Hoje à noite, a cidade alta assistiu ao encerramento da Mostra Internacional de Música em Olinda. No pequeno palco montado diante do altar-mor da Igreja da Sé, sobre o túmulo de Dom Hélder, Hamilton de Holanda e Yamandú Costa.
A Sé estava lotada. Quem não tinha convite para entrar na igreja e ver o show de perto, não se fez de rogado; arrumou um cantinho para assistir pelo telão ao maior duelo de cordas que eu já presenciei. Hamilton, de posse do seu bandolim, é mineiro de família pernambucana. Yamandú, com seu violão em punho, é gaúcho, autodidata e tem ares de gênio.
Um palco bem intimista, altares iluminados e uma platéia silenciosa. Entram em cena duas figuras com seus instrumentos em punho. Chuva de palmas. Eles sentam, olham um pro outro e num aceno dão o primeiro acorde. O silêncio do público é total, interrompido apenas pelos aplausos, uma demostração entusiasmada de êxtase diante da arte. Sem exageros.
Hamilton é mais comedido. Tem pele amorenada, cabelos bem curtos e um domínio impressionante dos dedos que dedilham freneticamente as cordas do bandolim. Yamandú parece ter saído de um delírio. Cabelos desgrenhados, cara de maluco que muda de feição a cada tom. Sentado, ele parece completamente entregue aos acordes; dança de acordo com eles, um ballet desengonçado, mas precisamente ritmado.
A participação de Naná Vasconcelos no bis foi simpática, mas em nada contribui musicalmente ao festival de cordas. O show, a partir daquele momento, ficou por conta da platéia, que cantarolou Noel Rosa, para o entusiasmo de Yamandú e Hamilton. Deu gosto de ouvir. Foi de inflar o bairrismo de qualquer pernambucano.
Destaque para o programa de excelente qualidade que, talvez, o público daqui nem esteja acostumado, mas merece. Soube respeitar o momento, silenciou, aplaudiu e saiu com cara de satisfeito no final. Eu saí!
E viva a música!
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