Dia a dia de repórter é difícil, pode acreditar. Começa pelo horário - você pode até saber que horas começa, mas nunca a hora que vai conseguir apurar tudo e dizer tchau ao editor. É cansativo, muitas vezes penoso, mas a gente se diverte (ou não) e aprende (e muito) todos os dias.
Fui pautada para acompanhar a volta ao trabalho dos bancários, que estavam em greve desde o dia 29 de setembro. Às 10h, já estava pelo meio do mundo, perguntando às pessoas sobre eventuais problemas causados pela paralisação de 15 dias. Olhem, é na rua, abordando estranhos e buscando informações, onde estão as verdadeiras lições do jornalismo.
Entrei com a fotógrafa Nathália Bormann na agência da Caixa Econômica Federal que fica próxima ao Teatro de Santa Isabel para conversar com as pessoas que estavam na fila sobre seus afazeres nesse primeiro dia de retorno. Eis que abordo uma senhora negra, aparentemente de uns 40 anos:
- Bom dia, como é o nome da senhora?
- Bom dia, é Marize...
- Com "z" ou com "s"? [eu, anotando]
- Não sei, olhe aqui... [ela, me entregando a carteira de identidade]
- É com "z", dona Marize... a senhora faz o quê?
- Tomo remédio controlado
- Ah, sim... e a senhora veio fazer o quê aqui no banco?
- Vim buscar o auxílio moradia. R$ 150, minha filha, vê se pode...
E dona Marize me contou que completa o aluguel do apartamento onde vive com mais sete pessoas com mais R$ 100. "Não dá pra nada", resmungou, antes de seguir na fila. Dona Marize estava naquela fila pra pedir nova senha ao banco - ela não lembrava mais da antiga e esperou os 15 dias da greve para sacar o dinheiro.
Eu aprendo todo dia que o mundo aí fora é bem grande. Muitas vezes, triste e injusto.
Um comentário:
Putz. As pessoas ralam muito, apertam e, no final das contas ainda se divertem em festas. Eu fico admirada com o ser humano.
Postar um comentário