sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Toca Raul!!!!

“Eu não sou besta pra tirar onda de heroi/ Sou flagelado, eu sou caubói/ Caubói fora da lei...”
Esta é a lembrança mais remota que tenho de Raul: tarde de domingo, meu tio já meio “calibrado”, cantando “Caubói fora da lei” ao violão.

Eu adorava essa música, viajava na letra, mas não fazia nem ideia de quem a teria assinado. Aliás, na época, eu ainda pensava que músicas sempre existiram, como uma "geração espontânea"... como se não houvesse uma mão humana em seu processo.

Numa certa segunda-feira, em 1989, eu estava na casa da minha avó quando ouvi Cid Moreira dizer, no Jornal Nacional, que Raul Seixa havia morrido. Lembro-me de ver o clip de "Gita" (abaixo), quando Raul parece flutuar e, depois, em BG, tocarem “Caubói fora da lei”. Foi aí que a ficha caiu. Eu tinha seis anos.




Depois, fui conhecendo mais composições de Raul, quando descobri entre os CDs do meu pai, uma coletânea que tinha um encarte desenhado em cores claras. Imagine o que as letras metafóricas de Raul eram capazes de reproduzir na minha cabeça? Quando ouvia "Eu nasci há 10 mil anos atrás", eu também via Cristo ser crucificado, o amor nascer e ser assassinado, bruxas pegando fogo e, claro, o Conde Drácula se escondendo atrás da capa.

Hoje eu li muitas coisas sobre a data: 20 anos da morte de Raul, cantor baiano que falecera em 21 de agosto de 1989, vítima de si mesmo, aos 44 anos. Li inclusive um post de Paulo Coelho, em seu blog hospedado no http://www.g1.com.br/, em que ele pincela rapidamente sua produtiva parceria com Raulzito.

Reproduzi aqui dois trechos que achei mais interessantes. E, como não se pode deixar de dizer num dia como hoje: "Moço, por favor, mê dê mais duas fichas da radiola. Eu quero ouvir Raul".


Como declarei para a revista “Rolling Stone”, vinte anos atrás eu estava fazendo o Caminho de Roma quando soube de sua morte em uma cabine telefônica. Liguei para o Brasil (como fazia uma vez por semana) para ver se minha mulher estava bem. Tinha três moedas de cinco francos no bolso, um minuto e meio de conversa. Eu disse: “oi Cris, tudo bem?”. E ela: “Não sei se eu te conto”. Caiu a primeira moeda, depois a segunda e daí ela disse: “O Raul morreu”. Caiu a terceira moeda.

(...)



Fico muito contente ao ver que hoje Raul está mais vivo que nunca. Mas não se iludam: em seus últimos anos de vida era motivo de chacota para apresentadores de TV, e sistematicamente ignorado ou atacado pela imprensa. Eu acompanhei isso de perto – não é informação que me passaram. Mais de uma vez Raul me perguntou: “por que os jornalistas me odeiam tanto?” Infelizmente, a tragédia consagra. Assistimos a Jim Morrison no passado, e assistimos a Michael Jackson agora. A imprensa fez tudo para destruir Michael Jackson e, quando ele morreu, a comoção popular foi gigantesca. Longe de mim dizer que Raul morreu porque sentia-se rejeitado – sua morte foi uma escolha, e ponto final, não cabe a ninguém julgar sua decisão. Mas se estivesse vivo, não sei se seu ( ou nosso, dependendo das músicas) trabalho teria a repercussão que merece. Quem tiver paciência, que leia o brilhante discurso feito por Marco Antonio logo depois da morte de Julio Cesar, em “Julius Cesar” de Shakespeare.

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