domingo, 12 de dezembro de 2010

Hasta, Mainardi!

Boa parte da minha vida acadêmica (e pouco depois dela), dediquei ao estudo da ética jornalística. Mais exatamente, ao estudo do código de ética dos jornalistas e sua não aplicabilidade por parte dos veículos, com foco na Veja. Aliás, objeto de estudo rico em crimes, especializado em contravenções. Não precisa se aprofundar muito na análise nem entender do correto exercício do jornalismo pra perceber que ali, em cada edição, há questões densas a serem levantadas.

Politicamente, a Veja é antilula. Não importa quem esteja do outro lado, Lula será travestido de Judas e malhado até o fim, com ou sem motivo. Guardo até hoje a edição especial da eleição do petista, em 2002. Eu achava que seria a prova de que até os que se pensam poderosos podem e devem se redimir, mas bastou checar as edições seguintes para ver que não é nada disso. Longe disso. Há capas lendárias, manipulações explícitas e, assim, a Veja vai vivendo de massacrar o que for de esquerda, o que lembrar regimes comunistas - assim vai fazendo um mau jornalismo há mais de 40 anos.

Hoje estava lendo o Acerto de Contas e lá os meninos contam que Mainardi vai se aposentar. Há um tempo, anunciou que sua coluna semanal passaria a quinzenal; agora, que passaria a ser mensal.

Nesse caso, não há de se ter meias palavras, Diogo Mainardi não as conhece. Sempre foi direto e seco, cruel e pouco profissional, tanto nos ditos escritos como nos falados. Além da coluna da Veja, ele tece seus comentários peçonhentos no Manhattan Conection, um programa na tv paga, de nome cafona e conteúdo diverso. Para assisti-lo, é necessário que o telespectador ligue o filtro. Vai ouvir de tudo, inclusive muita asneira.

Mas, não, não é preciso odiá-lo. Sempre digo aos meus colegas de profissão que Mainardis são necessários, já que tudo na vida precisa de um contraponto. Para que haja o bom jornalista, que respeita seu ofício e a sociedade para e por qual trabalha, precisa-se do mau (leia-se, neste caso, o péssimo). Taí um belo exemplar.

Faz tempo que aprendi que a objetividade do jornalismo é pura mística, invenção de algum inocente. Respeito a posição que Mino Carta dá à Carta Capital, lulista assumida, assim como o "direitismo" da Veja, mas vamos questionar os meios para entender os fins. É bom também questionar o que quer um comunicador como Mainardi quando batiza um livro publicado de "Lula é minha anta". Mas faz totalmente a linha editorial da majoritária revista. A Veja é, sim, desse tipo de postura.

Em 89, quando a Veja publicou as cartas enviadas à redação que tratavam sobre a matéria publicadas sobre Cazuza (para lê-la, clique aqui), uma me chamou atenção. Aliás, uma serviu-me de veredicto. Era assinada por um deputado em exercício na época, ofendia aos signatários da carta de repúdio à matéria (Chico Buarque, Marília Pêra...) e terminava dizendo: "e ao indecoroso Cazuza, que o inferno o espere ardente e brevemente" (algo assim, não me lembro exatamente das palavras). Isso, para não dar ênfase àquela famigerada matéria:


Eu duvido que a Veja deixe de ser quem é quando Mainardi tomar seu rumo. Aposto que será capaz de ceder o local de destaque a outro do mesmo tipo. São milhões de assinantes. É a revista mais lida do País, escrita por gente boa e por profissionais de conduta duvidosa. É jornalismo de alta periculosidade. Concordo com o Acerto de Contas: já vai tarde.

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