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ANOS 80 O jornalista Filipe Falcão, em noite de pura nostalgia, ao lado do ídolo Afonso Nigro, ex-Dominó
ANOS 80 O jornalista Filipe Falcão, em noite de pura nostalgia, ao lado do ídolo Afonso Nigro, ex-Dominó
- André, do nono andar, por favor...
- Um minuto... Ele não está em casa...
- Não tem problema, moço. Eu tenho a chave.
- Ok, pode subir...
Alguém é capaz de adivinhar o que tem de “ficção” nesse diálogo?
Bem, não é o fato de alguém chegar à casa de André Luiz, ou André Clemente, como ele prefere, e poder dizer ao porteiro que está com a chave da porta (embora não fosse verdade).
De fevereiro de 2007 até fevereiro de 2008 (se não me falha a memória), a porta do apartamento 905 do edifício San Benito, na Boa Vista, ficou totalmente à própria sorte. Sem chave ou qualquer outro obstáculo que evitasse um visitante indesejável, o cafofo era de quem fosse entrando.
E dessa história de André e a porta do 905, dois episódios me marcam:
O primeiro conta como a porta do apartamento, alugado mobiliado, diga-se de passagem, acabou quebrada. Costumávamos (e ainda costumamos) ir juntos, num bando de seis ou sete, ao Carnaval das ladeiras de Olinda. Bloco imaginário “Chupa essa manga”. No primeiro ano, resolvi levantar a bandeira branca mais cedo e fui-me embora pra casa, mas o resto ficou lá, entregue.
Já de volta à segurança do lar, André percebe que junto com o juízo, ele tinha perdido as chaves do apartamento em Olinda. Chaveiro, àquelas alturas, só por um milagre divino. Mas quem precisa de favores do céu quando se tem um amigo parrudo e etilicamente anestesiado que possa lhe arrombar a porta? Foi isso...
Desesperados com a possibilidade de ficar sem lugar para dormir (leia-se: sem lugar para tomar um banho e sair de novo), Eddi e Daniboy quebraram a porta do apartamento. Assim, ele (o apartamento) ficou por longos 12 meses esperando que André tivesse a decência de chamar alguém para arrumar. Detalhe: na estante da sala, martelo e pregos descansavam desolados e sem utilidade.
O segundo é muito breve e talvez seja de difícil compreensão àqueles que nos lêem. Assim como era comum a todos que freqüentavam o 905, Patrícia também adentrou o apartamento sem bater:
- “Tu ainda não consertou essa porta??” – disse.
- “Não, mas vou consertar para ter o prazer de batê-la na sua cara!” – respondeu André, com sua simpatia ácida peculiar.
Declaradamente elegante, meu personagem, na verdade, é uma pessoa de tolerância quase nula. Basta um fato aborrecê-lo, que sai de baixo. Eu mesma já presenciei cenas que atestam:
- “Minha gente, porque vão barrar os namorados na festa? Desse jeito, eu não vou... meu namorado não vai deixar” – queixava-se uma amiga nossa, numa das reuniões de organização da festa que fizemos no final de 2007 (regra da festa: agregado não entra!)
- “O relacionamento mal resolvido é seu. O problema é seu e pronto!” – largou André.
Eu, no meu canto, observava estarrecida enquanto ele se esforçava para não descontar o mau humor num cigarro Malboro.
Fiquei sabendo que essa qualidade lhe veio no sangue, como herança de Caruaru. Mandão que só ele, André já se auto-declarava líder da rua naquele começo da década de 90. Certa vez, barrado de uma brincadeira, não só deixou o time incompleto, como acabou com a diversão da turma toda. Em retaliação, ainda boicotou a participação do seu “desafeto” por uma semana.
[Embora ele me tenha relatado o fato por e-mail, posso ouvir suas gargalhadas, achando graça dos desmandos].
André foi uma criança de poucos brinquedos, privilegiada pela vida do interior, que não tinha a menor ideia do que seria quando crescesse. Entretanto, uma redação feita na segunda série primária, o denunciou: Policial.
“Dá pra acreditar? (risos) Louco!!”, disse sobre a revelação.
Hoje, em seu flat em Boa Viagem (que eu ajudei a escolher), André divide espaço com poucos móveis, alguns utensílios de cozinha (presenteados pelos amigos, em seu open house) e NENHUMA água na geladeira. A única habitante da “câmara frigorífica” é uma solitária garrafa de coca-cola zero. Aliás, já cheguei na casa dele para o mesmo botijão de água de dois meses atrás continuar vazio, mas uma elegante garrafa de Johnny Walker ocupar espaço da porta da geladeira.
Num momento nostalgia, ousei desafiar-lhe a memória e pedi que me contasse um fato importante de sua infância:
“Eu tive uma infância maravilhosa. Fica difícil eleger um fato mais importante... Um dos que mais gosto é quando minha mãe me ensinou a nadar!! Foi em Campos do Jordão.. acho que eu tinha uns cinco anos e ainda lembro dela mergulhando pra me explicar!! (risos) Nesse mesmo tempo, salvei meu irmão mais velho que estava morrendo afogado!!! Não nadando! Avisei a minha mãe e ela o salvou!! (risos) Viagem perfeita!”
Quando conheci André, ele tinha um cabelo horroroso (desculpa, amigo). Não sei bem como descrever, mas hoje pela manhã, pensando em como daria continuidade a esse texto, em como seria difícil criar uma imagem “fiel” do meu amigo jornalista, eis que me veio em mente um personagem perfeito, à sua imagem e semelhança:
Não vou gastar o seu tempo explicando o porquê da comparação. Qualquer pessoa que tenha assistido ao filme “A nova onda do imperador” sabe do que eu estou falando. Mas o cabelo, depois da química, ficava mais ou menos assim.
Continuemos...
Luiz Gonzaga canta que, na Feira de Caruaru “há de tudo que há no mundo”. Mesmo assim, a capital do forró ficou pequena pra André (leia-se: tinha poucas opções de lazer, quem sabe...) e ele resolveu transferir a faculdade de Jornalismo para o Recife. “Foi a melhor coisa que fiz em toda minha vida. Tive que decidir meu destino para não me arrepender depois”. Em suma, foi assim que ele veio parar aqui, lá (na Católica) e na vida de muita gente.
E ele acabou se tornando peça fundamental na vida acadêmica de muitos (inclusive, na minha). Não que fosse dotado de toda sapiência sobre Jornalismo e seus caminhos obscuros (muito embora, tenha um texto excelente, de gramática impecável); não que, para ele, os dias de prova fossem sagrados, assim como os ensinamentos de Habermas, Adorno, Stella, Heitor e Vlau. Pelo contrário, já cheguei a ligar para apurar seu paradeiro e ter que ouvir, em claro som: “Aula hoje, nem pensar. Tô lindo vendo novela!”.
Mas lembro-me bem de estar muito bem sentada na defesa do projeto de conclusão de curso dele, com Eddi e Patrícia (os supracitados). O vídeo sobre os Doutores da Alegria me fez chorar (lembrei da minha irmã, que teve leucemia) e rir (sabia dos detalhes funestos de bastidores). Até hoje tenho a foto da última ata e me lembro perfeitamente do 10 pelo excelente trabalho!
*
Ele disse-me que não acredita em almas gêmeas, que “definitivamente” não acredita que “existam duas pessoas no mundo completamente perfeitas uma para a outra”. Oras... e quem disse que eu me referia à perfeição? Jamais! Sou rodrigueana demais para isso, e concordei totalmente quando li Nelson dizer: “perfeição é coisa de menininha tocadora de piano”. E, com certeza, poucas vezes eu vi tanta desordem como quando se reúne (reunia, melhor) aquela turma. Um poço de defeitos de todos os tipos – dos engraçados aos insuportáveis.
Mas André sempre foi uma combinação incrível de coisas. Uma combinação chata, aliás. Tanto fazia passar no corredor fazendo festa como chegar azedo e insuportável, sem um “boa noite”. Todavia, totalmente capaz de combinar jeans, (bom) sapato, (boa) camisa de gola pólo (nada mais formal...) e primar pelo tom da prata: “Tudo com bom senso, é lógico!! Nada de exageros e sempre elegante!! (risos)”.
IC: Uma roupa que você nunca esquece.
André: Uma fantasia ridícula de
Changeman que minha mãe colocou em mim para uma das minhas festas de
aniversário. Detalhe: eu acho que era eu, já que, em todas as fotos eu estou com
o capacete. Triste, muito triste. (risos).
Sempre gostei do papel do jornalismo.. adoro
responsabilidade... e, quando se está de fora do jornalismo, o que se vê é que o
papel da imprensa é informar a sociedade, mostrar a verdade, traduzir os fatos e
blá blá blá!! Sempre achei que seria mais que isso... E comunicar é relamente
muito mais!!
"Êêê... faraó!"
É só aguardar!