terça-feira, 31 de maio de 2011

Tantas palavras, meias palavras

Há uma pilha de papéis sobre a minha escrivaninha e eu não sei o que fazer com eles. Cada um é um capítulo de uma história longa, linda. Mas já revirei todos os papéis, quase uma resma inteira, e não encontrei o último capítulo ainda. Pior é que quando estou colocando os fatos em ordem, achando que vou conseguir fechar o livro, encerrar a narrativa, revisar seu último capítulo e dar título ao todo, aparece um novo acontecimento, uma nova palavra e outro fato inimaginável.

Quando parece perto, escapole pelos dedos. Palavras se vão, outras vêm. Mesmo que agora tudo pareça meio pobre, vazio, há sempre do que se lembrar.

Tudo anda mesmo meio vazio, sem cor ou contraste. Um tom meio sem sentido, meio perdido, meio carioca, meio que querendo voltar, mas indo embora.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Pela alma marginal

Eu adoraria ser uma porra-louca. Essa ideia me veio na cabeça hoje, durante a aula de Poesia que me veio de presente na grade da faculdade este semestre. O professor falava de poesia marginal e eu me entreti pensando se não daria para viver de boemia, numa vida mais lisérgica. Sem essa de bater ponto, de respirar fundo, de correr pra pauta e de suspirar a cada gráfico de oscilação do PIB ou da inflação. Por isso mesmo, decidi deixar crescer o cabelo e, quem sabe, perder uns 15 quilos - assim deixar a vida mais leve, com algum balanço.

Sei que efetivando essa linha hippie, deixarei de me preocupar com telefonemas não atendidos, colocarei todas as contas no débito automático. Determinarei que o expediente começará sempre às 11h30, sem me preocupar em perder a hora. Ora, e não seria justíssimo? Depois de tanta tinta, meu cabelo respiraria; as roupas caberiam belamente.

Mas isso são alguns minúsculos lampejos delíricos de um período deste, mais exatamente, momento de profundas e piegas transformações.(riff de violão de cordas de aço).

Rádio às 10h34, SMS no meio da noite, um "bom dia" animado, um pedido de aperto, uma mensagem de Chico, uma revolta de Cazuza, meu novo LP velho de sambas de ouro tocando na nova radiola modernosa, dar um fora, um livro de Caio F. Abreu, um certo "Nosso Lar", um cafezinho lascando de doce no meio da tarde, uma troca de farpas, algumas distâncias, um casaco largo o suficente para camuflar a barriga e um pouco de pó para dar cor, todo dia, de leve.

Bem de leve.



20 ANOS RECOLHIDOS
(Chacal)

chegou a hora de amar desesperadamente
                                           apaixonadamente
                                      descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
                      de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
                                             mas que chega

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Paris nights, NY mornings

Adoro velharia - quem me conhece, sabe disso. André mesmo, já diz: "Tati pode organizar tudo, menos o set list, senão a gente passa a noite ouvindo Cartola". Então, pra mim e pro meu saudosismo, o canal Viva é um prato cheio. Agora, toda noite eu tenho um ritual noturno, pós aula. Chegou em casa, ligo a TV e vejo "Anos Dourados", "A Muralha" e "Vale Tudo". Overdose de passado. Vale Tudo termina já depois da 1h da manhã - mas vale a pena.

É engraçado, porque é o tipo de experiência interessante. Vale Tudo é de 1989, época em quem Antônio Fagundes ainda era um jovem de cabelos mesclados, no auge do seu charme masculino. Na trama reprisada, Ivan (que faz suspirar) está naquela fase de tentar se livrar de Heleninha Roitman (de Renata Sorrah) para voltar com Raquel (de Regina Duarte) e nem imagina que caiu em armadilha de Odete Roitman. Aliás, essa dispensa comentários. Eu acho Beatriz Segall brilhante porque Odete não é má, mas primorosamente sarcástica, gélida como toda boa vilã merece ser.

Sim, mas o que chama a minha atenção (ainda pouco treinada para as minúcias técnicas da teledramaturgia) é a mudança física dos atores. Fagundes está na atual novela das oito, 20 anos mais velho - rosto mais largo e sem sombra de cabelos escuros. Beatriz Segall, no ar hoje no infame "Lara com Z", está no auge dos seus 80 e poucos anos e não sei por qual motivo resolveu fazer plástica. Óbvio que não prestou e a esticada está mais visível do que o desejado. Acho que Tônia Carreiro foi muito dura quando disse que "a velhice é a prova de que o inferno existe", mas o tempo é mesmo implacável.

Enfim. Fugindo ao assunto (tô sempre falando de tempo por aqui), nos intervalos do Viva passa a vinheta da nova programação do GNT, que tem uma musiquinha muito legal. Só para desempoeirar o IC e terminar esse post (esquisito, que saiu do nada pra canto nenhum), vai ela aí.

domingo, 1 de maio de 2011

Be-a-bá // Dívida pública brasileira

Dívida que fica para a eternidade


Para honrar compromissos, Brasil atingiu saldo negativo de R$ 1,7 trilhão


TATIANA NOTARO


A dívida pública brasileira ficou 1,39% maior no mês de mar­­ço, segundo divulgou a Secretaria do Tesouro Nacional, e atingiu a soma total de R$ 1,695 trilhão. Também segundo o Tesouro, a dívida interna chegou a R$ 1,611 trilhão, depois do aumento de 1,6%; já o saldo devedor externo, depois da redução de 2,63%, dá conta que o País de­ve R$ 83,53 bilhões.

Os números são muitos, mas, simplificando, a dívida pública cresce porque o Governo precisa honrar seus compromissos, investimentos, gastos com saúde e educação. Entram também os juros, os grandes culpados pelo “trilhão”. Quando eles aumentam, aumentam também os encargos da dívida. O economista Jorge Jatobá explica que o Governo não consegue bancar todos os gastos com o que arrecada e precisa pedir dinheiro emprestado. “O montante da dívida brasileira corresponde a quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) nacional“, diz.

Essa história vem desde a época em que o Brasil ficou independente e “herdou compromissos com alguns credores ingleses”, segundo explica o economista do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau, Djalma Guimarães. Esse primeiro endividamento foi ganhando somas ao longo da história. “O período militar foi o que contraiu o maior endividamento”, comenta. A dívida também se acumulou nos anos 1970, quando havia mais liquidez (mais dinheiro disponível no mercado). “Quando o governo americano aumentou a taxa de juros, os investidores passaram a investir lá e o governo brasileiro teve que se organizar para pagar os compromissos. Foi quando decretou a moratória da dívida e a inflação subiu”, explica.

Na década de 1990, o Plano Real previa o corte de gastos, melhor organização das despesas e combate à inflação. “Foi aí que se estabeleceu o superavit primário, que determina que uma percentagem do orçamento do Governo seja economizado”, relembra Djalma Guimarães. Junto com a valorização do câmbio, a inflação foi reduzida e a economia estabilizada.

Guimarães explica que o Brasil lança títulos da dívida pública no mercado e as pessoas (ou instituições) os compram, o que caracteriza a dívida interna. “Vale a pena usar o dinheiro da restituição do Imposto de Renda para investir nesses títulos”, diz Guimarães. Mais de cinco mil novos investidores se inscreveram no Tesouro Direto no mês de março, elevando o número de participantes desde o início do programa a 230.997, com crescimento de 25,87% nos últimos 12 meses.

O especialista diz que 40% do orçamento brasileiro é destinado a investimentos, pagamento de pessoal e obras,. Os 60% restantes são para juros e serviços da dívida. Em resumo, é mesmo o maior fator de endividamento do País, “por causa da taxa de juros”, como explica Guimarães. O problema da dívida pública é esse: o dinheiro que vai para pagamento de juros e deixa de ser revertido para coisas mais importantes, como necessidades básicas da população. “Não é interessante para nenhum país pagar a dívida pública externa aos grandes bancos estrangeiros. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela representa 60% do PIB. O que se pode fazer é melhorar a qualidade da dívida”, analisa.