas verdades, mas as coisas são assim, tendem ao desencontro. Tenho muitos outros amigos homens e a nítida impressão de que eles entendem pouco nada sobre mulheres.


E falando nisso, estava lendo um texto sobre o filme “Comer, amar, rezar” de tanto ouvir as pessoas falando sobre o livro (homônimo). Eu ainda não vi, mas verei. Verei para atestar se não se trata de mais um clichê sobre o universo feminino, já tão incansavelmente debatido. Mas eu vou de boa vontade, já que o trailer é, digamos, inspirador.


[Dá até vergonha de dizer isso, machista que sou. Mas é isso mesmo. Deixemos a veia canceriana se sobressair um pouco]


A crítica de Martha Mendonça, de Época, destrincha um filme fácil de gostar, embora longo; fácil de gostar, embora livre dos clichês "novelísticos" que tanto buscamos,  mesmo que  inconscientemente.


[Penso nisso quando lembro do final de uma novela de Globo (sim, eu via, quando estava em casa à noite) em que a protagonista não terminava com seu par romântico oficial]


Pois então. Eu devo ir ao cinema ver o filme e, aí sim, dou minha singela opinião aqui. Estava em dúvida sobre a ordem: se lia o livro ou via o filme primeiro. Mas como Saramago ta na frente, melhor nem esperar.
Em Comer, rezar e amar, é uma mulher que cumpre essa jornada, que se torna ainda mais forte com o peso de ser uma história real. Para os homens, o fim da saga é geralmente feito de louros, poder ou dinheiro. Para as mulheres, depois da jornada e da tempestade, a bonança pode ser um homem que a faça feliz – e até atender pelo nome de Javier Bardem. E o melhor é ter toda a liberdade para dizer: e daí?
Não sei não. A cada dia, tenho mais dúvidas, mas ainda acho que há o que ensinar sobre isso. E aprender.



***

Eclipse oculto

A música é de composição de Caetano, eu sei. Inclusive, já falei dela em outro post.
Eu gosto demais na versão com o Barão Vermelho, mas para ouvir na voz do baiano, clica.

domingo, 26 de setembro de 2010

A valise mexicana*

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) através das lentes de Robert Capa, Gerda Taro e Chim (David Saymour). Tocante.
*Registro do ex-colega Alexandre Belém, aqui.


GERDA TARC – Multidão na porta do necrotério após ataque aéreo, Valencia, Espanha (maio,1937) – © International Center of Photography

sábado, 25 de setembro de 2010

Revivendo Jericoacoara

Então aproveitando que eu to aqui num banzo danado, faço um registro sobre a viagem à Jericoacoara, no Ceará. Já teve gente me perguntando o que precisava para fazer uma viagem dessas.
Pois vamos lá.

1. Uma dieta balanceada para aguentar 18 horas de viagem, desde o Recife, pegando carro, ônibus e jardineira







2. Arrume um motorista gentil, que torne a viagem o mais agradável possível




3. Aproveite os dotes de chef dos amigos





 4. O conforto do transporte local






5. A cidade dispõe de toda infraestrutura necessária para fazer da sua viagem o mais agradável (e segura) possível



6. Conte também com a solidariedade nos momentos de apuros






7. Animais exóticos e vegetação exuberante






8. Arquitetura de primeira






9. Paisagens inesquecíveis



10. Menu variado






11. Sombra e água (doce) fresca

12. Esportes radicais



13. E um banzo de leve, né?



14. De fato, um lugar de difícil acesso

Da série: coisas que só acontecem comigo

No momento, em Porto de Galinhas, hospedada num resort a convite da Chevrolet, que está fazendo o lançamento do novo Montana.
No momento, com febre e passando mal.

CAC, 21h

Como estão seus dias? Espero que bons, tão bons quanto os meus últimos dias. É esse clima de harmonia e equilíbrio que tem me deixado sem muito assunto. Creio que precise de extremos para produzir continuamente -  de noites mais longas de sono. Faz dias que começo e paro alguns textos, mas pretendo que, por ora, eles tomem seus rumos.

Ah, preciso contar que tenho gostado muito das últimas conversas - longas ou curtas - e parece que estou meio em osmose, no automático. Deve ser por isso que não tenho conseguido um raciocínio escrito completo. Lembra do que eu disse? Você aprendeu que, pra mim, tudo é motivo pra escrever. Apego-me à máxima rodrigueana: eu não tinha outro opção.

Ontem estava escrevendo sobre cores, mas não sei onde o texto foi parar; nem sei como começou. Também falava sobre drogas, na hora do almoço, e seus efeitos entorpecentes totalmente desnecessários. À noite, quando me dei ao trabalho de escrever, já depois de uma boa, longa e antiga troca, o que tentei foi juntar cores e o tal ópio. Quando estava chegando ao terceiro parágrafo e reli o todo, não entendi coisa alguma. E agora? Acho que desaprendi.

Sucumbi ao erro de guardar o texto, resistindo ao crime de modifica-lo, ao pecado de joga-lo fora. Pode ser que, depois, relendo as linhas eu possa apreender a hermenéutica e decifrar.

(...)

E gostei, tenho gostado de tudo. Tenho lido e ouvido coisas boas, coisas novas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

É pra cantar? Então, canta...

Tava vasculhando o blog da Folha Online, o Novo em Folha, e encontrei uma paródia bem simpática [e verdadeira] sobre as agruras de ter escolhido um caminho de pedras, de levar topada todo dia e, pior, achar que se é feliz com isso. 

Ê, profissão abençoada... Folha, eu te amo!

A letra é de Duda Rangel. Tem outras lá, .


O que será (versão de O que será)
O que será, que será?
Que passa na cabeça
De um estudante
Que busca uma carreira
Gratificante
Mas faz uma besteira
E cai no abismo
Esquece Engenharia
Faz Jornalismo
E vive a ilusão
Dos infelizes
Está na profissão
Das maluquices
Na área dos fodidos
Incompreendidos
Em todos os sentidos
Que vida terá?
Que nunca deu dinheiro
Nem nunca vai dar
Que nunca deu futuro
Nem nunca vai dar
Mas tem o seu fascínio


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Diga aquilo que é simples

Na minha lista de blogs preferidos (basta conferir aí ao lado), está o de Pedro Antônio de Oliveira. Ele é escritor e simples - é uma das melhores formas de usar as palavras.



Você vai entender. Para conhecer a Torre Mágica de Pedro, clica aqui.

domingo, 19 de setembro de 2010

Aquilo que o tempo (não) muda

Anos atrás, desejei veementemente que tudo continuasse como era. Que as cabeças fossem sempre as mesmas, assim como o entorno; lugares, pessoas, programas e sensações. Também já desejei que tudo fosse diferente, que o tempo voltasse - como se fosse possível retrocedê-lo - assim como posso fazer com as músicas que gosto muito. Volto pra escutar de novo, pra sentir de novo.

O problema é que os lugares mudam, as sensações desaparecem, momentos perdem sentido e as pessoas se transformam; ou pode ser que elas continuem as mesmas e, por isso mesmo, fiquem vazias.

Tenho impressão que mesmo que o antigo contexto não exista mais, as peças permanecem, ainda que sem lugar. Então vale parar e observar, sentir saudades. É saudável e justo.

O melhor é notar que nem todas as peças perderam seus papéis. Há aquelas que são recontratadas, retornam ao elenco, juntam-se às novas recém escaladas. O palco muda, o roteiro muda para que as sensações renasçam.

Mas ao contrário de antes, você já não tem o desejo que o tempo modifique seu caminhar. Prefere que ele se desfie, que entrelace e desvende cada novo ato.

Acho que quero uma música pra isso.

sábado, 18 de setembro de 2010

Música da semana [1]

O que toca incessantemente no rádio do carro

Disritmia
Composição: Martinho da Vila
Versão: Ney Matogrosso, Pedro Luiz e a Parede



(...)
Que bom ser fotografado
Mas pelas retinas desses olhos lindos...

Me deixe hipnotizado
Pra acabar de vez
Com essa disritmia

Vem logo, vem curar seu nêgo
Que chegou de porre lá da boemia...
(...)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Jericoacoara, um lugar de difícil acesso

É somente isso que eu conseguia pensar quando ainda não tinha chegado em Jericoacoara, aqui no Ceará.
Pense num lugar longe.
Pensou?
Pois ainda não chega nem aos pés de "Jeri".

Faz uns dois meses, um amigo me ligou chamando pra vir passar o feriado de 7 de setembro aqui. Negociações no trabalho depois, fechamos hospedagem na Pousada do Tadeu, até bem simpática, na rua principal de Jericoacoara.

Bem, Jijoca de Jericoacoara é uma cidade do estado do Ceará e a praia de "Jeri" faz parte de um parque nacional. Hoje fizemos um passeio bem legal a umas lagoas de água doce e, no trajeto, o que chama atenção é a quantidade de jegues. As lagoas do Paraíso e Azul são lindas, formadas, segundo o "bugueiro", pela água da chuva. Mas ainda insisto que o mais "exótico" de "Jeri" são os danados dos jegues. Acho que tem mais deles que visitantes por aqui.

A cidade está cheia, tanto que quase quase não conseguimos comprar passagens para voltar. Olhe, vale a pena registrar o que passamos para chegar até aqui. Eu não tinha ideia da "massada" que seria. Acompanhe:

1. Estávamos combinados de sair do Recife às 20h da sexta, mas Ulisses tinha que esperar o fim do julgamento do Caso Serrambi para poder sair da TV (vida de jornalista...). Reagendamos a saída para as 3h da manhã.
2. A senhora minha mãe faz um protesto (daqueles bem maternos) contra a nossa ideia de viajar de madrugada e acabou dobrando os meninos. Remarcamos a viagem para as 4h da manhã no sábado. E assim, fomos...
3. Chegamos em João Pessoa para pegar Priscila e trocar o carro. Deixamos o Palio de Ulisses e pegamos o Corsa de Priscila que enfrentou as oito horas de viagem até Fortaleza. Gustavo, macho que só ele (leia-se, teimoso), e nós chegamos na capital cearense às 15h30, a tempo de perder o primeiro ônibus rumo a Jijoca. A gente se organizou, tomamos banho na rodoviária de Fortaleza e embarcamos no ônibus das 18h.
4. Chegamos em Jijoca perto de 1h da manhã de domingo, depois que a minha paciência se esgotou com os vizinhos de poltrona que insistiam em conversar alto e me impediam de dormir. Ao meu lado, Ulisses, com um fone no ouvido, dormia lindamente. Eu já estava em pânico.
5. De Jijoca, pegamos uma Jardineira (algo que posso descrever como uma mistura de ônibus de linha com pau de arara). Gustavo disse que "só" faltava mais 1h20 de viagem. Eu ri, mas ele não estava de brincadeira não. A jardineira andava, só tinha mato, areia e escuridão e eu comecei a ficar enjoada do balanço. Foi uma eternidade. Contamos umas 15h até chegar aqui.

Avalie.

Amanhã a gente vai andar de buggy de novo. Dessa vez, com "emoção" e sem "skybunda". De acordo com Eduardo, nosso "bugueiro", Jericoacoara quer dizer "jacaré quarando com a cara para o sol". Muito poético.