terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Herivelto e Dalva, por Maria Adelaide Amaral


Eu sou grande apreciadora do trabalho de Maria Adelaide Amaral, que agora assina “Herivelto e Dalva”, que estreou ontem na TV Globo, uma adaptação de “Minhas duas estrelas”, biografia do casal Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, escrita pelo filho Peri Ribeiro. A julgar pelo primeiro capítulo, este é mais um bom fruto do sentimentos de Adelaide, mas deixemos o veredicto pra o fim da semana, quando terminar a série. A quem interessar, estes são os links já disponíveis no youtube:
 



Comecei a prestar mais atenção em Maria Adelaide Amaral em janeiro de 2008, quando a Globo começou o ano com a minissérie “Queridos amigos”, adaptação da obra da própria autora “Aos meus amigos”. Às vésperas daquela estreia, a autora me concedeu uma entrevista por e-mail, falando daquele e de outros trabalhos que assina, diria eu, com talento e delicadeza admiráveis.

Divulgação TV Globo / Bob Paulino
1. Quais são os temas mais abordados na sua obra?
Na minha obra teatral e literária, sem dúvida, os temas predominantes são os jornalistas e seu universo.

2. Como eles são escolhidos, como você chegou à temática?
Trabalhei 20 anos na (editora) Abril. Vivi nesse universo e convivi intensamente com suas personagens, sendo eu mesma, uma delas.

3. Quais fatos estão retratados em "A Resistência" e em que ano foi escrito?
A peça foi escrita em 1974, no momento em que estávamos vivendo na Abril aquilo que em linguagem jornalística se chama de “passaralho”, que é demissão em massa. Foram demitidas mais de 100 pessoas naquele ano.

4. Qual seu primeiro texto que virou novela?
Comecei em 1990 na Globo, como colaboradora do Cassiano Gabus Mendes em “Meu bem, meu mal”. Depois trabalhei com o Silvio de Abreu em duas novelas, “Deus nos acuda” e “O mapa da mina”. Minha primeira novela foi “Anjo mau”, um remake de uma obra do Cassiano. “A Muralha” foi inspirada no livro da Dinah Silveira de Queiroz, “Os Maias”, do Eça (de Queiroz, escritor português); e “A casa das sete mulheres” no livro da Letícia Wierzchowski.
Em “Um só coração” e “JK”, falei de pessoas reais ancorada nos livros (e foram muitos) que falavam sobre a sua história e da História do período em que viveram. Agora (em janeiro de 2008), com a minissérie “Queridos Amigos”, adaptação do meu romance “Aos Meus Amigos”, é a primeira vez que escrevo uma obra inteiramente minha para a TV. No teatro e na literatura quase sempre fiz isso.

5. "Cemitério sem cruzes" foge muito da sua temática habitual?
Escrevi “Cemitério sem cruzes” para a Feira Brasileira de Opinião, organizada pela atriz e empresária Ruth Escobar, que não aconteceu porque foi proibida em bloco pela censura. Cada um dos autores foi chamado a escrever sobre um problema do momento. Escolhi os operários da construção civil, nordestinos vivendo em condições subumanas nos canteiros de obras de São Paulo.

6. Podemos separar as suas obras em fases? Quais seriam?
Minha obra teatral tem uma fase voltada para o social até 1983. “Chiquinha Gonzaga, Ó Abre Alas”, desse ano, é uma biografia musical com tom épico, que na verdade é a primeira peça sob encomenda, como seria “Mademoiselle Chanel” e “Tarsila”, muitos anos depois, as duas também de caráter biográfico. Em 1984, abre-se a fase das peças intimistas com de “Braços abertos” que prosseguiria com “Para tão longo amor”, “Querida mamãe” e “Intensa magia”, todas montadas nos anos 90.

7. Qual o melhor dos seus protagonistas (homem ou mulher) e quem o interpretou com a fidelidade esperada?
Sérgio e Luisa da peça de “Braços abertos” interpretados por Juca de Oliveira e Irene Ravache - os dois antológicos. Mauro Mendonça foi um extraordinário Alberto em “Intensa Magia”. Marília Pêra foi a própria Mademoiselle Chanel. Na televisão, Camila Morgado em “A casa das sete mulheres” e Wagner Moura em “JK”.

8. Você tem uma obra sua preferida?
No teatro de “Braços Abertos”. Na literatura “Aos Meus Amigos” e na televisão destacaria “A muralha” e “Os Maias”.

9. E de outro autor?
No teatro, “Rasga coração” de Oduvaldo Vianna Filho, e na literatura, “Memorial do convento” de José Saramago. Na televisão, a minissérie “Anos Dourados” de Gilberto Braga.

10. O que há de Portugal em suas histórias?
Em 1993, em Portugal, uma jornalista me ligou para marcar uma entrevista na RTP e desculpou-se por não conhecer a minha obra. Deixei na portaria do hotel o romance “Luisa”, que tinha inspirado de “Braços abertos”, que estava estreando naqueles dias em Lisboa.
Quando nos encontramos para a referida entrevista na televisão ela me disse que tinha encontrado no romance a minha alma portuguesa. Acho que ela se referia ao pathos lusitano que, apesar de mais de 50 anos no Brasil, continua impresso em mim, como um DNA.

11. Do que fala o romance "Aos meus amigos"?
O que motivou o romance foi o suicídio do Décio Bar, em 1991. Estudamos juntos no Colégio Estadual de São Paulo e nos reencontramos na Editora Abril, na década de 70. Ele foi uma das pessoas mais brilhantes que conheci: poeta e escritor, arquiteto, artista plástico, cineasta, jornalista. Era também muito exigente a respeito do seu trabalho.
Décio influenciou meu gosto e minhas preferências ou idiossincrasias culturais. Sua morte me abalou profundamente e mobilizou a vontade de falar sobre ele e nossa geração. É a história de qualquer geração que lutou para mudar a História e a mudou de certa maneira. É, sobretudo, uma história de fraternidade, de solidariedade, de tolerância e de afeto, muito afeto, sempre.
                             Divulgação TV Globo / Bob Paulino


12. Quem são seus amigos?
Lídia Aratangy, Milu Villela, Elio Gaspari, José Arthur Gianotti, Irene Ravache, Regina Braga, Drauzio Varella, Alcides Nogueira, Silvio de Abreu, Moema Cavalcanti, filha de Paulo Cavalcanti, que também era meu amigo. São tantos, tenho tantos amigos, graças a Deus. Alguns são psicanalistas, outros atores, jornalistas, médicos e até astrólogos como a Graziella Marraccini e a Graça Medeiros.  Continuo mantendo amizade com muitos colegas da Abril e realmente constituímos uma família de eleição como está referido na minissérie. Entre eles estão Vicente Adorno, Isabel Raposo, Della Luz, Carmen Righetto, Carolina Andrade, Celso Curi, Izabel Telles, o Vladimir Sachetta, a Inês Zanchetta, o Juca Kfouri e muitos outros.  Alguns continuam no ramo, outros mudaram, alguns se tornaram esotéricos. A gente se encontra com alguma regularidade. No caso da Carmen e do Vladimir sempre, uma vez que trabalham na área de pesquisa e consultoria de alguns de meus trabalhos para a tv, inclusive em “Queridos Amigos”.

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