Aceita a pauta, fiquei descansada até descobrir que a ela fora destinada à capa de domingo (passado, dia 18). Então, peguei contatos e sentei ao telefone para uma boa conversa com a diretora Ângela Patrícia Reiniger (foto acima). Na entrevista (ela lá – no Rio – e eu cá), Ângela tentou me explicar todo o processo de feitura do documentário, desde a gênese, na cabeça do filho de Chico Mário, Marcos Souza, até o recolhimentos de entrevistas, imagens e filmagens em locações. Ao final da conversa, a diretora me prometeu uma cópia do filme, que chegou às minhas mãos ainda naquela semana, infelizmente, depois que a matéria já havia sido finalizada...
Então... é esse o motivo deste post: me redimir dos detalhes que a “ignorância” sobre a construção desta película fez estar ausente da minha matéria.
Primeiramente, o quão (aparentemente) esquecidas estavam figuras tão... (pausa para escolher o predicado adequado) exemplares. Sim, porque exemplos são muito tocantes, principalmente quando sabe-se que o ser humano viveu aquilo que pregava. E esse é o caso dos três.
Hebert, Henrique Filho e Francisco Mário eram irmãos, mineiros, hemofílicos e morreram, os três, em decorrência da aids. Vale lembrar que a infecção foi causada pelas transfusões de sangue que tomavam regularmente; talvez por um “lote” de sangue contaminado. (pausa para reflexão) Imagine, você, ser contaminado por descaso alheio, por um vírus letal que assolava e matava. Era o meio da década de 80. Henfil foi o primeiro a ficar sabendo que estava contaminado e morreu pouco tempo depois. Chico Mário foi o segundo e Betinho, o último, conviveu com a doença por quase 11 anos (de 86 a 97), quando morreu em casa, no Rio.
Mas vamos deixar esse assunto de aids pra lá, porque quando se trata deles há muito mais se dizer.
Henfil (abaixo, com a mãe, Dona Maria) era humorista, cartunista, tinha ideologias e lutou por elas até o fim. Sabe aquela música de João Bosco e Aldir Blanc, famosa na voz de Elis, “O bêbado e a equilibrista”? Pois bem, o verso “...meu Brasil/ Que sonha com a volta do irmão do Henfil” foi inspirado na seção que Henfil assinava na revista IstoÉ, chamada “Cartas à mãe”. Nela, uma foto de Dona Maria, mãe dos três, apaziguava qualquer reação às manifestações do colunista, que usava o meio para tratar de política e de assuntos que poderiam ser censurados pela ditadura, então vigente. Betinho estava exilado e a sessão de Henfil acabou dando cara aos demais “apatriados”.
Chico Mário (abaixo) era sensível e marcante, não pela boca grande que tinha (no sentido físico da palavra) e que o caracterizava (pelo menos me chamou atenção), mas pela mágica musical que conseguia fazer com violão em punho. Eu sou verdadeira adoradora de música, mas nunca ouvira falar que o irmão de Betinho era um músico de tamanha qualidade. O filme tem umas cenas de close nos dedos de Mário, que quando dedilhavam, prenderam totalmente a minha atenção.
Betinho (abaixo) morreu em 97, como eu disse acima, e eu me lembro dele falando na televisão. Já sabia que ele estava à frente do Ação, mas nem desconfiava da grandeza daquele homem franzino, calvo e de olhos cavados e de visão profunda. Aliás, a Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria é algo tão de função tão óbvia que me incomoda. Por sinal, até o dia 30 de maio, no site da instituição, acontecem inscrições para o Prêmio Betinho de Democracia e Cidadania 2008. E, sinceramente, espero que eles tenham muitos a premiar.
O símbolo da ONG (ao lado) é cruel de tão realista, mas de uma dor que você, com certeza, nunca sentiu. Mas, talvez por ser tão vital, a dor da fome nunca passa impune aos olhos.
Voltando ao filme – “Três irmãos de sangue” não tem pecados. Quando se pensa que o filme começa a esmorecer, vem uma lição. E uma história que tinha todas as ferramentas para ser piegas, tamanha as desgraças que se sucederam na vida de Betinho, Henfil e Chico, é de uma beleza especial. Emociona, mas não arranca lágrimas de tão sóbria é sua narrativa. E quando o filme acaba, com Betinho dizendo que a morte não é o mais importante, mas que se continuem as lutas, fiquei com vontade de fazer alguma coisa.
E como temos sempre a tendência a achar que não temos nada com isso (ou com qualquer coisa que se passe além do vidro do nosso carro), talvez por termos a sensação que não podemos resolver nada sozinhos, o sociólogo Betinho, ensina:
“Houve um incêndio na mata e os animais corriam para se salvar. Foi quando o leão viu um beija-flor que pegava água no rio, jogava a água no fogo e voltava pro rio. Então o leão perguntou:
- Você não está vendo que não vai conseguir apagar esse fogo sozinho, beija-flor?
- Sim, eu sei que não posso resolver esse problema sozinho. Mas estou fazendo a minha parte”.
Ação do Recife
Comitê Pernambuco Solidário
Coordenador estadual: Anselmo Monteiro da Silva
Tel.: 3226-0063 Comitê / (81) 3074-1945 (res.)/ (81) 3273-0548 (rádio)
Cel.: (81) 9979-9716 / (81) 9114-9716
E-mail: anselmomonte@yahoo.com.br
End. Comitê: Av. Caxangá, 2.200- Cordeiro - Recife (Parque de Exposições do Cordeiro)
Um comentário:
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