quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

De volta, e perplexa

As perplexidades da minha cabeça, coitada, que parece não se acostumar com as coisas do mundo.
É bom estar de volta!
********

Reabro esse blog com perplexidade. Pela primeira vez em muito tempo, não escrevo diretamente no editor de texto online, mas em uma página totalmente em branco do word. Isso por que o sentimento já dito não me permitiu esperar o processo de logar para começar o desabafo. Se adiasse esse texto, ele não sairia com o tom de revolta que gostaria que tivesse. São 22h44 do dia 8 de fevereiro de 2007. Segundo mês desse ano novo que me parece terrivelmente igual a tantos outros que passaram.

Mas chega de firulas.

Chego em casa e sento em frente à televisão. Pego o final da minissérie e as chamadas do Jornal da Globo: Como assim um menino de seis anos foi arrastado por bandidos por sete quilômetros, por três bairros e por oito ruas do subúrbio carioca??? Como essa crueldade durou 15 minutos e passou, inclusive, por um quartel desativado e um hospital da PM???

É, foi o que aconteceu. William Waack parecia tão perplexo quanto eu na narração do fato, escalada por imagens do enterro da criança, em que se vê a mãe e a irmã em um desespero de murchar corações de pedra. Três acusados (a palavra “suspeito” não fora usada), entre eles um menor que teve o rosto desfocado, foram presos após a denúncia do pai de um deles (com essa última, vê-se que o mínimo de dignidade ainda sobrevive).

Eu já havia me revoltado com o assassinato do brasileiro Jean Charles, em Londres, pela polícia britânica. Não há explicação para um “engano” que mata um jovem eletricista, inocente, fuzilado com sete tiros, um deles na cabeça. – “É o combate OSTENSIVO ao terrorismo”, disseram. Hoje, paga-se com a mesma moeda, algo como o velho "olho por olho, dente por dente" e terrorismo com terrorismo. Nenhum dos acusados foi punido e o Itamaraty nada fez.

Cenas seguintes: você acorda e assiste a um enterro. Um casal de alemães foi encontrado morto em casa e os filhos choram, inconsoláveis, a tragédia. A polícia começa uma investigação minuciosa na mansão de Manfred e Marísia Von Richtonfen e estarrece a já vacinada sociedade brasileira: a filha mais velha do casal é apontada como suspeita, juntamente com o namorado e o irmão mais velho dele. Suzane e os Cravinhos virariam personagens de um fato real difícil de acreditar. O julgamento tornou-se um jogo entre defesa e promotoria, com direito a uma arquibancada que opina como se estivesse num estádio. O resultado final, concluído quase quatro anos depois do crime, deixa encarcerados os três acusados. Acabou-se o espetáculo e fecham-se as grades das celas, mas antes, há o fechar das cortinas. Claro!

Está tudo muito longe? Então, vou puxar a sardinha pro nosso lado. Desaparecimento em Limoeiro, aqui pertinho do Recife. A população faz passeatas, levando à cidade fotos de Laís, 10 anos, que foi e não voltou da escola. A família recebe notícias do paradeiro da menina no Recife, no Piauí... Nada era verdade e, apesar da demora, as pessoas não desistem de encontrar Laís e as buscas continuam. Assistindo a tudo isso, está o presidiário beneficiado pelo regime semi-aberto de detenção. Ele fora preso sob acusação de estupro, mas mesmo sendo esse um crime inafiançável, o juiz lhe permite a liberdade parcial (se é que isso existe).

Semanas depois, investigações mais tarde, a polícia chega ao suspeito e dele aos restos mortais de Laís. Quando digo “restos”, não estou usando de figuras de linguagens. Sejamos práticos no desenrolar dos fatos: 1) Ele rapta Laís, que voltava da escola pra casa; 2) A leva para um terreno baldio nas proximidades e a mata asfixiada; 3) Volta ao local do crime no dia seguinte e “viola” o corpo, já que não se pode, teoricamente, estuprar um cadáver; 4) Ele esquarteja o corpo, queima, espalha pelo terreno e joga pás de cal em cima, para “afugentar os urubus”.

Nos últimos capítulos, ele foi preso e acusou um outro como cúmplice. Populares tentam linxá-lo mas a polícia não deixa. Os jornais deram 1ª página por cinco dias às declarações da mãe do assassino, que foram de alegações sobre a insanidade mental do filho até pedidos de perdão à mãe de Laís. Os dois estão presos e aguardam o fim do inquérito. O que sobrou do corpo da menina foi exumado para comprovação final de que a ela pertencia, mesmo depois das confissões detalhadas.

Vocês me perdoem essa “volta” tão rude aos meus escritos aqui. Também me desculpem se fui “sensacionalista” demais nos relatos acima. Acho que, na verdade, não existem palavras para descrever a "sensação", por que algo como revolta, indignação ou raiva soa tão baixo, fraco e inútil quando perplexidade.

É. Volto ao meu espaço e me sinto impotente, na falta de uma palavra que descreva melhor.

Nenhum comentário: