segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Quais são suas saudades?

Estudei a vida toda no mesmo cantinho e aquele lugar está entre as maiores saudades que eu tenho na vida. Não do espaço, mas dos momentos; a sorte é que não tenho saudades das pessoas, que estão todas aqui. Mas eu ainda lembro dos jogos de futebol dos meninos, das partidas de dominó (deles), das aulas de educação física, das partidas de basquete, das fardas iguaizinhas, de cumprimentar "seu" Pedro, "seu" Henrique, "seu" Passira, "seu" Vicente. Saudades do pão de queijo da cantina, do cheiro de tinta guache, do vestiário da natação, das aberturas dos jogos internos...

Tenho muitas saudades nessa vida, ainda no início.

Morro de saudade da casa de vovó Gilcéia, um prediozinho caixão super charmoso na rua dos Navegantes, em Boa Viagem. A fachada era pintada de salmon, tinha janelões amplos e um corre-mão convidativo. Foi o meu primeiro reduto de boemia, que me ensinou aquela matemática: (pessoas amadas) + (boa música) + (muita comida) = felicidade plena. O edifício Julieta nem existe mais, mas eu ainda tenho a maior atração por prediozinhos caixão, charmosos e com cara de lar.

Morro de saudade do quintal de vovó Edda, o maior dos mundos, o reino da fantasia, a floresta, o reduto do jamais esquecido Apolo, companheiro fiel, como todo canino o é. Dos coqueiros (do coqueiro de cocos amarelos, imexível), das goiabeiras, das flores de vovó e do cantinho onde eu plantava caroço de feijão. Ah, as fogueiras de São João.

Vivo com saudades da casa da Barbie montada debaixo da bancada, daquela brincadeira incansável com Juliana. De montar a escola, arrumar mochila da todos os nossos 15 filhos, de fingir que a Xuxa era a empregada da Barbie e de achar muito estranho que a Chuquinha cabeçuda fizesse as vezes de filha. Eduardo, meu primeiro filho, continua no quarto. Hoje meio mofado, meio esquecido, com cara de pidão em cima da estante. Ele não viaja mais, nunca mais ganhou uma muda de roupa...

Saudade também de tardes de cinema aos domingos e de conversa boa, numa inocência de que as coisas poderiam progredir. De acreditar que não tinha como haver distância ali, que não tinha como não dar certo. Saudades dos suspiros e de achar que ele era a melhor coisa do mundo.

É, meu amigo
Só resta uma certeza
É preciso acabar com essa tristeza
É preciso inventar de novo o amor...


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

ROCK in RIO - eu disse que ia, eu fui

No voo de volta do Rock in Rio, vim pensando em como a sensação sobre as coisas mudam. Fiquei na fissura de ir ao festival porque ouvi, ainda pequena, a história da minha tia, Gilka, que foi para a primeira edição, de 85, meio sem querer (a gente contou essa história aqui). Tinha também aquela coisa Cazuza, "Pro dia nascer feliz" e algo do tipo Woodstock felings. Não foi bem assim.

Vamos combinar que, vislumbrando um festival de rock, uma programação excessivamente eclética dá ares de "vale tudo" (por dinheiro). Se estamos falando de rock, é no mínimo honesto que se corra (para longe) de tipos como Cláudia Leitte, Ivete Sangallo, Shakira, Rihanna e cia. ltda. Tenho nada contra, embora não consuma esse tipo de música, mas destoa excessivamente e nada disso tem a ver com rock. Comprei o ingresso no primeiro lote, ainda em 2010 (como registrei aqui), mas fui ficando desanimada a medida em que era divulgada a programação. Fiquei imaginando como seria ir a um festival de rock pra ficar vendo o povo pulando ao som de versos como "eu quero mais é beijar na boca". E, pra mim, quase tão importante quanto quem está no palco é quem está na plateia e público misturado acaba com o tesão da coisa.

E se você fosse projetar seu próprio festival de rock, que faria com o quesito areia + água = lama? Defina como quiser, mas pra mim, piso é coisa de boate e grama sintética, de campo society. Claro que aquele tapete de grama plástica quebrou o maior galho para descansar as pernas, mas também quebrou o climão. É tudo "confortável" demais para um festival de rock. Ok, pode dizer que Woodstock ficou em 69, mas você há de convir, tem tudo a ver.

Confesso que fiquei torcendo por um toró daqueles para desmanchar escova de gente modista metida a roqueira, mas que vai pra um evento daqueles montada num salto (!) e trabalhada na maquiagem tipo "baladinha" para ficar cantarolando aquele som meio emo do Cold Play. Sério: quase me senti um E.T. por ser do parco grupo de meninas que não tem cabelos loiros-e-alisados-quimicamente. São Pedro não me atendeu, mas eu adoraria ter visto nêga correndo da chuva pra não deixar o reboco cair.

Estou parecendo uma velha resmungona, mas é a ponta de frustração que me sobrou depois do Rock in Rio. Até porque, se o slogan era "por um mundo melhor", eu não vi nada de enaltecedor na quantidade de lixo (a proposta de sustentabilidade foi pelo ralo, porque papel era bóia) e nos preços absurdos das coisas (R$ 13 por um sanduíche - leia-se hamburguer, pão e queijo. Pra ter molho, mais R$ 2 | No mínimo R$ 80 por uma camiseta-souvenir de malha | R$ 5 por um copo de refrigerante de 300 ml), principalmente com aquela quantidade gigante de grandes patrocinadores: Claro, Itaú, Sky, Coca-cola, Niely Gold, Correios e até uma versão exclusiva de um perfume Paco Rabanne.




Pô, Frejat... de terninho?
FREJAT
Eu já confessei que escolhi o dia 1º de outubro por causa de Frejat. Gosto de Elton John, mas além dele não ser nada rock, estava super mal acompanhado no primeiro dia. Lobão, que era minha esperança, nem entrou na programação. Aliás, Frejat fez um show ótimo, mas ele continua, pro grande público, como a parte viva de Cazuza (e bastou cita-lo pra galera gritar). E ele ajudou, quando começou com "Exagerado", música de Cazuza na qual ele nem tem parceria. Na hora eu achei estranho, mas Frejat anda "diversificando" o repertório nessa fase da carreira solo, na proposta "Essa tal felicidade", fazendo a linha intérprete que é um desperdício. A surpresa pra mim foi ele cantar "Malandragem" (nunca tinha visto/ouvido) - aí sim, dele e de Cazuza - e a participação de Rafael, filho dele (de Frejat, claro), que toca guitarra muito bem. Mas, na boa, quando ele entrou no palco de terno, eu já perdi 5% do tesão. Confesso de novo: adorei o show! Skank (uma das bandas favoritas da minha irmã, Juliana) e Zeca Baleiro também fizeram bem o trabalho de palco.

AMÉM
Quem aproveitou o slogan positivista do Rock in Rio 2011 foi a comunidade evangélica do Rio de Janeiro, que pregou que, "Por um mundo melhor", "só com Jesus". A frase foi exaustivamente repetida em cartazes ao longo do caminho até a Cidade do Rock e distribuída em bilhões de panfletos-poluidores (claro, quem guarda panfletos?) com um textinho bizarro que li por cima, até eles misturarem religião com música e colocarem Jesus no meio.

No momento, eu estou vendo o show atrasadíssimo dos Guns'n Rose, que termina esta edição do Rock in Rio. Axl atrasou mais de duas horas e eu acho muito bem feito, já que a organização do festival, enaltece demais os artistas gringos. Sim, eles já anunciaram que o próximo Rock in Rio já está marcado, para setembro de 2013. Ingressos, claro, já podem ser comprados. Se vou? Aí é outra história.