A julgar pela falta de alardes da mídia massiva, o caso do terremoto do Haiti está finalizado. Contabilizaram-se mais de 220 mil mortos, uma enorme ajuda mundial e registros históricos de uma desgraça das grandes, que será lembrada em todos os livros. Desde 12 de janeiro, dia do tremor, eu venho acompanhando a cobertura jornalística, os esforços internacionais, a comoção e a disponibilidade que a maioria ainda tem de tentar fazer alguma coisa.
Hoje, mais de dois meses depois, o que restou do Haiti? O que restará deste Haiti destroçado nas memórias individuais das pessoas em todo mundo? O que tem ainda dos haitianos aí dentro de você?
Os corpos que estamparam muitas capas de revistas aqui no Brasil e por aí afora já devem ter tomado rumos; seja em valas comuns, mas com direito aos rituais de dança e ao choro dos familiares, ou lá mesmo, no meio da rua, onde ficaram depois do terremoto. Cedo ou tarde, as coisas vão se ajeitando, já comprovara o tempo. Algumas, aproveitando a metáfora, apodrecem.
Como sempre, eu me fixo no problema, porque creio que seja a forma de vislumbrar (ou não) a solução. Ou, que seja, para ter um sentido crítico ou menos conformista do que vejo. Pelas fotos que chegam até nós, qual a solução que você enxerga para aquele país?
Todas as vidas encontradas debaixo dos escombros foram solução. Cada indivíduo que foi, por livre vontade, àquele lugar destruído, foi solução. Eu, daqui deste lado egocêntrico, vi imagens lindamente tocantes em meio à dor. Acredito totalmente que sempre há uma forma de reconstruir as coisas – o primeiro passo é abrir bem os olhos e procurar.
No começo deste mês, o The New York Times veio com um editorial que começa falando sobre um menino haitiano e sua pipa. De uma sensibilidade peculiar, traz justamente esta forma humana de ver o mundo a qual me refiro – humana no melhor sentindo da palavra. Se todo mundo esbravejou a derrota, as mortes, a decomposição de Porto Príncipe, por que não voltaram todos lá com a mesma ânsia para registrar seus dias de tímida ressurreição? Quantos retornaram para relatar ao mundo que, embora ainda empoeirados, os haitianos vivem? Poucos, simplesmente porque é a desgraça que move o mundo.
Não quis criar aqui uma simples crítica, mas um desabafo. E não veio do nada, até por que eu já tinha pensado em organizar as ideias sobre este terremoto. Não estou lá pra ver e de nada me adiantaria reproduzir as coisas, então preciso seguir outra trilha, marginal, periférica, de observador.
Lendo sobre o julgamento do casal Nardoni, tentei encontrar matérias da época em que Isabela morreu. Na busca do Google, não acreditei quando vi alguém que oferecia “fotos do corpo da menina Isabela no IML”. Pior, outros entrando em contato, pedindo as tais fotos. Você imagina o porquê do sangue alheio encher nossa boca d’água, como uma ânsia antropofágica pela angústia do semelhante? Não é difícil perceber: observe o ranking das notícias mais acessadas de um site. A morte, o trágico e o bizarro sempre ocupam o topo da paradas, ao lado da pornografia, do erotismo ou qualquer outra “derivação” do sexo.
E quando acabar toda a comoção, até o último fio, quem estará pelo Haiti? Deus?
Por agora, eu deixo a reflexão. Seria muito feliz se nos ocupássemos de propagar o bom. Selecionei algumas coisas boas para nos ajudar a pensar, por hoje:
Hoje, mais de dois meses depois, o que restou do Haiti? O que restará deste Haiti destroçado nas memórias individuais das pessoas em todo mundo? O que tem ainda dos haitianos aí dentro de você?
Os corpos que estamparam muitas capas de revistas aqui no Brasil e por aí afora já devem ter tomado rumos; seja em valas comuns, mas com direito aos rituais de dança e ao choro dos familiares, ou lá mesmo, no meio da rua, onde ficaram depois do terremoto. Cedo ou tarde, as coisas vão se ajeitando, já comprovara o tempo. Algumas, aproveitando a metáfora, apodrecem.
Como sempre, eu me fixo no problema, porque creio que seja a forma de vislumbrar (ou não) a solução. Ou, que seja, para ter um sentido crítico ou menos conformista do que vejo. Pelas fotos que chegam até nós, qual a solução que você enxerga para aquele país?
Todas as vidas encontradas debaixo dos escombros foram solução. Cada indivíduo que foi, por livre vontade, àquele lugar destruído, foi solução. Eu, daqui deste lado egocêntrico, vi imagens lindamente tocantes em meio à dor. Acredito totalmente que sempre há uma forma de reconstruir as coisas – o primeiro passo é abrir bem os olhos e procurar.
No começo deste mês, o The New York Times veio com um editorial que começa falando sobre um menino haitiano e sua pipa. De uma sensibilidade peculiar, traz justamente esta forma humana de ver o mundo a qual me refiro – humana no melhor sentindo da palavra. Se todo mundo esbravejou a derrota, as mortes, a decomposição de Porto Príncipe, por que não voltaram todos lá com a mesma ânsia para registrar seus dias de tímida ressurreição? Quantos retornaram para relatar ao mundo que, embora ainda empoeirados, os haitianos vivem? Poucos, simplesmente porque é a desgraça que move o mundo.
Não quis criar aqui uma simples crítica, mas um desabafo. E não veio do nada, até por que eu já tinha pensado em organizar as ideias sobre este terremoto. Não estou lá pra ver e de nada me adiantaria reproduzir as coisas, então preciso seguir outra trilha, marginal, periférica, de observador.
Lendo sobre o julgamento do casal Nardoni, tentei encontrar matérias da época em que Isabela morreu. Na busca do Google, não acreditei quando vi alguém que oferecia “fotos do corpo da menina Isabela no IML”. Pior, outros entrando em contato, pedindo as tais fotos. Você imagina o porquê do sangue alheio encher nossa boca d’água, como uma ânsia antropofágica pela angústia do semelhante? Não é difícil perceber: observe o ranking das notícias mais acessadas de um site. A morte, o trágico e o bizarro sempre ocupam o topo da paradas, ao lado da pornografia, do erotismo ou qualquer outra “derivação” do sexo.
E quando acabar toda a comoção, até o último fio, quem estará pelo Haiti? Deus?
Por agora, eu deixo a reflexão. Seria muito feliz se nos ocupássemos de propagar o bom. Selecionei algumas coisas boas para nos ajudar a pensar, por hoje:
Os milagres, geralmente, estão ao alcance dos nossos olhos.
2 comentários:
Concordo contigo, há uns dois anos na época de final de ano o Jornal Nacional(vixeee) colocou uma matéria do tipo:
Qual a notícia que mais lhe marcou no ano?
Das 5/6 pessoas ouvidas na ruas, TODAS se referiram a coisas ruins!
Casos de corrupção, de violência...
Eu tava jantando com meu pai e disse:
Eles dão tanta ênfase as desgraças que o povo só lembra disso.
PS: Nesse mesmo ano, teve um caso maravilhoso sobre um menino de 6 anos com nome de craque de futebol(Riquelme) que estava brincando vestido de super-homem, quando uma vizinha saiu correndo desesperada do barraco em chamas dizendo que seu bebê estava lá dentro.
O pirralha, com toda certeza influenciado pela roupa que vestia, entrou no barraco e resgatou o bebê.
Isso sim é pra ser lembrado.
Dá ânimo, bem estar.
Ahhh, quanto ao Haiti, esse caso poderia até ter sido "bom". A parte rica do mundo poderia se sensibilizar em reconstruir o país e até melhorá-lo. Aquela velha história de um passo pra trás, pra dá dois pra frente.
Mas não há interesse, talvez se lá tivesse petróleo...
José Henrique
quando eu lia Tatiana Notaro no JC eu não sentia suas idiossincrasias como consigo sentir aqui no blog. não acompanhei detalhadamente a cobertura da imprensa sobre esse evento, mas estou satisfeito em ler uma reflexão equilibrada de uma jornalista formada que não se satisfaz em ser um mero espelho da chamada "grande mídia".
- Jefferson R. da Silva
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