sábado, 16 de maio de 2009

Prognósticos da vida contemporânea


Entender a arte contemporânea não é das tarefas mais fáceis. Compreender a cabeça de alguém que vive hoje, nesse mundo tão surtado, cheio de mensagens e diversas formas de dizê-las, requer cuidado, senso apurado, hermêutica, doses de sociologia, de antropologia e muita, muita paciência. É um verdadeiro exercício mental - se você simplesmente chega, senta e olha, pouca coisa será captada. O óbvio está bem longe dali.

O pior é que, nesse caso, a culpa não é do receptor da mensagem, nem do emissor [ou do pregador, como acusava o barroco Pe. Antônio Vieira, em seu Sermão da Sexagésima*]. Companheiro, ou se trabalha em equipe, ou não dá. É preciso um esforço mútuo - eles se "contorcem" ao máximo pra te explicar; você fica atento o bastante pra compreender. Nem pisque.

Ok, mas como diria JTeles, não tergiversemos.


Bem, ontem aproveitei o convite de um grande amigo querido e arrastei minha mãe para assistir Geraldas e Avencas, o novo espetáculo [sim, no sentido de adjetivo] do grupo 1º Ato, de Minas Gerais. E, até quebrando parte da minha análise anterior, não foi um esforço [meu] entender.

Geraldas e Avencas sobe ao palco nos corpos de sete bailarinos, todos praticamente impecáveis eu suas performances. Conseguem transmitir totalmente a idéia do espetáculo: a plastificação do ser humano, a era da igualdade medíocre onde tudo o que importa é seguir moldes. Implacáveis moldes, que não perdoam diferenças nem gostos. Implacáveis moldes que acabam massificando tudo aquilo que ousa ser diferente. Não se surpreenda se você acabar encaixando perfeitamente num deles...



A concepção, coreografia e direção do espetáculo é de Suely Guimarães. O corpo de baile é formado por Alex Dias, Ana Virgínia Guimarães, Danny Maia, Luciana Lanza, Júnio Nery, Marcela Rosa e Thiago Oliveira. A [linda] trilha sonora é do [ótimo] Zeca Baleiro, que assim definiu essa parceria:

Vez por outra me pego questionando a razão de ser da arte nestes tempos de cinismo e embrutecimento. Esta parceria com o grupo 1º Ato trouxe alentos pra minha dúvida desesperançada: o veneno seco da poesia na veia, o olhar crítico afiado, uma doce dose de loucura e a vontade impetuosa de ver o mundo respirar em meio a tanta danação. Este é o 1º ato. Outros atos virão.



A qualidade de Geraldas e Avencas também já foi confirmada por vários prêmios:



Prêmio Usiminas/Sinparc

- Melhor espetáculo

- Melhor trilha sonora

- Melhor concepção coreográfica

- Maior público de dança em 2007


Prêmio Sesc/Sated

- Melhor bailarina

- Melhor trilha sonora



Para quem se interessar em ver Geraldas e Avencas, tem a última chance amanhã, às 19h, no Teatro de Santa Isabel, aqui no Recife. Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10. A censura é livre.




* Sermão da Sexagésima é uma dos sermões escritos pelo Padre Antônio Vieira, português que viveu no Brasil durante o período da colônia. É um dos expoentes da literatura barroca no país.

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