sábado, 31 de janeiro de 2009

*Astúcia, manha, subtileza; subterfúgio...

- Um pouco de vinho quente com biscoitos...
- Obrigada.
- Acho que fui muito duro com a garota do copo de água. Me conta: o garoto com quem ela cruzou... eles se reviram?
- Não. Eles não se interessam pelas mesmas coisas.
- Sabe? A sorte é como o Tour de France. Esperamos tanto e passa tão rápido. Quando chega a hora, é preciso saltar sem hesitar.

(...)

- Senhor, quando o dedo mostra o céu, o imbecil olha o dedo.

(...)

- Então é este, com a mão pra cima?
- Sim.
- Ela está apaixonada por ele?
- Está...
- Acho que está na hora de ela assumir o risco.
- Justamente, ela está pensando em um estratagema*...
- Ela gosta disso. De estratagemas.
- Sim.
- Na verdade, ela é um pouco covarde. Acho que é por isso que não consegui captar seu olhar.


Mulher sem razão

Composição: Dé Palmeira, Bebel Gilberto e Cazuza


Saia desta vida de migalhas
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou

Caia na realidade, fada
Olha bem na minha cara
E confessa que gostou
Do meu papo bom
Do meu jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar

Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
No final da tarde
Ouve aquela canção
Que não toca no rádio

Pára de fingir que não repara
Nas verdades que eu te falo
Dá um pouco de atenção

Parta, pegue um avião, reparta
Sonhar só não tá com nada
É uma festa na prisão

Nosso tempo é bom
Temos de montão
Deixa eu te levar então
Pra onde eu sei que a gente vai brilhar

Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
Batendo travado
Por ninguém e por nada
Na escuridão do quarto
Na escuridão do quarto

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Trocando em miúdos, pode guardar....

Querido Guy,

As coisas por aqui não andam muito fáceis, mas começaram bem mais difíceis. Nem bem cheguei na rodoviária e já lá vieram os aborrecimentos. Bilhete comprado, cheguei à plataforma de embarque, adentrei o ônibus e alguém estava sentado no meu lugar. Tentei argumentar, mas a senhora (de uns 80 anos, calculo, e com elefantíase nas duas pernas) me ignorou. Pacientemente, aguardei por um lugar vago, que acabou sendo um ao lado de uma criança de três anos.

Bem começou a viagem, eu percebi que seriam longas e duras horas. Depois de ver o pequeno troglodita devorando um pacote de biscoitos inteiro, tive que me conter quando ele pôs-se a dormir a achou de esticar as canelas em cima de mim. Praguejei, usei todo meu acervo de palavrões, peguei três comprimidos de Dramin e tomei num gole só. Dose é que não consegui dormir de jeito nenhum, mas fiquei num estágio latente de dormência/demência.

Olhei pro relógio: 3h23. Sem conseguir me mexer direito, tateei na bolsa o meu mp3 e pus Chico Buarque para cantar. E fiquei viajando na dele...


Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu...

Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim
O resto é seu...



Aí, "trocando em miúdos", eu fiquei filosofando água,
observando a estrada que passava pela janela e
servindo de encosto pros pés do meu companheiro
de poltrona. Mas aí,Guy, é nessas horas que a
gente deixa o pensamento fluir.
Pode ser bom, mas pode causar um desconforto enorme.
Grande parte das vezes, eu fico perdida, pensando
em várias coisas ao mesmo tempo. Aí dá uma insônia,
uma insegurança danada, um misto de
sentimentos que você nem sabe de onde vêm. Pessoas também
vagueiam nesses meus pensamentos.
Algumas, eu não sei por onde foram; outras, não sei onde coloquei.


Me comunicarei sempre com você. Assim que chegar, recolher a bagagem
e reconhecer o entorno, te ligo. Mas vê se te desliga desses problemas aí.


Beijos.
Elis

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cenas do próximo capítulo

São incontáveis noites de palavras, versos e contos. O desconforto já deu lugar à tranquilidade, da pacificidade daqueles quem têm pouco ou nada para esconder. Do momento propício fez-se um outro da mesma angústia confortável. Aquela frustrante sensação de vislumbre, do mesmo sentimento carnal, espiritual, emocional, imutável.

Pensa, então, depois do fato consumado não-consumado, na origem da lacuna. É porque a perfeição simplesmente não existe, então seria melhor tomar o impulso como conselheiro a ficar calculando o instante certo. Ele nunca chega a não sei que você decida: é esse!

Mas momentos servem para fazer pensar. Não apenas pra refletir sobre o foi ou o que deixou de ser, mas no que será mais adiante. Daqui pra frente... o que será daqui pra frente? É um caminho sem volta, correto?.

É bom quando a gente pára pra pensar, mesmo que pôr os pensamentos no papel não seja das tarefas mais fáceis. Não como antes.

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Nota: Um momento insone em meio a madrugada mais três horas desta manhã e nada. Compreendemos que não dá mais pra racionalizar.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Claridade

Passei o ano inteiro lendo trechos do livro “Clara Nunes – Guerreira da Utopia”, de Vagner Fernandes. Não, o livro não é ruim, pelo contrário, é uma história instigante de alguém que criou a si própria, mudou tudo e ganhou a todos. É a história de Clara Francisca, mineira, que virou Clara Nunes, brasileira. Brasileiríssima.

Em sua narrativa, Vagner abre espaço para todos aqueles que conviveram com a cantora Clara Nunes, mas também com a Clara mulher, fã, ídolo, irmã, amiga, esposa. Criou merecidos floreios, destrinchou uma infância pobre, seu apogeu pela Música Popular Brasileira (da música romântica, passando pelo forró e pelo samba, sua marca) e a apoteose. A vida de Clara foi um samba, partido de altíssimo nível, que deixou seus registros em muitos outros ritmos.

Quando li o capítulo que conta sobre sua morte, fiquei voltando ao início, como se tentasse mudar o fato consumado. Talvez por ser muito difícil de acreditar que tudo aquilo que foi Clara tenha se esvaecido por tão pouco. Como não pôde ser mãe (devido a cistos no útero), sobrou-nos da cantora sua voz, seu misticismo, sua figura marcante. Não tenho como ponderar a comoção que sua partida gerou, aos 39, mas sendo ela tão presente e baseada nos relatos do autor, arrisco-me a dizer que foi uma perda irreparável. Primeiro, por que ela não deixou herdeiros sangüíneos nem musicais; segundo, por que ninguém, jamais, conseguiu imita-la. Ficou um enorme vácuo.

Em tempo: Clara Nunes morreu em abril de 1983, depois de sofrer um choque anafilático durante uma cirurgia de varizes. Passou 28 dias em coma até ser declarada morta pelos médicos. Curandeiros, rezadeiras, pais-de-santo, gente de todo tipo de amontoou no hospital querendo levar cura à cantora.

Tudo bem. Não houve quem substituísse Maysa ou Elis (apesar de Maria Rita). Também não enxergo suplentes para Gal, Betânia, Nana Caymmi. Talvez estejamos numa entressafra, salvo algumas minguadas exceções.

Abaixo, um dos grandes sucessos de Clara, Feira de Mangaio. Excelente interpretação de alguém que cantava com gosto e com alma. "Clara Nunes - Guerreira da Utopia" é uma leitura mais que recomendada àqueles que apreciam a boa música.


Salve Clara Nunes!


Sobre Clara:

“À Clara foi negado o direito de ter um filho. À Clara foram negados tantos direitos em troca dos aplausos que ganhou aqui e pelos cantos do mundo”


Tom de Clara:

“Você passa, eu acho graça/ Nessa vida tudo passa e você também passou...”


Clara, por Clara

“Cantar pra mim é como respirar, eu não saberia viver sem isso.”