Assistir ao filme que conta a vida do presidente Lula desperta dois tipos de tristezas. A primeira delas é reconhecer que as mazelas sociais do Brasil de cinco, seis décadas atrás são praticamente (para não dizer totalmente) as mesmas. A outra é devida a uma enorme sensação de fracasso. O filme passa uma sensação de pobreza, ultrapassa o tempo pincelando a história sem grandes profundidades – nem na vida do presidente, nem nos rumos do Brasil. Passa a impressão de ter sido feito às presas, nas coxas, o que talvez acirre as línguas que insistem em afirmar que “Lula – o filho do Brasil” é uma película meramente eleitoreira. Mas talvez o filme de Fábio Barreto não mereça uma descrição tão simplória. Independente de qualquer coisa, é bom lembrar que ele conta uma história surpreendente (embora todo mundo já conheça o final).
Baseado no livro homônimo escrito pela jornalista Denise Paraná, o “Lula – o filho do Brasil” das telas confunde o expectador pelas quebras abruptas na história de Luis Inácio da Silva, pernambucano, retirante, filho de Aristides (homem nordestino, beberrão, que bate na mulher e filhos) e Dona Lindú, mãe forte que acaba se tornando o eixo do contexto. A construção empobrece a história do torneiro mecânico que virou presidente do Brasil de tal forma que pouco se salva. Exceto pela história em si e pela atuação de Glória Pires (Dona Lindú), que dispensa predicados, e de Rui Ricardo Diaz (Lula), não sobra grande coisa.
Rapidamente, segue o seguinte: Dona Lindú, grávida do sétimo filho, vê o marido, Aristides, ir embora para o sudeste, como faziam (ainda fazem) vários pais de família. Ele segue com outra mulher, também grávida. Na cena seguinte, Lula nasce pelas mãos de uma parteira. Já grande, conhece o pai, quando vai com a família para Santos. (litoral de SP) Abrem-se cenas de agressão paterna. Lula se forma torneiro mecânico pelo Senai (aí sim, uma cena dignamente emocionante), começa a trabalhar, perde o dedo.
Com a indenização, compra uma casa e casa-se com Lurdes, que morre por falta de cuidados médicos, na hora do parto. Lula fica sem a esposa e sem o filho e, para aliviar a dor, se envolve com o sindicato dos metalúrgicos. Na sequência, conhece Marisa, uma jovem viúva com um filho pra criar. Ziza, irmão irmão de Lula, é preso pelo DOI-CODI em plena ditadura, por comunismo.
Vira presidente da classe, lidera greve, perde o pai (que morre de cirrose), casa com Marisa. Morre Dona Lindú, em 1980. Em 2003, Lula é eleito presidente. E o resto, você já sabe (é bom que saiba, por que o filme acaba aí). Nesse pique.
Vira presidente da classe, lidera greve, perde o pai (que morre de cirrose), casa com Marisa. Morre Dona Lindú, em 1980. Em 2003, Lula é eleito presidente. E o resto, você já sabe (é bom que saiba, por que o filme acaba aí). Nesse pique.
Faltou trilha, faltou fotografia. Bom roteiro perdido. As expectativas para a bilheteria estão sendo revistas, já que não atingiram o esperado nas duas primeiras semanas de exibição. A ideia é que chegue aos 2 milhões de expectadores, muito aquém dos também brasileiros “Se eu fosse você 2” e “Dois Filhos de Francisco”, que ficaram nas margens dos 5 milhões, mas muito para os "padrões da indústria nacional", dizem.
Ah, uma coisa chama atenção. Logo no início, o expectador fica sabendo que o filme não recebeu dinheiro público. Todos os R$ 16 milhões, que fizeram de “Lula – o filho do Brasil” ser o filme mais caro já produzido no País, vieram da iniciativa privada.
Ah, bom saber. Mas, para tirar a prova dos nove, confira.
Fotos: Otávio de Souza
Fotos: Otávio de Souza
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