Acabo de descobrir-me jornalista. Depois de uma conturbada relação de amor e ódio, abandono e reencontro, eis-me aqui assumindo-me uma verdadeira apaixonada pela arte de escrever. Poderia engolir a modéstia e definir-me como poetisa. Comparar-me a uma nova Clarice ou reencarnação de Raquel, mas não. Minha necessidade de tornar público aquilo que penso me dá o ilustre título de jornalista. Tanto que, se pudesse sugerir ao Aurélio como definir tal palavra em seus dicionários, diria: substantivo comum, singular, que designa pessoas incomuns, capazes de manipular o mundo com a força das palavras. Seres capazes de criar o fato e transformar o hoje no “para sempre”.
Voltando ao meu desejo de tornar minhas palavras públicas, surgiu-me a dúvida: a quem eu iria importunar nesse trajeto rumo às estrelas? Quem seria eleito meu primeiro leitor assíduo, embora nunca tenha sido questionado se aceitaria tal encargo – ou carga? Muitos vieram à mente. Meu pai foi descartado de cara, já que a paternidade poderia contaminar sua opinião sobre a arte literária do seu espermatozóide aqui. Minha mãe também foi excluída da lista de possíveis leitoras, já que, assim como o genitor, seria incapaz de uma crítica mais ferrenha aos absurdos escritos. Pensei em outros, mas a cada um deles atribuí um defeito, o que acabava por eliminá-lo da disputa.
Desisto de tentar encontrar o meu primeiro leitor. Pego meu novo livro, espírita, que narra as aventuras do meu Passarinho em sua vida pós-morte e ponho-me a ler. Como sempre, vou trocando umas idéias com meu cérebro sobre o que é descrito nas linhas e questiono: “Nossa! Ele é um anjo desencarnado?” – embora qualquer atitude angelical esteja a léguas das suas. Levanto-me do chão e ponho o livro sobre a estante, onde está um porta-retratos. Fito a foto e deparo-me com um sorriso pacífico e uns olhos que pareciam brilhar – “meu leitor”, pensei. Disparei pro computador. Ordenei as idéia que brotavam sem parar e cá estou a escrever para meu primeiro eleito-leitor.
Desejo-me um punhado de críticas; desejo-lhe uma viagem aos meus pensamentos mais profundos...
Seria pretensão minha? Não creio. Apenas desejo que as letras tenham sabor de toddy ou ‘nescau prontinho’ e que as palavras fluam ‘tal água corrente’ – parafraseando-me. Um elo de letras nos une!
"Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim..."
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