Transforme o seu maior hobby em ofício diário e, OU você terá orgasmos intelectuais todos os dias, OU terá dores - principalmente as de cabeça. Falo isso por experiência (profissional) própria.
É comum ter que responder sobre o porquê de ter escolhido minha profissão (e, ademais, de ter reiniciado a vida de graduanda num "singelo" curso de Letras) e costumo dizer que o sentido foi inverso. Certeza absoluta que ela me escolheu, que não havia outra saída pra mim; nem pra ela.
Aliás, poderia não ter me tornado jornalista nunca, já que a primeira vez que fui "lida" me causou incômodos enormes. Era 1994 e eu, sentimentalóide, escrevi no meu "querido diário" um texto sobre a morte de Senna. Por azar ou sorte, deixei o diário à mostra e minha mãe não só o leu como, comovida com minha veia cronista (ou pelo lado materno dela), ligou pra metade da família. Comoção geral. Indignação minha, que arranquei as páginas e joguei-as fora.
(Lembro que o texto terminava assim: "...e doía no peito aquela tão enorme perda. E com ele, Senna, todo o Brasil morreu". Concorde comigo que isso soa cafona, piegas, mas podemos levar em consideração que eu tinha somente 11 anos. Hoje, acho que isso é culpa da radiola de vovô e sua mania de Lupcínio Rodrigues e Ademar Dultra)
Minha segunda leitura pública foi anos depois, em 98. Era dia de devolução de redações corrigidas no Salesiano. A professora Leodila (ah, Léa! Saudades) chamou todo mundo e nada de me chamar, até que pediu atenção pra ler uma "redação muito bem feita e contundente" e eu gelei quando reconheci meu título. Lembro que o texto falava sobre cidadania e a cada parágrafo, eu ficava mais vermelha e mais me abaixava na cadeira.
No final da época do colégio, estava certa do meu destino indisviável de fazer Letras e me tornar professora de Português. Naquela época, meu amigo Ulisses e eu fazíamos o jornal dos terceiranistas e foi por causa dessa experiência que eu me inscrevi no vestibular pra Jornalismo. Passei, detestei e decidi fazer vestibular de novo pra Publicidade, Medicina ou Fisioterapia - o que passasse primeiro.
Mas não passei. Então, dois anos depois, reabri o curso, voltei, meio sem querer. Não tinha dinheiro pra assumir as despesas, mas nada que o coração materno (e uma bolsa de estudos e uma tia fiadora) não desse jeito. E na primeira vez que entrei em uma redação de jornal, encontrei razão para tudo. Hoje eu (re)entendo isso - todos os dias.
Então tô aqui hoje, assim. Todo dia eu tenho surtos de raiva, quebro a cabeça, escuto coisas que não entendo, descubro, revelo, reporto, aprendo. E sou tão feliz pelo que sou.
É, a gente fez as pazes. =)
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Assim que postei, eis:
Dá pra rir. Aqui, gente, não tem meio termo. É na base do "ame-o ou deixe-o".