terça-feira, 25 de maio de 2010

Seleta (2) - Mulher sem razão



Saia dessa vida de migalhas
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou
Caia na realidade, fada

Olha bem na minha cara
E confessa que gostou
Do meu papo bom
Do meu jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar
Mulher sem razão
Ouve o teu homem

Ouve o teu coração

Ao cair da tarde
Ouve aquela canção
Que não toca no rádio

Pára de fingir que não repara
Nas verdades que eu te falo
Dê um pouco de atenção

Parta, pegue um avião, reparta
Sonhar só não dá em nada
É uma festa na prisão

Nosso tempo é bom
E nós temos de montão
Deixa eu te levar então
Pra onde eu sei que a gente vai brilhar

Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
Batendo travado
Por ninguém e por nada
Na escuridão do quarto

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Essa música está em "Burguesia", último álbum de Cazuza em vida. A versão mais conhecida é a cantada por Adriana Calcanhoto.
Acho que diz muita coisa. Cazuza compôs os versos para a amiga Bebel Gilberto.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Seleta (1) - O tempo não para



Disparo contra o sol, sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara
Cansado de correr na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijos de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se você achar que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Por que o tempo, o tempo não para

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para não, não para

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando uma agulha num palheiro
Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor se escolhe, é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros

Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina está cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para (...)

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Essa, com certeza, eu não esqueço mais!

domingo, 23 de maio de 2010

Jornalismo sobre qualquer matéria

Lembro quando tinha acabado de reabrir o curso de jornalismo e fui para um congresso de comunicação aqui no Recife. Um dos palestrantres, o jornalista Ricardo Noblat, profetizava que dali a alguns poucos anos, seria o fim do jornalismo impresso - sentença de morte para o papel.

Achei os argumentos dele falhos. Fosse a tecnologia o grande algoz do jornal "de papel", pelo mesmo motivo, o rádio estaria somente na lembrança, depois de ter visto seus ouvintes virarem telespectadores. Teria pendurado as chuteiras nos anos 50, pedido aposentadoria e cedido espaço para a moderna TV. Mas o rádio continua aí, firme, funcional em seu cargo de companheiro inseparável. Quero conhecer motorista que não precise dele.

Não é simplesmente por ser declaradamente apaixonada pelo jornal impresso, de gostar de pegar e sentir aquele cheiro ruim de tinta. Nem é pelo meu lado emotivo-canceriano que se manifesta quando, ao largar do dia de trabalho, já perto das 21h, vê e ouve as rotativas do jornal trabalhando.

Os grandes já põem em prática algumas mudanças substanciais para adequar a velha arte da imprensa aos novos tempos da tecnologia. Aos antigos e aos bons tempos, o sempre bom e bem feito jornalismo.

Vídeo interessante sobre o tema, clique aqui.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

No meio do hiato, a luz

Eu ando correndo e até conseguir fazer uma danada de uma prova de linguística, não tenho como parar para deixar algo decente aqui. Mas no meio deste hiato, eis que surge uma pequena chama de esperança (credo, essa pesou).

Hoje, quarta, é dia de quê? Dia da coluna de Ivan Martins. Então, como de praxe, dou meu pulinho lá e eis que me deparo com algo, no mínimo, interessante:


Ao contrário de tantos brasileiros por aí, que falam sobre a mente feminina como quem descreve um sabugo de milho, eu admito ignorância sobre as razões que movem o gênero oposto. Seres humanos são sempre misteriosos e geralmente incompreensíveis. As mulheres, por diferentes de mim, constituem um enigma ainda maior.


Ivan, qualquer coisa, meu telefone é o (81) 91...
 
Ops..
Desculpa, gente. Vou embora estudar...

sábado, 15 de maio de 2010

Vão fechar o Canecão?

Estava correndo pra almoçar quando ouvi na televisão da redação que a UFRJ tinha conseguido a reintegração de posse do prédio onde, desde o fim de década de 60, funciona a casa de shows Canecão. Voltei da porta pra conferir se tinha ouvido direito. E tinha.

A ação movida pela Universidade tem mais de 40 anos e o reitor Aloízio Teixeira acompanhou a ação do oficial de justiça e da Polícia Federal, porque funcionários do Canecão não teriam respeitado a decisão da Terceira Vara Federal do Rio de Janeiro. Na segunda passada, 10 de maio, não houve apresentações e o agentes lacraram as entradas da casa com fitas e cadeado. O acervo da casa pertence ao atual administrador, então será feito um levantamento de todas as coisas. Depois, dizem, vão reunir os artistas para discutir projetos futuros.

Fiquei mais "tranquila" quando soube que o Canecão não será desativado, apenas mudará de gestão. Isso foi o que prometeu o "prefeito da Cidade Universitária", Hélio de Matos, mas ele não soube dizer que a  ação prejudicará a agenda da casa. “Não há pretensão alguma de acabar com a casa de espetáculos. Isso não passa pela cabeça da UFRJ. O Canecão é um patrimônio cultural do Rio de Janeiro. O que muda apenas será gestão. A UFRJ passa a gerenciar o local”, afirmou.

(Ainda bem que ele sabe disso)

No ano passado, a Procuradoria Regional Federal do Rio deu parecer favorável à universidade. Na época, além de devolver o espaço, o Canecão teria que pagar uma indenização à universidade. Uma série de recursos, porém, permitiu que a casa de shows continuasse funcionando.

Consta que o imóvel foi cedido pela universidade à empresa em 1992 e a previsão contratual é que a cessão durasse cinco anos. As disputas se acirraram em 1997, quando a empresa deveria ter desocupado o local.

Mas não desocupou, né? Tanto que, em janeiro de 2007, eu estive lá para assistir ao show "Carioca", de Chico Buarque. Olha lá meu registro no dia:



Só espero que o impasse não feche as portas do Canecão, que é um espaço emblemático da história da música brasileira e mundial. Foi aberto em junho de 1967, como uma grande cervejaria com espetáculos de variedades. Com o passar do tempo, o espaço passou a ter shows de MPB e recebeu grandes astros como Cazuza, Elis Regina, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Clara Nunes e Elizeth Cardoso.

domingo, 9 de maio de 2010

Memória para não esquecer

Fez três meses que Alcides morreu. Três meses que o mataram, do nada, quando ele já estava pertinho, pertinho de pôr as mãos em seu suado diploma de biomédico. Ele ia terminar o curso em setembro e encher, de novo, o peito de Dona Maria Luiza de orgulho. Eu estudo na UFPE, mesmo lugar onde ele estudava. Muitas vezes, quando vou chegando para assistir aula, lembro-me dele.

Nesses três meses, nada de assassino preso. Nada de justiça feita. As coisas continuam onde pararam: no nada, no vazio, no silêncio que Alcides deixou.

O assunto continua como destaque do Blog de Jamildo, numa tentativa que ninguém esqueça que mataram Alcides.

Nada ainda. Nada.
Vamos continuar no nada?

Encontrei com a mãe dele, dona Maria Luiza, hoje pela manhã. Ainda estava vestida de orgulho, com o jaleco branco do filho. Faltava bem pouquinho para ela dizer ao mundo que era mãe de um biomédico. Pouquinho para dizer que não era mais uma. Contou todo o sofrimento. Disse que ainda se agarrou com os assassinos. Mas não teve jeito. Conseguiu evitar apenas o terceiro tiro. Os dois primeiros já haviam interrompido o seu maior sonho. Maria Luiza voltou a ser mais uma.
Clique AQUI para relembrar na íntegra.

Eu vou continuar lembrando...

"E na sua meninice/Ele um dia me disse que chegava lá..."

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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Evolução do ser

Eu gosto muito de Lobão e sou fã do seu último álbum, o Acústico MTV. Além dos motivos óbvios, acredito que ele se reinventou ali, deu acabamento às próprias obras. Diria que ele conseguiu evoluir e chegar ao melhor num misto de qualidade acústica, voz e arranjos.

Esta é minha opinião de fã e de expectadora de dois shows desse álbum que, aliás, levou o Grammy em 2007. Como me disse o próprio, na época, "era pra fazer o melhor". E no propósito de fazer um "concerto de rock", Lobão acertou em cheio.

Para que se possa tirar conclusões próprias, escolhi duas versões do clássico "Me chama", uma das minhas favoritas, com uma letra linda (inclusive, regravada por João Gilberto, numa interpretação, segundo Lobão, "tão ruim" que ele nem ouviu).
A primeira é ainda da década de 80, num clipe tosco (como boa parte das produções da época) com um Lobão de voz fina que chega a confundir. O segundo é o último álbum. Ouçam e avaliem.







E aí?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Comentário breve e com dor de cabeça

*postagem atualizada com links.

Ah, o tempo. Tem gente que vive correndo dele, tentando inutilmente evitar suas marcas, e tem quem viva querendo que ele passe logo, para que apareçam soluções que só ele pode trazer.

Eu preciso dele, de mais dele. Preciso de tempo para organizar papelada, pra pôr as contas em dia, para chegar mais cedo no trabalho, pra conseguir ir pra academia e, muitas vezes, preciso de tempo pra pensar. Colocar a cabeça no lugar é uma tarefa que venho adiando muito. Aparecem outras prioridades, sempre mais urgentes, e o sujeito em primeira pessoa do singular vai ficando pra depois. Sempre pra depois.

Hoje eu estava brincando com um amigo, depois que lemos a ideia que um designer teve em São Paulo: me dá um conselho? Pra mim, ele aconselhou um chicabom; pra ele eu aconselhei tempo pra si mesmo.

Muito ruim a sensação de tempo perdido. Pra quê serve tempo perdido?

ps: Sabe o que é bom nisso tudo? Tem um expediente feliz, todos os dias, apesar do tempo, apesar da correria...



DELE: Sr. Nelson Rodrigues