domingo, 31 de janeiro de 2010

Mas é Carnaval...


O ouvido apita e os dedos do pé ardem. A coluna também reclama do longo tempo em pé, sem descanso. Daqui da janela, eu vejo o sol nascer por entre os prédios (moro aqui há uns sete anos e nunca tinha visto), num momento rápido de insônia. Não são coisas da idade; são coisas de Carnaval.

Coisa de Carnaval é ser motivo de piada por causa da fantasia, mas incorporar o personagem. Esta noite, eu me senti Mônica de verdade e vi piratas, colombinas, pierrôs, abelhas, joaninhas e faraós aos montes – em alusão ao grande sucesso de Margareth Meneses, grande atração da noite (quando a baiana entrou no palco, já passava das 3h). Pouco antes, o palco foi da excelente Orquestra da Bomba do Hemetério, regida pelo igualmente excelente Maestro Forró. E gente saindo por todos os espaços.

O Balmasqué, em sua 62° edição, quis inovar, atrair um público diferente. Abriu mão da fantasia obrigatória (mas boa parte ainda lembrou-se da máscara), variou convidando artista baiano (olha lá, não somos tão bairristas assim), arrasou na decoração do salão, que ficou entupido de gente. Pecado mesmo foi ter mantido a festa no Clube Internacional do Recife que, apesar de lindo, não tem arcondicionado. A galera suou em bicas.

Os bailes tradicionais daqui do Recife, assim como o Carnaval de Olinda, guardam lembranças dos festejos antigos. Mesmo que espaçadas, as marchinhas (“Bloco das Flores, Andaluzas, Cartomantes...”) continuam lá pra quem quiser cantar entusiasmadamente, mesmo que sejam as mesmas de todos os carnavais que você já viveu; mesmo que, quando chegue a Quarta-feira de Cinzas, ninguém agüente mais seus versos (“Madeira do Rosarinho, venha à cidade sua fama mostrar...”).

Carnaval parece que é época de investir na fantasia, sim, mas igualmente é tempo de vestir qualquer tralha que se veja pela frente. Inclusive, é fantasiar que se é a mulher maravilha quando se está mais para Rei Momo. Vi cada trepeça que é difícil descrever, mas elas fazem parte da festa, peças fundamentais da diversão. Há também os tipos peculiares, seres abarrotados de hormônios, montados em saltos altíssimos. Não tem problema, ali tem espaço pra todo mundo, pra todo tipo de gente.

E Carnaval também é tempo de gritar “Volteeeeei, Recife, foi a saudade quem me trouxe pelo braço”, embolar o “quero ver novamente Vassouras na rua abafando” e retomar o ritmos em “tomar umas e outras e cair no passo”.

Lotadíssimo, o Clube Internacional ferveu, no sentido literal da palavra, mas foi uma festa bonita de sentir, tranqüila. Com certeza, não deve ter a elegância e o glamour de seus primeiro anos, mas preserva o hábito curioso e muito bem cultivado por nós: o de fantasiar.

(...)
Mas é carnaval
Não me diga mais quem é você
Amanhã, tudo volta ao normal
Deixe a festa acabar
Deixe o barco correr
Deixe o dia raiar
Que hoje eu sou
Da maneira que você me quer
O que você pedir
Eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser

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