quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Claridade

Passei o ano inteiro lendo trechos do livro “Clara Nunes – Guerreira da Utopia”, de Vagner Fernandes. Não, o livro não é ruim, pelo contrário, é uma história instigante de alguém que criou a si própria, mudou tudo e ganhou a todos. É a história de Clara Francisca, mineira, que virou Clara Nunes, brasileira. Brasileiríssima.

Em sua narrativa, Vagner abre espaço para todos aqueles que conviveram com a cantora Clara Nunes, mas também com a Clara mulher, fã, ídolo, irmã, amiga, esposa. Criou merecidos floreios, destrinchou uma infância pobre, seu apogeu pela Música Popular Brasileira (da música romântica, passando pelo forró e pelo samba, sua marca) e a apoteose. A vida de Clara foi um samba, partido de altíssimo nível, que deixou seus registros em muitos outros ritmos.

Quando li o capítulo que conta sobre sua morte, fiquei voltando ao início, como se tentasse mudar o fato consumado. Talvez por ser muito difícil de acreditar que tudo aquilo que foi Clara tenha se esvaecido por tão pouco. Como não pôde ser mãe (devido a cistos no útero), sobrou-nos da cantora sua voz, seu misticismo, sua figura marcante. Não tenho como ponderar a comoção que sua partida gerou, aos 39, mas sendo ela tão presente e baseada nos relatos do autor, arrisco-me a dizer que foi uma perda irreparável. Primeiro, por que ela não deixou herdeiros sangüíneos nem musicais; segundo, por que ninguém, jamais, conseguiu imita-la. Ficou um enorme vácuo.

Em tempo: Clara Nunes morreu em abril de 1983, depois de sofrer um choque anafilático durante uma cirurgia de varizes. Passou 28 dias em coma até ser declarada morta pelos médicos. Curandeiros, rezadeiras, pais-de-santo, gente de todo tipo de amontoou no hospital querendo levar cura à cantora.

Tudo bem. Não houve quem substituísse Maysa ou Elis (apesar de Maria Rita). Também não enxergo suplentes para Gal, Betânia, Nana Caymmi. Talvez estejamos numa entressafra, salvo algumas minguadas exceções.

Abaixo, um dos grandes sucessos de Clara, Feira de Mangaio. Excelente interpretação de alguém que cantava com gosto e com alma. "Clara Nunes - Guerreira da Utopia" é uma leitura mais que recomendada àqueles que apreciam a boa música.


Salve Clara Nunes!


Sobre Clara:

“À Clara foi negado o direito de ter um filho. À Clara foram negados tantos direitos em troca dos aplausos que ganhou aqui e pelos cantos do mundo”


Tom de Clara:

“Você passa, eu acho graça/ Nessa vida tudo passa e você também passou...”


Clara, por Clara

“Cantar pra mim é como respirar, eu não saberia viver sem isso.”



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