O fim sempre traz consigo um pesar. Quando ele chega, não há mais espaço para o arrependimento, para dúvidas, para tentativas. Está sacramentado, fechado, concluído; ou não – e se não, impõe-nos os incômodos da frustração. Sabem quando falei sobre Alcides? É por aí...
A morte sempre me dá essa sensação de que algo está impune, inacabado ou de que as coisas poderiam ter sido melhor amarradas, melhor feitas ou resolvidas. Mas ela chega e fecha portas, impossibilita um caminho diferente.
“Eu poderia ter feito...” – poderia, mas não pode mais. Acabou. Soa triste, não?
Na sexta-feira, quando cheguei na redação, soube da morte de Saramago e, nesse caso, a sensação é um pouco diferente. A primeira coisa que pensei foi no próximo livro, na continuidade da obra. Fiquei lendo as notícias e foi dando uma sensação de vazio. Ele é das peças insubstituíveis. Quem escreverá como Saramago neste mundo de tantas obviedades e de palavras politicamente corretas? Quem pensará como Saramago neste mundo de pensamentos limitados, onde pensar é um privilégio?
Há cinco ou seis anos, eu tentei ler “Ensaio sobre a cegueira”, mas não tive paciência para concluir. A pontuação usada pelo escritor me deixava confusa e eu desisti antes de chegar à metade. Meu pai insistiu, elogiou, mas eu preferi deixar Saramago pra depois.
“Ninguém percebe que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino?”
Há seis meses, em dezembro de 2009, entrei numa livraria para cumprir a promessa de ler “Caim”. E li, gostei e mudei minha percepção sobre ele. Saramago é, sim, totalmente compreensível em meio ao festival de vírgulas que promove em cada período imenso, em imensos parágrafos. Foi impiedoso com Deus, fez de Caim, renegado, um protagonista digno. Eu me senti demente diante da construção que ele fez de um mundo que eu julgava conhecer.
O Nobel de Literatura negligenciava a importância do prêmio, mas entristecia-se ao ver as videiras da infância, em Portugal, se transformarem em plantações “extensíssimas” de milho
Eu sinto tanto de tristeza por um fim como estes. Não pela obra, que não ficou inacabada, mas pelas imensas possibilidades que não se fizeram. Eu vou viver pensando no que poderia ter lido se ele não tivesse partido agora.
Sobre a morte, que o levou na sexta passada: “o pior que a morte tem é que antes estavas, e agora já não estás”.
Vale a pena assistir:
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