No fim de semana, no Recife Antigo, estacionei a moto e fui em busca da primeira rodada de cerveja. Seria a primeira, de incontáveis.
O barato, dipensei. Só no álcool, esperei que ele passasse. Dentro do bar tocava algo entre Vinícius e Ney; algo parecido com isso, mas não me recordo agora.
Na verdade, tocava Gil.
No meio da coleção de camisetas customizadas, os olhos verdes dele, cintilavam com toda força. E eu larguei o copo, levantei. Comprei fichas pra radiola e colei o nariz no vidro:
- Elis, Cazuza, Gonzagão, Zé Ramalho...
Pus um samba de Cartola e muita gente careta torceu o nariz. Ele, sem pestanejar, olhou em minha direção, levantou, largou o copo e veio. Chegou, enlaçou-me pela cintura, encoxou-me [como só ele o faz] e me tirou dali. Era a senha.
♪ ♪ Alvorada lá no morro que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo
Tingindo, tingindo
Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando meus caminhos tão sem vida
E o que me resta é bem pouco
Quase nada de que ir assim
Vagando numa estrada perdida ♪♪
Ninguém viu nada, mas era como se houvessem holofotes e aplausos para os nossos compassos. E saímos.
Da cerveja, pra vodka. Vinho e cachaça pura, na areia.
Mas aí, antes do nascer do sol, antes do fim da noite, ele pega minha mão e propõe a prisão eterna.
Olho para o anel que brilha.
Olho para sua expectativa. Tiro o compromisso, coloco-o em sua mão, levanto e saio.
♪♪ O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer... ♪♪
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