Lá vinha eu, 22h, voltando pra casa depois de um dia econômico de trabalho, quando ouço um estralo na embreagem do carro. Quebrou, desencaixou ou qualquer coisa parecida, mas o fato é que, pela segunda vez no ano, meu companheiro de quatro rodas me deixou na mão. E foi em um momento bem chato, em uma hora complicada, quando eu só queria chegar ao meu destino.
- Faça isso não, Cascão. Tem IPVA mês que vem... - tentei dialogar.
Liguei pro seguro, pra mãe e fiquei desolada esperando o guincho. Fiquei olhando pra ele que olhava pra mim cabisbaixo, com o pisca-alerta ligado. Parecia pedir desculpas por me deixar na mão, de novo, pela segunda vez no ano.
- Gastei mais de R$ 1 mil em você este mês, te dei banho, troquei óleo, abasteci com gasolina aditivada, e você me faz isso? - pensava. E ele só piscava, pedindo perdão pela ingrata atitude.
A mãe chegou, reclamou dos meus palavrões, da minha cara revoltada de quem tinha sido abandonada pela segunda vez no ano. O guincho chegou, o amarrou, puxou, e eu fiquei com um nó na garganta. Pensava no prejuízo que tive, se caberia outro no orçamento - junto com o IPVA (e uma multa) - e se eu teria mesmo que substitui-lo. Chegou a hora? Afinal, ninguém quer se desfazer de algo que deixará, invariavelmente, lembranças boas. Mesmo que cause ônus hoje, mesmo que sejam dias de oficina, de rotina mudada; mesmo que venha uma conta alta.
Ninguém quer abrir mão daquilo que sabe que funciona na estrada, que consome pouco combustível, que é companheiro de horas de trânsito, que é (e foi) testemunha de tanta coisa. Meu Cascão já foi ambulância, a limousine que levou minha irmã para a noite de núpcias, caminhão de mudança e até já ajudou em obra, carregando cimento.
É carro de jornalista: vive cheio de edições velhas da Folha pelo banco traseiro; quebra pela segunda vez no ano e vira assunto na redação. É carro de quem ama música, de quem vive com os amigos, de quem é o amigo da vez. É carro de quem ama carro e por isso tem quase 60 mil quilômetros rodados. Conhece itinerários nas zonas Sul, Norte, Oeste do Recife, em Garanhuns, Natal, Jaboatão, Serrambi, Tamandaré, João Pessoa, nas ladeiras de Olinda e nas ruas do Recife Antigo, onde roda todo dia, incansavelmente, até encontrar uma vaga honesta.
É carro de jornalista: vive cheio de edições velhas da Folha pelo banco traseiro; quebra pela segunda vez no ano e vira assunto na redação. É carro de quem ama música, de quem vive com os amigos, de quem é o amigo da vez. É carro de quem ama carro e por isso tem quase 60 mil quilômetros rodados. Conhece itinerários nas zonas Sul, Norte, Oeste do Recife, em Garanhuns, Natal, Jaboatão, Serrambi, Tamandaré, João Pessoa, nas ladeiras de Olinda e nas ruas do Recife Antigo, onde roda todo dia, incansavelmente, até encontrar uma vaga honesta.
Hoje eu o vi ser guinchado de novo, quebrado pela segunda vez no ano. Fiquei olhando sumir na rua, sendo guiado por alguém que não era eu. E mesmo pensando que terei prejuízo de novo, pela segunda vez no ano, olhei pra o meu Ka KJO8096 e prometi que vou tentar de novo.
PS: Painho, Cascão quebrou de novo!
4 comentários:
Pra que foi dá banho em Cascão, Tatiana?!
Ele reclama como pode. :-)
PS: Há tempos andei por aqui e hoje, sabe-se lá porque, vim lhe fazer uma visita.
Abraço.
Zé Henrique
Bom vê-lo de novo por aqui, Zé!
=) apareça sempre
Massa, Tatiana!
Aparecerei.
PS: Gosto de quem tem boa memória. :-)
Zé Henrique
Amei! Declaração de amor escancarada ao Cascão! Abs!
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