Eu não sei sentir porque, quando tento, perco o chão, as palavras e a razão. Parto para o tudo e o que me resta acaba sendo o nada.
Eu não sei pensar porque, quando tento, perco os pensamentos, sinto a pulsação e creio que o silêncio é a melhor das respostas ao vazio. Eu não entendo nada de tv digital, nem de manipulação da esfera pública. Tampouco compreendo o que a Veja quer que eu veja em suas capas. Poder? Domínio? Nada... nem sei por qual motivo vou ser jornalista.
Eu não sei o que vou ser. Para saber disso, teria que partir do princípio de que sei quem sou, mas isso não existe. Eu não existo, nem as coisas que me passam pela cabeça. Nem aquilo que sinto, nem o que ouço, o que falo e, muito menos, o que escrevo. Tudo isso é uma alucinação. Minha e sua.
Não leio jornais diariamente, porque ficaria ainda mais revolta com o mundo. Não assisto às novelas porque não tenho tempo para tramas fracas. Não perco tempo tentando perdoar, porque já nem ligo mais para o que as pessoas pensam, mas teimo em perder o sono com o que elas sentem.
Eu admiro Cartola, em sua voz inebriada, a cantar os sambas dos tontos morros cariocas. Os mesmos que vi sozinha pelas janelas dos ônibus, na melhor companhia que alguém poderia desejar por toda vida.
Amo a voz rouca e sem ritmo de Cazuza, a gritar em meus ouvidos aquilo que nunca tive coragem de dizer aos sussurros. Dos “foda-se” nas horas certas aos “eu preciso dizer que eu te amo”, sempre nas horas erradas e aos ouvidos errados.
Ovaciono Chico pela genialidade de transformar música em vida. Tom, por sua mágica de transformar vida em música.
Leio menos do que queria e muito menos do que as pessoas pensam. Penso menos do que gostaria e muito mais do que você pode cogitar. Perco a memória fácil e lembro de coisas que você já esqueceu há tempos.
Sou uma parcela do que serei, milésimos do que queria ser e incontavelmente mais do que podes imaginar. Nem gosto muito de fotografias, queria mesmo aprender violão. Conto mais mentiras a mim que aos outros. Para eles, eu pouco minto, mas sempre me convenço das histórias que invento.
Construo castelos, derrubo muros e crio caminhos pelos quais só eu sei caminhar. Descobri fórmulas e dissertei sobre o nada. Criam-se em mim mundos alheios, invariavelmente desabitados. Não passo pela sua cabeça, nem habito sonhos ou desejos. São realidades imaginárias que me constroem e todos os segundos que compõem nosso tempo juntos. Ele se foi, eu fiquei.
Musique-se
Eu Queria Ter Uma Bomba
Cazuza
Solidão a dois, de dia
Faz calor, depois faz frio
Você diz: já foi
Eu concordo contigo
Você sai de perto eu penso em suicídio
Mas no fundo eu nem ligo
Você sempre volta
Com as mesmas notícias
Eu queria ter uma bomba
Um flit paralisante qualquer
Pra poder me livrar
Do prático efeito
Das tuas frases feitas
Das tuas noites perfeitas, perfeitas
Solidão a dois, de dia
Faz calor, depois faz frio
Você diz: já foi
E eu concordo contigo
Você sai de perto em penso em homicídio
Mas no fundo eu nem ligo
Você sempre volta com as mesmas notícias
Eu queria ter uma bomba
Um flit paralizante qualquer
Pra poder te negar
Bem no último instante
Meu mundo que você não vê
Meus sonhos que você não crê, não crê...
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