quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ele, o Jornalismo, e suas agruras

Faz medo os sinais de abandono por aqui. Entro sem querer e me deparo com uma postagem de meses atrás. Aceito a acusação de que, realmente, perdi o prazer de escrever por prazer.

Colei grau e agora tenho registro de jornalista, o que me habilitaria a transcrever verdades que construiriam verdades. Mas depois de tanto sacrifício, financeiros e noturnos, querem cassar o meu diploma! É... aí bate um desânimo.
Raul dizia inúmeras verdades em Cowboy fora da lei e entre elas, os cortantes versos que escracham:


"Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz..."

Partidário da mesma idéia, Cazuza fora também taxativo em Medieval II (1986) quando disse:

"Eu acredito nas besteiras que eu leio no jornal..."

É o descrédito que, de tão grande e tão antigo, permite que se cogite a possibilidade de dispensar um jornalista de uma formação acadêmica, que o obrigue a conhecer seu compromisso social, as técnicas para o "fazer jornalístico" e algumas doses de ética. E talvez seja esse o ponto: embora devesse ser o norte de todo profissional, o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros para ter sido escrito em outro mundo, bem longe daqui.

Hoje, os jornais (aqueles conglomerados de mentiras e besteiras, segundo os poetas citados) divulgaram a concorrência do vestibular daqui. Jornalismo vem lá em cima da lista, com mais de 16 candidatos por vaga que sonham com alguma coisa a qual desconheço. Isso me faz pensar sobre os motivos pelos quais, entre tantas opções mais vantajosas (nas quais você ganha mais e pode até trabalhar menos), um ser opta por ser jornalista. Sem crédito, sem credibilidade, sem dinheiro e sem tempo...
Tive que responder a esta pergunta para a seleção do curso da Editora Abril e a resposta, tenho que confessar, não saiu satisfatória e não convenceu nem a mim mesma. Em 4 mil toques, eu teria que dissertar sobre quem sou e o porquê de ter escolhido o jornalismo como profissão. Oras! Tinha nada mais prático? Ainda não encontrei uma única criatura capaz de dar boas explicações pela escolha mal feita. Uma amiga que também fez o texto, começou o seu tratando da dificuldade do questionamento. Eu confesso [2]: Nunca tinha pensando sobre isso. Na verdade, eu queria ser médica e professora de português.
Agora, caro leitor, não sei se posso tecer comentário de total credibilidade, já que faço parte "dessa sub-raça safada". Todavia, devo registrar que este é um dos mals necessários e sendo tão atrelado à sociedade, só poderia ser "sua imagem e semelhança". Aprimorando, acaba sendo até um pouco mais fétido. O jornalismo tem dessas coisas.
Perdoem-me por talvez me colocar totalmente contrária aos seus eventuais conceitos. O fato é que sempre veremos com outros olhos, porém não menos críticos, a satisfação em noticiar, o orgulho de portar um nobre compromisso social e, ainda (embora para poucos, infelizmente), a missão de cumprir nosso papel de forma ética. Mesmo que, muitas vezes, ela ponha em risco nossos empregos. Parcos, mas vitais.
Confesso [3]: parece brincadeira.