(...) Aí está o mistério que, realmente, não é mistério. É uma verdade historicamente demonstrada: - o canalha, quando investido de liderança, faz, inventa, aglutina e dinamiza massas de canalhas. Façam a seguinte experiência: - ponham um santo na primeira esquina. Trepado num caixote, ele fala ao povo. Mas não convencerá ninguém e, repito: - ninguém o seguirá. Invertam a experiência e coloquem na mesma esquina, e em cima do mesmo caixote, um pulha indubitável. Instantaneamente, outros pulhas, legiões de pulhas, sairão atrás do chefe abjeto.
(...) Quem ia mudar qualquer coisa neste País? A esquerda tem um canalha para exercer uma liderança concreta e proveitosa? Senhoras entraram no debate. Fez-se, ali, uma alegre pesquisa de pulhas. Mas os canalhas lembrados eram, ao mesmo tempo, imbecis. E o que a História pedia era um crápula com seu toque de gênio. Em suma: não ocorria aos presentes um nome válido. A última palavra foi minha. Disse eu mais ou menos o seguinte: - enquanto a esquerda que aí está não for substituída até seu último idiota, não vai acontecer nada, rigorosamente nada. Um outro, também de saída, com uma certeza em um só tempo jucunda e cruel: - ‘A presente Esquerda não tem competência nem para soltar um buscapé’.
Nelson Rodrigues, para O Globo, em 9 de janeiro de 1968
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