Na semana passada, no dia 26 de maio, prenderam o assassino de Alcides. Um outro rapaz, de 28 anos, chamado João Guilherme.
Qual o pesar dessa história? Ficamos sem Alcides, ficamos sem o final apoteótico para contar, na desolação da espera que não chegou. A história morreu como Alcides: sem explicações, num estampido. É como um filme de final frustrante - e como toda história que não teve a chance de terminar, dói a dor do inexplicável, dói as dores sem porquês. O que seria Alcides, se João não tivesse lhe cruzado o caminho? Estaria, no final deste ano, recebendo seu diploma de biomédico pelo qual ele tanto se dedicou.
O suspeito pelo crime, Guilherme Nunes da Costa, o Guiga, 28, e o adolescente de 16 anos conhecido por Baby não mataram o jovem por engano, mas sim, para "não perder a viagem". Segundo o delegado Cláudio Castro, responsável pela prisão de João Guilherme nessa quarta, o acusado teria dado o primeiro tiro em Alcides e o de menor, o segundo. A demora na prisão aconteceu porque João Guilherme conhecia o 'modus operandi' da polícia, de acordo com o secretário de Defesa Social, Wilson Damásio.
No fim de maio, Dona Maria Luiza foi recebida pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que num gesto "humanitário" atendeu de pronto ao pedido dela por uma casa. Também providenciou estágios para as duas filhas, que também são universitárias. Dona Maria Luiza saiu do Palácio agradecida, sem saber que, em sua posição, Eduardo representa o Estado omisso que deixa a população à mercê da violência que levou Alcides. Que estender-lhe a mão era o mínimo que ele podia fazer enquanto governante de um lugar tão ingrato quando este. Poderia tentar, mas não consigo me sensibilizar.
Há três anos atrás, quando Alcides passou no vestibular, apareceu em rede nacional como um vencedor, foi recebido pelo reitor da Universidade com toda pompa que um bom exemplo merece. Era digno de tudo aquilo. É digno que, agora, depois de ver o filho por quem tanto lutou morto na porta de casa, Dona Maria Luiza sinta-se "grata" pela bem feitoria do Estado que, talvez querendo aliviar para si mesmo a vergonha, está fazendo o mínimo? Os filhos dela nunca tiveram que deixar os livros de lado para colocar comida dentro de casa. Isso, ela mesma fazia, todos os dias, catando papelão e vendendo espetinhos na rua. E, sem ajuda de homem nenhum, criou os quatro filhos que pôs no mundo com uma dignidade pouco vista. Tirou de onde não tinha o conhecimento para passar-lhes: era o único caminho que poderia ter-lhes apontado para que não tivessem o mesmo destino que ela tivera.
Crédito: Rebeca Kremes (Diario de Pernambuco)
Os links disponíveis neste texto mostram os dois extremos desta história. A alegria da vitória, a satisfação de contar uma história que estava apenas começando e seu final.
E ainda vamos ressuscitar essa história outras vezes. É uma das formas de não deixar Alcides morrer.
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