segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Com Keith, num sábado à tarde [e num domingo à noite]



Estava por aqui aproveitando um momento ócio, que há tempos não me dou, e lembrei da minha penúltima ida a São Paulo, em agosto, quando visitei a exposição de Keith Haring, no Conjunto Nacional.



Eu gosto bastante do tipo de obra, das cores e, principalmente, do que ele comunica. Haring, assim como Cazuza, foi contaminado pela Aids na década de 80. Cazuza disse certa vez que, lendo sobre a doença, teve certeza de que seria "tocado" - Keith Haring disse:

"Em minha vida, fiz muitas coisas, ganhei muito dinheiro e me diverti muito. Mas também vivi em Nova Iorque no ápice da promiscuidade sexual. Se eu não pegar Aids, ninguém mais pegará".


E aproveitando o ínicio da madrugada da segunda...




Nessa exposição, ganhei um exemplar de "O livro da vida", escrito em memória desse artista americano que nasceu em 4 de maio de 1958 e faleceu em 16 fevereiro de 1990, em decorrência de complicações causadas pela Aids. No livro, há passagens bem interessantes a respeito da forma como Haring lidou com a doença. Segundo Antonio (infelizmente, não sei de quem se trata, mas ele assim assina o texto), Haring era um ser disciplinado e aplicado em seu trabalho, "uma pessoa transbordando otimismo, luz, humor e alegria".

Após o diagnóstico da contaminação pelo vírus da Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida (Sida, na sigla em Português), Keith Haring tornou-se assíduo na procura de tratamento e de informações sobre a doença. Mas, claro, seus alegres e coloridos desenhos tornaram-se sombrios. [O mesmo aconteceu com Cazuza - principalmente as músicas de "Burguesia" têm o peso da doença na vida do artista].


Não surpreendemente, apesar de enérgico como sempre, sua vida tornou-se um pouco menos otimista - não em razão de alguma auto-piedade, nem a atitude envenenada e temerosa em relação ao HIV/Aids nos anos 80, os preconceitos terríveis e a demonização da comunidadegay em particular e a inutilidade de todos os tratamentos disponíveis. Como pessoa, ele se tornou um pouco mais reservado e um pouco menos "disponível". Trabalhou mais do que nunca, viajou mais do que nunca, doou mais generosamente do que nunca e quando veio a público com o seu diagnóstico (...), experimentou em primeira mão as reações mistas que essa confissão traz. (Pimblott et al, sem data)



Bem semelhante aos problemas enfrentados por Cazuza aqui no Brasil. E sabe o que mais? Eu não tenho como terminar esse post de forma melhor do que dar voz ao próprio Keith Haring:


Não importa quanto tempo você trabalhe, sempre vai terminar em algum momento. E há sempre coisas deixadas inacabadas. E não importa se você viveu até 75 anos. Ainda haveria novas ideias. Ainda haveria coisas que desejou ter concluído. Você pode trabalhar por várias vidas. Se eu pudesse me clonar ainda haveria muito trabalho a fazer - mesmo se houvesse cinco de mim. E não há arrependimentos. Parte da razão de eu não estar tendo dificuldade em enfrentar a realidade da morte é que ela não é uma limitação, de certa forma. Poderia ter acontecido a qualquer momento, e isso vai acontecer um dia. Se você vive sua vida de acordo com isso, a morte é irrelevante. Tudo o que estou fazendo agora é exatamente o que eu quero fazer".

2 comentários:

Tacyana Viard disse...

Menina, ensaio para artigo científico? Citações e tudo o mais. =D

Tatiana Notaro disse...

Tacy, sem querer, vc me deu uma boa ideia!