segunda-feira, 15 de junho de 2009

É cada uma...

Meu ócio profissional tem sido de grande valia, pelo menos no que diz respeito ao que eu chamo de “acúmulo de experiência de vida”. Havia cinco anos, eu me dedicava única exclusivamente ao jornalismo e seus afins, então estar desligada dessa obrigação diária acabou de mostrando outras coisas. Claro que, se pudesse escolher, não teria optado por isso, mas já que estamos aqui, vamos aproveitar.

Fui intimada a prestar serviços na loja da minha mãe, agora no período de namorados. Mas não se engane, não é um mero passatempo. Sendo a loja pequena, certamente isso seria uma razão para que o trabalho, igualmente, fosse pequeno. Ledo engano... em épocas como esta, quando as pessoas tem motivos óbvios para presentear, a loja da minha mãe fica absurdamente cheia. Absurdamente entupida de gente...

Pois bem. Apesar de fazer parte de uma família voltada ao comércio, de certo, esse dom não veio adicionado aos meus genes. Além de não ter poder de persuasão para fazer alguém comprar, a paciência não é lá meu forte. Minha mãe sabe disso, então me poupa de ficar no balcão e eu fico bem instalada na embalagem. Uma semana inteira fazendo pacotes, embalando presentes.

Vamos em frente.

Sendo a loja pequena, por ora, forma-se uma enorme aglomeração. Eu olho pra fora e vejo a fila da embalagem atravessando o salão de uma ponta até outra. Bate o desespero. Pior é a criatura, mesmo vendo a multidão, insiste:

- Não pode ser embalagem prateada?
- Não, senhora, não tem deste tamanho...
- E aquela dali?
- Essa é o tamanho extra-grande, senhora. Não tenho como embalar seu chaveiro dele...

Tem quem reclame da embalagem quando eu já terminei todo trabalho. Ponho um papel cheio de corações, um laço vermelho bem fofo, colo o adesivo da loja, e...:

- Moça, esse presente é pra um amigo. Essa embalagem ficou muito gay!
- ...

O melhor do comércio, particularmente esses que ficam no centro da cidade, é ter que lidar com todo tipo de gente. Ok, não é “o melhor”, mas é interessante.

Dia desses, chega uma senhora com um pacote de uma loja de sapatos, querendo um laço para incrementar. Prontamente, a atendi. Aí ela olha pro balcão e vê um sapo de pelúcia de um cliente que estava no caixa. Drama um:

- Ah, eu quero esse sapo...
- Senhora, este sapo já tem dono, aqui é o balcão da embalagem.
- Ah, mas eu quero esse mesmo. Tome o dinheiro
– diz, me empurrando uma nota de R$ 50.
- Senhora, infelizmente este já está vendido. Se a senhora quiser, pode pedir um no balcão de pelúcia. - Completei, vendo o ar de aflição do verdadeiro dono do sapo, que esperava logo atrás.

Tardelle correu e trouxe outro sapo, mas não teve jeito. Drama dois:

- Não... esse é feio – disse a senhora, sobre o sapo EXATAMENTE IGUAL ao outro – eu quero aquele.
- Mas aquele é desse senhor
– explicou Tardelle, com toda paciência.
- Então eu não quero nenhum. Vou comprar em outra loja...
- Fique à vontade, senhora.

Nessa, eu já tinha me retirado, com o sangue em ebulição. É cada uma...

Mas nem só de aborrecimento vivem aqueles que vivem do comércio. Há também alguns fatos engraçados que ajudam a desopilar. Já no dia 12, passando das 19h, chegam dois rapazes que haviam comprado duas caixas e me pediram que ajudasse a acomodar os presentes nelas. Então me deram uma rosa [aquelas “solitárias”, embaladas individualmente] – eu medi, cortei o talo, amarrei e pus nas caixas. Era apenas uma parte do presente, composto ainda por um sutiã preto e uma calcinha microscópica. Com certeza, eu não caberia numa daquelas nem em 5 mil anos de dieta.

Caixa devidamente fechada, os dois, agradecidos pela minha “destreza e habilidade”, me ofereceram R$ 5 de gorjeta, que eu, educadamente, rejeitei.

- Obrigada, senhor, mas não precisa. Espero que seu presente faça sucesso.
- Vai fazer, moça... mais do que sucesso.

E sairam gargalhando.
É cada uma....


SUCESSSO Nem em 5 mil anos

Nenhum comentário: