quarta-feira, 3 de abril de 2013

Hoje, a fala de quem (sempre) ouve

Um jornalista só pode ser alguém de ideais. Quer mudar o mundo, quer informar, quer, no mínimo, tapar um buraco na rua de quem ainda usa a Imprensa como escudo, como arma. Se ele não for um idealista, resta-lhe pouco: ou é um sem-vergonha ou preguiçoso. Como dificilmente será rico ou reconhecido, ou fica porque ama ou por malandragem.

Trabalhar em redação exige despego afetivo, financeiro. Exige que você explique o que não consegue entender, que mostre verdade quando queria esconder-se, que lute (quase) anonimamente por uma sociedade inteira. Porque quem é Jornalista de verdade, de peito, de sangue, de DRT, corre o Sertão atrás de Dilma, passa por tiroteio como um inatingível, ouve confissão de assassino "com exclusividade", faz denúncia (alheia) na raça, mesmo que não possa defender a si mesmo. Entra em incêndio, testa carro, checa número de mortos, dá a escalação de time. Não é bancar o mártir, é que não tem outra saída. Infelizmente.

Jornalista é um cidadão que ouve de um prefeito de interior que ele não pode dar informações sobre a folha de pagamento do município por se tratar de "um assunto muito pessoal"; que tem vontade de mandar prender o homem, mas precisa ter sangue frio para dizer: "o senhor está enganado, o dinheiro é público". Jornalista é o personagem camuflado que entra em velório, que vai em cena de crime e acaba consolando os parentes, que vislumbra olhos de súplica e sente o coração bater mais forte.

Repórter é bicho de rua. É quem senta para conversar com secretário de governo ou com presidente de multinacional com o mesmo respeito e atenção que atende a um leitor que quer ajuda para receber da loja trapaceira o que lhe é de direito. É o esquema "sua satisfação ou o dinheiro de volta". É ouvido social, público, para ouvir desabafo de estudante, de operário, de empresário. Leva pedrada, bala, carreira da polícia. É justiça e bandido - depende dos olhos de quem lhe vê.

Redação, acredite, é o paraíso daqueles que vêem o real Jornalismo (impresso, televisionado, de rádio, online, literário, acadêmico, premiado...) como a arma mais fidedigna de uma sociedade. O instrumento maior, justo, se fosse ideal. Matéria assinada é peça da História, fonte conquistada é confiança e parceria, leitor instruído é meta. Imprensa não podia ser negócio, é contra a sua natureza.

Qualquer coisa que não seja assim, acredite, não creia. Não é Jornalismo.

Hoje a Folha de Pernambuco faz 15 anos, mas é disso aqui que eu estou falando:

Torgentil Alves, leitor, com sua a primeira edição da Folha, de 3 de abril de 1998

2 comentários:

Anônimo disse...

Devido ao poder cada vez maior, e mau usado, da imprensa hoje em dia o jornalismo é uma das classes mais demonizadas.
Não sem razão, óbvio.
A manipulação dos meios de comunição chegou a um ponto que tudo que se lê está sub judice.
Saber qual a revista ou jornal é amiga do PT ou do PSDB ficou mais fácil que roubar cego.
Não que já tenha sido muito diferente.
O Roberto Jeferson - foi mal a citação do canalha - contou certa vez que seu avô o chamou, quando menino, e disse - apontando para o jornal:
"Meu neto, quanto maior a manchete maior o interesse"

PS: Ótimo seu relato sobre o que é ser um jornalista de verdade, Tati.
O problema é o de sempre.
É Entre a teoria e a prática que o mundo deixa de ser um lugar mais justo.

"Imprensa não podia ser negócio, é contra a sua natureza"

Pois é.

Beijoca na jornalista idealista e apaixonada por seu ofício.

dahrlldahl disse...

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