quarta-feira, 15 de junho de 2011

Diploma? A gente tem!

Fez dois anos: estava apreensiva, assistindo ao Jornal Nacional, quando a repórter, direto de Brasília, avisou que o Supremo Tribunal Federal tinha derrubado a obrigatoriedade do diploma de jornalista. Na hora, a raiva foi tão grande que eu sacudi a almofada na televisão e chamei Gilmar Mendes de todos os nomes feios que vieram na minha cabeça. Logo depois, imagem de outro ministro, chamando jornalismo de arte... Arte?

Pois bem. Por ora, estamos na mesma. Periodicamente, recebo o informativo virtual da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), falando da PEC (o tal Projeto de Emenda Constitucional), que revalidará o diploma (se meu São Assis Chateaubriand permitir). Antes garantido por uma emenda (termo muitíssimo adequado), o diploma de jornalista teria sua própria lei. Será reconhecido por lei... vejam só... como se jornalismo fosse pouca coisa. Como se fosse favor.



Eu investi muito na faculdade e morro de orgulho do meu diploma. Orgulho danado de ser jornalista e ter compromisso, de fato. Já recebi tanta crítica por isso. Chamaram-me de positivista, infantil, ingênua - mas todo jornalista tem lá seus rótulos e eu nem ligo pros meus, enquanto forem esses.

É triste que alguém que estudou tanto para chegar onde chegou (imagino eu, sobre o Gilmar Mendes) bata o martelo e determine que seja dispensável estudar para exercer uma profissão tão socialmente importante. Se a sociedade não puder exigir que nós, Imprensa, tenhamos formação universitária, estudo, base, vai exigir o quê? É triste que a gente viva em um país que aprove retrocessos. E antes que falem de novo, não estou puxando sardinha pro meu lado. Eu continuo com meu diploma, com meu salário, com meu cargo de repórter, mas me  preocupo com a condução do Estado, aquele que acha normal não estudar, acha normal fazer de qualquer jeito, na base do remendo. O velho jeitinho, que já perdeu a graça faz tempo.

Você pode até dizer que compromisso, ética, honestidade e qualquer outro item do bom jornalista não se aprende na faculdade; mas ajuda, garanto. Mas, por enquanto, não se preocupe. A imensa maioria (perdoe-me a redundância, mas preciso dar ênfase) dos profissionais que conheço - da equipe da qual participo e de outros jornais - são sérios, competentes, comprometidos (dentro de suas restrições - lembremos sempre que jornal é empresa e empresas têm vontade própria) e bem formados. Diplomados.


PARA NÃO PERDER O HUMOR
Jornalista é um bicho excêntrico, divertido. Então, mesmo falando de coisa séria, cabe uma leveza aqui. Outro dia, estava defendendo a vocação. A do jornalista, acredite, é forte:


Sem vocação, você faz medicina, pelo dinheiro.
Sem vocação, você pode até fazer administração, para tentar colocar ordem em qualquer coisa que aparecer. Não que o emprego vá ser tudo de bom, mas ele existirá...

Mas, sem vocação, você faz jornalismo? Pra quê? Não tem dinheiro, não tem emprego e, acredite em mim, não tem glamour.


Tacy Viard, na época do fim da obrigatoriedade, andava propagando uma frase da sabedoria popular: Diploma, "você não vale nada, mas eu gosto de você".


Duda Rangel, do "Desilusões perdidas", consegue colocar humor nessa coisa toda de ser jornalista. Para lembrar essa data marginal, ele entrevistou o diploma de jornalismo. Lê aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, há um erro nas interpretações equivocadas de formados em Jornalismo. Formados em que mesmo? Comunicação e isso e aquilo....aí já está uma questão. Que formação dá direito a ser formado em Jornal? Em Jornalismo ninguém é formado. O direito de informar e denunciar não pode ser um critério técnico. O STF não anulou nenhum diploma de Formados em Comunicação. Eles são cursos superiores que serão exigidos a todos aqueles e aquelas que trabalharão em EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO, sejam Jornais, TVS e por aí. Serão cursos superiores válidos como qualquer outra formação superior. O que o STF entendeu, e está correto nisso, é que a informação não é propriedade de quem estudou tecnicamante as coisas. É o mesmo que querer que só possam filosofar formados em filosofia, ou querer que só sejam considerados artistas plásticos quem fez curso de artes, ou então achar que só pode ser poeta quem estudou Letras. Ora isso é redículo. Ser professor de filosofia, como eu sou, é uma coisa. Mas filosofar, é bem outra. Ser jornalista, formado em Faculdade de Comunicação, é também uma coisa. Mas daí querer que só formados possam lidar com a informação é um achincalhe a mais elementar bem público: a informação. Não creio que a não obrigatoriedade de formados vá colocar só pessoas meia boa no tal mercado da informação. O formados, e formados em Escolas e Universidades qualificadas não prcisam temer nada.