sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O Sete de setembro


Por causa do feriado, hoje não teve expediente pra mim no jornal. Então acordei e fiquei pensando no significado da data. Ao que parece, um dia a mais entre os tantos feriados do calendário.

De fato, o patriotrismo deixa a desejar. Eu mesma nunca fui em uma parada do 7 de setembro, o que considero um grande erro dos meus pais. Apesar disso, acho o hino nacional magnifíco e me lembro de sempre canta-lo cheia de ufanismo nas atividades cívicas da época de Salesiano. Na caderneta da escola tinha a letra do hino nacional. Lá pros 10 anos de idade, eu achei que deveria saber cantá-lo. E aprendi. Inclusive, já naquela época, sabia qual verso vinha primeiro...

Mas, enfim, estou discutindo sobre o feriado. Acho que seria um dia ideal para se falar a repeito do Brasil.

Quinhentos e sete anos desde a primeira invasão oficial. Daí, a gente aprende que em sete de setembro de 1822, nos tornamos independentes, depois de um tal "grito no Ypiranga". Ao que parece, somente em agosto de 1825, é que os colonizadores luzitanos, com sua lendária pouca capacidade intelectual, se deram conta que a cria aqui tinha crescido e não tava mais afim de ficar sob suas rédeas e mãos usurpadoras.

Mas o que era ruim parece que ficou pior. A bagunça se estendeu por um território de proporções continentais, que chegam aos seus 8.514.876,599 km², sendo a 5ª maior bagunça do planeta. Passamos por todo tipo de provações. Fome, pobreza, ditadura. Fomos e somos torturados. Antes, entre as paredes dos DOPs, hoje pela rua, em fila de banco, numa carteira de escola ou diante da urna.

Devíamos nos envergonhar. O valor do brasileiro parece ser tão baixo quanto o do salário minimo. A dança folclórica típica poderia ser as encenadas em comemorações sem-vergonhas em pleno Congresso. A saúde nos adoece, a educação nos aliena e destrói os sonhos que ainda nem pudemos construir. Estradas esburacadas, freios burocráticos, demagogia assassina e a velha e fatal má educação, camuflada com o simpático nome de "jeitinho brasileiro".

Mas, hoje, sejamos ufanistas. Amemos essa terra de águas mornas e sorrisos quentes. Nos ludibriemos com o gosto das frutas, com cheiro de pimenta, temperos. Nos embriaguemos de água ardente ao som do samba de Bezerra da Silva, Martinho, Paulinho. Sintamos a emoção da Aquarela de Ary Barroso e dos versos históricos das "alcovas" de Chico. Ah, Chico... e suas mulheres, suas rimas, suas batidas, sua genialidade.

Chico... Buarque, Science, César... todos!
Brindemos os climas; do frio elegante do sul ao calor ofegante das lindas praias do Nordeste. A garoa paulistana e as enchentes pantaneiras. Que sejamos os primeiros no passo do frevo, do samba e nos acordes da nossa brasileiríssima Bossa Nova. Que com ela, possamos fechar os olhos e sentir Tom, Vinícius, Toquinho. Os cabelos de Gal e Bethânia. A voz rouca de Elis, dos passos do bêbado equilibrista, tão vivo nos subúrbios sofridos, de gente divertida, de toda a periferia.

Periferia de farinha de mandioca, cuscuz, buchada e feijoada. Churrasco de gaúcho e acarajé das negras baianas do alto da Sé de Olinda. Tapioca, canjica, bolo-de-rolo. Carne de charque, bergamota, cajá, caipirinha. Peixe na telha, camarão, açaí.
Becos, ruas, favelas, avenidas. Chãos de Giz e bichos maluco-beleza. Asas brancas e luas de São Jorge. Garotas de Ipanema, La Belle de Jour de Boa Viagem, diabos louros de Olinda. Beija-flores e Ideologias... As letras nordestinas de Amado, João Cabral, Bandeira e do vivente Ariano. A genialidade de Machado, de Clarice, de Drummond. As sem-vergonhices de Nelson Rodrigues.

Nossa Constituição de 88, nosso Real de 94, nosso penta de 2002... Terra de Vera Cruz, país do futuro, pátria de chuteiras, país do futebol, "um país de todos". Onde tudo acaba em pizza, em samba, em mar.

Musique-se

Brasil
Cazuza


Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
Apagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes d'eu nascer

Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha

Brasil, mostra a tua cara
Quero ver quem paga pra gente ficar assim
Brasil, qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

(...)
Não me elegeram a garota do Fantástico
Não me subornaram, será que é o meu fim?
Ver TV a cores na taba de um índio
Programada pra só dizer sim, sim

Brasil, mostra a tua cara
Quero ver quem paga pra gente ficar assim
Brasil, qual é o teu negócio
O nome do teu sócio
Confia em mim

Grande pátria desimportante
Em nenhum instante eu vou te trair
Não, não vou te trair

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