sábado, 22 de janeiro de 2011

O crescimento da célula cancerígena

Eu não gosto de usar o já cansado termo "contraste" para descrever disparidades gritantes e seus metros quadrados, mas preciso admitir que, para este caso, o vocábulo é bem propício. Então, todas as vezes que você ouvir falar em "contrastes", pense imediatamente em Pernambuco. Estado que mais cresce no País, que cresce mais que o País, mas que consegue cultivar todas as discrepâncias que se espera de um rico em ascensão.

Nos cinco dias que estivemos (a repórter fotográfica Andréa Rego Barros, o motorista Raimundo Nonato e eu) percorrendo um traçado de estrada até Palmares, eu descobri um Pernambuco diferente daquele cantado em pautas no Palácio do Campo das Princesas, a sede oficial do Governo. E não é um sentimento de imediatismo que me decepciona. Ontem, decupando a fita com entrevista da assessora especial do prefeito de Ipojuca, Simone Osias, fiquei refletindo quando ela disse: "Quando chegamos aqui, em 2005, Suape já exista há mais de 20 anos e Porto de Galinhas, há 19 anos. Então fomos pra rua saber o motivo pelo qual as pessoas continuavam pobres". Faltava educação, deficit que continua.

As cidades do interior, que antes eram simples e pacatas, hoje têm aspecto de favela. E nem falo de Barreiros e Palmares, que estão ainda se recuperando das águas de junho, que arrancaram e destruíram tudo o que havia pela frente. A natureza não foi tão cruel em Escada e, afirmo, nunca vi cidade mais feia, maltratada e favelizada. Em Ribeirão, nem um lugar limpo para passar a noite encontramos - as únicas pousadas da cidade, três ou quatro, não tinham a menor condição de receber esse nome. São sujas, feias, cheiram mal.

Lembrei também de outro entrevistado, o economista ecológico Clóvis Cavalcanti. Eu estava fazendo uma especial sobre sustentabilidade, em outubro passado, e o questionei sobre o desenvolvimento do Estado, ao que ele respondeu: "é a mesma lógica da célula cancerígena, que cresce por crescer". É a melhor explicação. Ainda estou analisando os dados.

O melhor da minha profissão é o aprendizado diário, rotineiro. Diariamente, eu vejo coisas novas, mas, principalmente, todos os dias eu mudo de ideia. Todos os dias, há nova contagens, novas cifras e motivos de esperança e de revolta. A injustiça é muito grande e eu ainda tenho a inocência de me surpreender quando vejo alguém que chama de esperteza o que é oportunismo.

Pernambuco cresce, sim. O censo do IBGE já mostra o aumento da renda percapita, do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mas os números são muito mais generosos que o que se vê. O que temos é um crescimento atropelado, "com índices chineses", mas não estamos na China. Quando se para para conversar com as pessoas nas ruas, quando se questiona prefeitos, se percebe que este é apenas o começo. Bate uma desesperança. Desenvolvimento concreto é aquele que abre escolas, asfalta ruas, equipa hospitais e dá dignidade - não é só movido à indústrias.
Foto: Andréa Rego Barros

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Enquanto ela não chegar



Intérprete: Roberto Frejat (Barão Vermelho)
Composição: Guto Goffi e Maurício Barros

Quantas drogas eu ainda vou provar?
E quantas vezes para a porta eu vou olhar?
Quantos carros nessa rua vão passar
Enquanto ela não chegar?

Quantos dias eu ainda vou esperar?
E quantas estrelas eu vou tentar contar?
E quantas luzes na cidade vão se apagar
Enquanto ela não chegar?

Eu tenho andado tão sozinho
Que eu nem sei no que acreditar
E a paz que busco agora
Nem a dor vai me negar

Não deixe o sol morrer
Errar é aprender
Viver é deixar viver

Quantas besteiras eu ainda vou pensar?
E quantos sonhos no tempo vão se esfarelar?
E quantas vezes eu vou me criticar
Enquanto ela não chegar?

Eu tenho andado tão sozinho
Que eu nem sei no que acreditar
E a paz que busco agora
Nem a dor vai me negar

Não deixe o sol morrer
Errar é aprender
Viver é deixar viver

domingo, 16 de janeiro de 2011

Desmemoriado



E veja só, que coisa, você de novo a sonhar, planejar o que fazer, o que dirá. Planos já não faziam parte dos seus planos - se falassem de algo parecido, para você, era referência a um piso. Linear, reto. Sem curvas, sem níveis e sem voltas.

Em outros dias, outras vezes, era mais fácil pra você fingir estabilidade, como se fosse fácil fingir. Não assumiu o que queria e há tempos se arrastava. Avisei que era mais difícil agir assim, sem ser você o tempo todo, mas ninguém me ouviu - nem você nem os outros.

Por outro lado, você estava apenas agindo como a maioria. E é engraçado, não é? A maioria sempre se parece. Todas as suas partes, umas com as outras. Você quis ser diferente, mas acabou encharcado de mesmice. E por qual motivo não assumiria a fôrma? 

Outro dia me veio com aquele papo de eternidade. Logo você, tão efêmero. Logo você, tão volátil. Estava lendo Cecília e, como sempre, preferiu o caminho contrário. Mas eu te avisei, que se quisesse mais lógica, lesse Clarice. Seria uma troca justa.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Enquadramos no peculato?

Eu fico muito intrigada com a importância que se dá às coisas. Nesse jogo de ranking, o que deveria ser mesmo importante acaba, quase que invariavelmente, delegado a segundo plano. E não pense você que estou aqui novamente a desabafar sobre desagrados. Esta, sim, é uma posição consolidada, uma teoria firme com ano de "estudos" e análises.

Mas deixemos de arrodeios...

No final do ano - aliás, o fim de um ano eleitoral - o brasileiro foi estapeado com aquele aumento imoral dos deputados federais. Aqui em Pernambuco, os estaduais também se deram ao trabalho de reajustar o próprio rendimento. Se alguém aí conhecer palavra melhor que IMORALIDADE para definir tal conduta, me avise. Por ora, eu sugiro PECULATO, que me soa mais direto.

A imprensa divulgou o aumento, liderado por Inocêncio Oliveira, político da pior espécie, mas hoje, poucos dias após, do que nos ocupamos? Alguns, de reclamar o parco aumento dado ao salário mínimo - que deve passar de R$ 510 para R$ 540 (e nem um centavo a mais, já gritou Mantega). Outros, em desvendar os mistérios da nova vice-primeira-dama:


Ranking do site da revista Época

Ah, sobre o mínimo: o aumento de R$ 30 corresponde a 5,88% sobre valor atual. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano acumulando crescimento próximo a isso - até novembro, estava em 5,25%. Então isso significa que Lula, que herdou de FHC um mínimo de R$ 180 e injetou-lhe um primeiro aumento de 20%, termina seus trabalhos compensando a inflação. Ou seja, não fez mais do que manda a Constituição Federal. Aí o Governo Dilma começa com esse aumento de salários absurdo para essa raça indizível dos deputados?

E você com isso? E aí? Enquadramos no peculato?
Por ora, eu continuo esperando a reforma tributária...

domingo, 2 de janeiro de 2011

2010 - em imagens

O texto que abriria os posts de 2011 não ficou pronto. Com palavras, as coisas funcionam assim, já que têm meio que uma vida própria e só aparecem quando têm vontade.

Mas então, para resolver o impasse entre as minhas e as vontades da inspiração, escolhi outro caminho para relembrar 2010. Mas as palavras continuam no forno... só esperando o ponto certo.

1. Terremoto no Haiti

2. Morte de José Saramago

3. Chuvas em Pernambuco
 
4. Resgate dos mineiros, no Chile



5. Fim da Era Lula