domingo, 8 de agosto de 2010

Vovô,

Eu tenho tantas cartas e bilhetes endereçados a mim pelo senhor e, somente agora, percebi que ainda não havia retribuído. Acho que o senhor, como exímio “escrivinhador”, sabe o poder das (boas) palavras tanto quanto eu, que desde cedo me peguei vaidosa e emocionada com as linhas que me dedicou tão carinhosamente todos estes anos - 27, para ser mais exata.

Eu tive o grande privilégio de ter crescido sob as asas dos meus avós, os quatro, cada qual com sua peculiaridade enriquecedora. Mas talvez por uma questão de identidade, meus progenitores paternos sempre foram muito “família”, uma coisa próxima e cheia de afeição. Sempre foram colo certo, música boa e abrigo para fins de semana que enchem minha cabeça de boas lembranças.

Todas as minhas festas serão “grandes aniversários” e eu jamais ficarei ofendida de ouvir a expressão “meu menininho” endereça a mim, mesmo sendo a "menina alegre, de sorriso fácil e pensamento ágil". Eu me sentia mesmo o moleque respaldado pela melhor das defesas, liberado para criar o que quisesse, sem perder a identidade feminina sempre tema de versos seus. Tenho e sempre tive o melhor dos advogados.

Como jornalista, preciso noticiar, registrar para a posteridade, todo afeto que nutro pelos dois personagens mais controversos das minhas narrativas. Vovô e vovó, sempre os dois, a reger os atos mais nostálgicos, mas nem por isso tristes, que tenho guardados. O senhor, em especial, é o “DJ” mais importante da minha vida – aquele de quem meu pai herdou o gosto musical que me pauta até hoje. Sempre que alguém me questiona por esse ou aquele “conhecimento” musical que seria muito além da minha idade, “gosto de velho”, como dizem alguns amigos meus, eu delato logo: “vovô sempre ouviu isso”. Assim, eu cresci com certa intimidade com Nelson Gonçalves, Nubia Lafayette, Chico Buarque e por aí vão os sem números de boas vozes que aprendi a gostar a partir da sua radiola. Aliás, a sua radiola, vovô, é algo tão “preenchedor” que eu só sosseguei quando comprei (ganhei, na verdade) uma para colocar no meu quarto. Assim, poderei ter domingos ao som de vinis, como sempre tive.

Orgulha-me muito sentir o amor que meu pai tem pelo senhor, e que ele conseguiu me transmitir. Um amor muito ligado a um profundo respeito pela sua figura bonachona e cheia de palavras de calma a carinho.

Como eu digo a todo mundo: meu avô é uma delícia!
Decididamente, vovô, o senhor é o amor da minha vida.

Um beijo de mangaba.
Tati

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