quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Motivos para amar...

NELSON RODRIGUES

"(...)
Dona Amália passou os olhos sobre as folhas de cadernos, quase caíram-lhe os óculos ao ler uma delas e, por via das dúvidas, selecionou duas vencedoras e não uma. A primeira, de um garoto chamado Frederico, cujo sobrenome não passou à História, contava o passeio de um rajá no seu elefante. A outra - a de Nelson - era uma história de adultério. Um marido chega de surpresa em casa, entra no quarto, vê a mulher nua na cama e o vulto de um homem pulando pela janela e sumindo na madrugada. O marido pega uma faca e liquida a mulher. Depois ajoelha-se e pede perdão.

Quando recebeu e leu para si a redação de Nelson, dona Amália tirou os óculos e olho-o como como se tivesse diante de um aluno que ela nunca tinha visto. (...) A redação de Nelson não tinha como não ser premiada, mas não poderia ser lida em classe. Então premiou-se também a do rajá no elefante e só esta foi lida. Mas, intimamente, Nelson sabia que havia sido o único vencedor.

Duplamente, aliás, porque começara a redação com uma frase - "A madrugada raiava sanguínea e fresca" - tirada quase "ipsi literis" de um verso do batidíssimo soneto "As pombas", de Raimundo Correia. E dona Amália não percebera ou fingira que não.

O detalhe do plágio é importante porque, tanto quando a opção pela adúltera, esconde - ou, por outra, não esconde - um diabolismo que, até então, só dona Caridade, mãe da menina Ofélia, enxergara em Nelson, quatro anos antes. O adultério, em si, nem tanto: não há criança de subúrbio que não tinha sido contemporânea de um caso desses sem se impressionar. E as histórias como aquela, talvez com desfechos menos trágicos, eram frequentes na rua Alegre e adjacências, onde florescia uma vizinhança particularmente abelhuda e fofoqueira. O excepcional era Nelson ter se atrevido a pô-la em palavras numa redação escolar.

(...)"

*De "Anjo pornográfico", de Ruy Castro

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

No meio do caminho, uma mão

Que se chame ONU ou qualquer outra coisa. Pode ter o meu nome; ou o seu.
Para ler a história do pequeno grande Minhaj, esse somaliano de fibra, clica aqui.

E você ainda diz que não acredita em milagres?