sábado, 24 de maio de 2008

Três irmãos de sangue e vida

A diretora, com os três
Assinei a newsletter da gravadora Biscoito Fino para receber as novidades de lançamentos em CD e DVD e, quem sabe, aproveitar algum como sugestão de pauta para o jornal. Já na primeira semana, fiquei sabendo que iriam lançar “Três irmãos de sangue”, um documentário sobre a vida de Betinho, Henfil e Chico Mário.

Aceita a pauta, fiquei descansada até descobrir que a ela fora destinada à capa de domingo (passado, dia 18). Então, peguei contatos e sentei ao telefone para uma boa conversa com a diretora Ângela Patrícia Reiniger (foto acima). Na entrevista (ela lá – no Rio – e eu cá), Ângela tentou me explicar todo o processo de feitura do documentário, desde a gênese, na cabeça do filho de Chico Mário, Marcos Souza, até o recolhimentos de entrevistas, imagens e filmagens em locações. Ao final da conversa, a diretora me prometeu uma cópia do filme, que chegou às minhas mãos ainda naquela semana, infelizmente, depois que a matéria já havia sido finalizada...

Então... é esse o motivo deste post: me redimir dos detalhes que a “ignorância” sobre a construção desta película fez estar ausente da minha matéria.

Primeiramente, o quão (aparentemente) esquecidas estavam figuras tão... (pausa para escolher o predicado adequado) exemplares. Sim, porque exemplos são muito tocantes, principalmente quando sabe-se que o ser humano viveu aquilo que pregava. E esse é o caso dos três.

Hebert, Henrique Filho e Francisco Mário eram irmãos, mineiros, hemofílicos e morreram, os três, em decorrência da aids. Vale lembrar que a infecção foi causada pelas transfusões de sangue que tomavam regularmente; talvez por um “lote” de sangue contaminado. (pausa para reflexão) Imagine, você, ser contaminado por descaso alheio, por um vírus letal que assolava e matava. Era o meio da década de 80. Henfil foi o primeiro a ficar sabendo que estava contaminado e morreu pouco tempo depois. Chico Mário foi o segundo e Betinho, o último, conviveu com a doença por quase 11 anos (de 86 a 97), quando morreu em casa, no Rio.

Mas vamos deixar esse assunto de aids pra lá, porque quando se trata deles há muito mais se dizer.

Henfil (abaixo, com a mãe, Dona Maria) era humorista, cartunista, tinha ideologias e lutou por elas até o fim. Sabe aquela música de João Bosco e Aldir Blanc, famosa na voz de Elis, “O bêbado e a equilibrista”? Pois bem, o verso “...meu Brasil/ Que sonha com a volta do irmão do Henfil” foi inspirado na seção que Henfil assinava na revista IstoÉ, chamada “Cartas à mãe”. Nela, uma foto de Dona Maria, mãe dos três, apaziguava qualquer reação às manifestações do colunista, que usava o meio para tratar de política e de assuntos que poderiam ser censurados pela ditadura, então vigente. Betinho estava exilado e a sessão de Henfil acabou dando cara aos demais “apatriados”.
Chico Mário (abaixo) era sensível e marcante, não pela boca grande que tinha (no sentido físico da palavra) e que o caracterizava (pelo menos me chamou atenção), mas pela mágica musical que conseguia fazer com violão em punho. Eu sou verdadeira adoradora de música, mas nunca ouvira falar que o irmão de Betinho era um músico de tamanha qualidade. O filme tem umas cenas de close nos dedos de Mário, que quando dedilhavam, prenderam totalmente a minha atenção.


Betinho (abaixo) morreu em 97, como eu disse acima, e eu me lembro dele falando na televisão. Já sabia que ele estava à frente do Ação, mas nem desconfiava da grandeza daquele homem franzino, calvo e de olhos cavados e de visão profunda. Aliás, a Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria é algo tão de função tão óbvia que me incomoda. Por sinal, até o dia 30 de maio, no site da instituição, acontecem inscrições para o Prêmio Betinho de Democracia e Cidadania 2008. E, sinceramente, espero que eles tenham muitos a premiar.



O símbolo da ONG (ao lado) é cruel de tão realista, mas de uma dor que você, com certeza, nunca sentiu. Mas, talvez por ser tão vital, a dor da fome nunca passa impune aos olhos.

Voltando ao filme – “Três irmãos de sangue” não tem pecados. Quando se pensa que o filme começa a esmorecer, vem uma lição. E uma história que tinha todas as ferramentas para ser piegas, tamanha as desgraças que se sucederam na vida de Betinho, Henfil e Chico, é de uma beleza especial. Emociona, mas não arranca lágrimas de tão sóbria é sua narrativa. E quando o filme acaba, com Betinho dizendo que a morte não é o mais importante, mas que se continuem as lutas, fiquei com vontade de fazer alguma coisa.

E como temos sempre a tendência a achar que não temos nada com isso (ou com qualquer coisa que se passe além do vidro do nosso carro), talvez por termos a sensação que não podemos resolver nada sozinhos, o sociólogo Betinho, ensina:


“Houve um incêndio na mata e os animais corriam para se salvar. Foi quando o leão viu um beija-flor que pegava água no rio, jogava a água no fogo e voltava pro rio. Então o leão perguntou:

- Você não está vendo que não vai conseguir apagar esse fogo sozinho, beija-flor?
- Sim, eu sei que não posso resolver esse problema sozinho. Mas estou fazendo a minha parte”.



Ação do Recife

Comitê Pernambuco Solidário
Coordenador estadual: Anselmo Monteiro da Silva
Tel.: 3226-0063 Comitê / (81) 3074-1945 (res.)/ (81) 3273-0548 (rádio)
Cel.: (81) 9979-9716 / (81) 9114-9716
E-mail:
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End. Comitê: Av. Caxangá, 2.200- Cordeiro - Recife (Parque de Exposições do Cordeiro)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

E falando em música...

E nesses quase findos tempos de JC, me mantive sempre atenta ao comportamento dos colegas de caderno, especialmente uma figura peculiar que sempre me faz rir. Quando ele escreve sobre música, fico atenta a cada um das críticas (sempre ferrenhas e carregadas de um vocabulário bastante peculiar); quando ele fala, levanto bem as orelhas (ou as abaixo, seguindo aquele ditado que diz que "quando um burro fala, o outro abaixa as orelhas") para não perder nenhuma das palavras proferidas por ele na velocidade da luz.
Esse meu colega (olha, que orgulho!) trabalha no jornal há anos e isso me deixa mais ainda com cara de besta. Toda vez que eu estou fazendo uma matéria sobre música, ouso chamá-lo para uma assessoria rápida. Aí ele olha meio cabreiro pro texto, senta e começa a digitar. E fica massa! Um dia, assinarei uma matéria com ele...
Ainda dedicarei um post neste espaço somente para registrar grandes feitos deste colega em nosso ambiente de trabalho. Não que ache que vá interessar a alguém, mas eu preciso disso para rir e me lembrar em alguns anos. Ah, o nome dele não foi dito aqui pelo simples motivo de que ele pode se zangar por eu estar usando seu santo nome em vão (mas você pode clicar no título que rapidinho aparece a cara o cidadão)!

Bem, mas o objetivo desse post aqui é mostrar o grau de criticidade e humor do meu colega. Fora que eu concordo em "gênero, número e grau" com tudo o que ele escreveu nesta edição da sua coluna Toques digitais. Recomendo também a leitura dominical de Curto & Grosso. É ótima!

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A música dos valores perdidos


"Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!". A maioria, as moças, levanta a mão.

Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são "gaia", "cabaré", e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.

O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhando uma música da banda Calypso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Foi daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de "forró", e Ariano exclamou: "Eita que é pior do que eu pensava". Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou.

Pruma matéria que escrevi no São João passado, baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém, esta "desculhambação" não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de "forró" (parafraseando Luiz Gonzaga, "as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde"). Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.

A cantora Ceca foi uma espécie de Ivete Sangalo do turbo folk (ainda está na estada, porém com menor sucesso). Foram comprados 100 mil vídeos do seu casamento com Arkan, mafioso e líder de grupo para-militares na Croácia e Bósnia. Arkan foi assassinado em 2000. Ceca presa em 2003. Ela não foi a única envolvida com a polícia, depois da queda de Milosevic, muitos dos ídolos do turbo folk envolveram-se com a justa pelo envolvimento com a poderosa máfia de Belgrado.

A temática da turbo folk era sexo, nacionalismo e drogas. Lukas, o maior ídolo masculino do turbo folk pregava em sua música o uso da cocaína. Um dos seus maiores hits chama-se White (a cor do pó, se é que alguém ignora), e ele, segundo o Guardian, costumava afirmar: "Se cocaína é uma droga, pode me chamar de viciado". Esteticamente, além da pouca roupa, a sanfona é o instrumento que se destaca tanto no turbo folk quanto no chamado forró eletrônico, instrumento decorativo, ali muito mais para lembrar das raízes da música tradicional. Ressaltando-se que não se tem notícia de ligação entre bandas de "forró" e crime organizado. No que elas são iguaizinhas é que proliferaram em meio a débâcle de valores estéticos, morais, e éticos, e despolitização da juventude. Com a volta da governabilidade nas repúblicas da antiga Iugoslávia, o turbo folk perdeu a força. Vende ainda, porém muito menos do que no passado. Hoje é apenas uma música popular para se dançar, e não a trilha sonora de um regime condenado por, entre outras lástimas, genocídio.

Aqui o que se autodenomina "forró estilizado" continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem "rapariga na platéia", alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é "É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!", alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Lição de moral I

Eu recebo umas frases de efeito, textos de auto-ajuda e coisas afins na minha caixa de e-mail. Geralmente, elas acabam na lixeira eletrônica, simplesmente por que eu não acredito que terei 200 anos de azar se não encaminhar tal e-mail para 5 mil pessoas e coisas do tipo.
Também acho macabro quando as pessoas encaminham avisos que traficante de órgãos em boates, seringas contaminadas em cadeiras de cinema e seqüestros nos quais os bandidos, após receber o resgate, devolvem a vítima totalmente contaminada, com num sei quantos tipos diferentes de doenças.

Bem, o pretexto deste texto (ui!) é dar utilidade a uma destas muitas mensagens que recebemos todos os dias, mas que, lida com atenção, faz você pensar: "Como é que eu não pensei nisso antes?"

Pois é...

Uma mulher acordou uma manhã após a quimioterapia, olhou no espelho e percebeu que tinha somente três fios de cabelo na cabeça. "Bom", ela disse,"acho que vou trançar meus cabelos hoje". Assim ela fez e teve um dia maravilhoso.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e viu que tinha somente dois fios de cabelo na cabeça. "Hummm", ela disse, "acho que vou repartir meu cabelo no meio hoje". Assim ela fez e teve um dia magnífico.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que tinha apenas um único fio de cabelo na cabeça. "Bem", ela disse, "hoje vou amarrar meu cabelo como um rabo de cavalo". Assim ela fez e teve um dia divertido.
No dia seguinte, ela acordou, olhou no espelho e percebeu que não havia nenhum fio de cabelo na cabeça. "Yeeesss", ela exclamou, "hoje não tenho que pentear meu cabelo".

Atitude é tudo! Seja mais humano e agradável com as pessoas. Cada uma das pessoas com quem você convive está travando algum tipo de batalha. Viva com simplicidade, ame generosamente. Cuide-se intensamente, fale com gentileza e, principalmente, não reclame.
Se preocupe em agradecer pelo que você é e por tudo o que tem!

domingo, 4 de maio de 2008

Especial - 50 anos de Cazuza II

Arquivo N, da Globo News, em homenagem a Cazuza!

"Em busca do borogodó perdido"

Dia desses, no meio a um garimpo no GRANDE acervo de livros numa das (várias) Lojas Americanas do Recife, me deparei com um exemplar "exemplar" da grande literatura mundial. Estava por lá, jogado como grande parte dos outros livros, alguns já sem capa, sujos e maltrapilhos, ansiosos por serem lidos (afff, terrível), mas este me chamou a atenção por conta do título, bastante inquietante. Então, registrei-o com a minha fabulosa câmera de celular, seguindo a inspiração do meu amigo Carlos Leite em um post.



Como disse, fiquei inquieta com o tal do borogodó, então fui fazer uma pesquisa a respeito para maiores esclarecimentos aqui. Achei um blog interessante falando sobre o assunto. Segue alguns trechos:
"Que me desculpem os belos, mas BOROGODÓ é fundamental. Sim, Vinícius estava errado quando falou que era a beleza. Ele ainda não conhecia o borogodó. Fenômeno interessante que acontece com alguns mortais que não nasceram com o padrão estético vigente, mas são dotados de um brilho que chama a atenção de qualquer um. Com certeza você já ouviu falar desse magnetismo que certas pessoas exercem sobre outras. Quem tem borogodó faz os outros pensarem em sexo a um simples olhar. Dá vontade de querer conhecer, saber se é só impressão ou a pessoa é aquilo tudo mesmo. É um desejo movido pelo mistério, pelas fantasias que o outro nos inspira..." (Estranho mundo de Lena)
Eu curti esse negócio de borogodó...
Fica a pergunta: Você já encontrou seu borogodó perdido?