Criar mundos requer responsabilidade - construções inacabadas podem desfazer ilusões vitais, essenciais, que terminam fragilizados pelo tempo.Momentos de silêncio, de uma contemplação dolorosa do próximo, que apesar de perto, parece longe o suficiente para ser paupável e ilusório ao mesmo tempo.
Vazios sempre fizeram parte, mesmo depois da última lição aprendida. Doação demais dói tanto quanto os arrependimentos dos titubeiam. Mas há a chance de construir certezas, mesmo que sejam fragéis como um castelo de incontáveis cartas de amor. "Ridículas..."
A busca pelos vocábulos parece corroer os sentimentos. Palavras não têm o poder de transpirar, elas unem-se e não somam forças; perdem o significado por que a vida já perdeu há tempos. E foram-se os sentidos.
Como bom lutador, tento agarrar-me aos últimos fios de sonho, que desfiam lacerando e tornando nada o que havia de mais valioso.
São ausências, quando se pretendia presenças; juntam-se amarguras quando se queria um outro sabor, só pra variar do gosto. Consegue-se silêncio, quando deseja-se retorno. Restam lamúrias, quando se queria conquistas. Desvalores de ações, pouco importa.
E resta o tempo para ser apreciado. Se o medo de outrem, ou qualquer outra falta de desejo que o freie, deixa a gélida sensação dos deveres descumpridos, entre a razão, prova-se que todos os caminhos foram percorridos, mas nem todos os perigos foram enfrentados. E ainda doem.
O que se tem por fim, enfim, são palavras válidas que perdem direito de trânsito. - proibidos sentidos, pensamentos sob censura, cláusula para os sonhos. O que resta é pouco e já não aquece as ingratas mãos que, por hora, ainda estão disposta a continuar ferindo a si mesmas pelo desejo de divisas da existência.
E já que as palavras, por quaisquer que sejam, parecem ínfimas em suas funções, é permitido a elas calar. Se o silêncio antes fora condenável, hoje é questão de honra ou sobrevivência;. Cada vez que é quebrado, perde-se um pouco da pulsação e, em pouco, ele se tornará insuficiente às funções. É a morte do eterno que jamais existiu.
UTILIDADE PÚBLICA (?) - E nesta quarta-feira quente de lascar com uma bobagenzinha que eu encontrei no site do G1: uma doceria britânica está fazendo bolos para "festas de divórcio". Sim, sim, você leu certo - DIVÓRCIO. Dá uma olhada, que belezinha:
A Pink Rose Cakes oferece bolos personalizados, com noiva empurrando noivo, pombinhos atirando com rifles um no outro e ainda os dizeres "enfim, livre!". A dona da doceria, Fay Miller, diz que muitas pessoas consideram a guloseima "insensível", mas outras vêem os bolos como "um final apropriado pra um período de sua vida - e também uma oportunidade de fazer festa", segundo publicou o G1.
Os bolos de divórcio custam entre 300 e 500 libras esterlinas (algo entre R$ 850 e R$ 1.500). Segundo Fay, "têm finalidade de incentivar uma 'atitude positiva' diante da adversidade" [hahahaha]. Ela disse ainda que quer "surfar na onda" de produtos feitos para quem está no processo de separação. "Acho que as pessoas estão definitivamente se dobrando à idéia de gritar para o mundo que elas estão de volta no mercado"(!), disse a doceira.
E, só veja que coisa: Em países como a Grã-Bretanha e a Áustria já existem "feiras do divórcio". Os produtos em exposição são serviços de advogados e empresas, para ajudar os ex-casados a ter um processo o mais pacífico possível.
Aí, só pra contriar, vem o IBGE e afirma no relatório "Estatísticas do Registro Civil referentes de 2008" que o total de casamentos registrados no Brasil aumentou 4,5% entre 2007 e 2008. Mas que maravilha...
Melhor ainda é a justificativa: "a melhoria aos serviços de registro civil de casamento, a maior procura dos casais por formalizarem suas uniões consensuais, incentivados pelo código civil renovado em 2002 e as ofertas de casamentos coletivos promovidos contribuíram para este crescimento estatístico".
Números de separações e divórcios também entraram na pesquisa. O maior índice de relações rompidas foi registrado no Distrito Federal, que teve índice de 3%. E parece que o processe de desfazer casamento anda menos traumático (ou menos trabalhoso), já que 76,2% das separações judiciais foi obtiva em consenso das duas partes. Melhor parte: "separações judiciais de natureza não consensual foram, em 71,7% dos casos, requeridas pelas mulheres".
JORNALISTA FALIDO - Me chamou atenção (por motivos óbvios) a sinopse de "Se nada mais der certo" (BRA, 2008. 16 anos), filme dirigido por José Eduardo Belmonte, que tem Cauã Reymond e Leandra Leal no elenco.
Ainda não vi o filme (que está em cartaz no Cine Rosa e Silva, aqui no Recife), mas as informações disponíveis dizem que o longa, produzido em 2008 com lançamento previsto para abril novembro de 2009, trata sobre “ser ninguém numa cidade qualquer e o profundo mal estar que isso pode causar”. Vou esperar para averiguar pessoalmente. Quem quiser saber mais, basta entrar no site do filme, clicando aqui. Segue a sinopse:
Aquele jogo na Barra Funda não deu certo, aquele serviço com o gordo não deu certo, aquele truque do Antenor não deu certo, aquele negócio com o padre também não deu certo, aquele cara que o Abílio pediu pra votar não deu certo de novo, aquele trampo era roubada, aquela cd pirata que comprei não funcionou, aquele fim de semana choveu... mas, tudo vai dar certo.
Leo é um jornalista endividado, que faz alguns trabalhos esporádicos, pelos quais não recebe pagamento. Falta-lhe dinheiro para tudo: aluguel, para a esposa anoréxica e viciada, o filho dela, o salário da empregada. Para tentar sanar suas dívidas, ele acaba se envolvendo em golpes armados por Marcin.
ARTISTAS PELA VIVA CAZUZA - Artistas posam para calendário da L’Oreal em benefício da Sociedade Viva Cazuza (SVC). Os calendários custam R$ 10 e estão à venda em mais de 100 salões de beleza em todo País. Informações: 0800-7017237. Conheça a SVC: www.vivacazuza.org.br.
Em tempos de gripe suína ainda assombrando, uma pessoa propensa aos vírus fica ainda mais vulnerável. Então desde que a Influenza A desembestou lá pelos lados do México, Eddi passou a sentir calafrios todos os dias, sempre acompanhados pela sua “lamúria-chavão” já consagrada: “Ow, amigo... estou muito doente”.
Toda turma que se preze, sem grandes exceções, cumpre seus requisitos de estereótipos: o galã, o inteligente, a vazia, a gostosa... e por aí vai. Neste caso, digamos que se formaram novos moldes, novas versões.
Meu personagem deste post é do tipo tranqüilo, pacífico, a paz que todas as pequenas aglomerações humanas precisam para manter uma convivência sustentável. Tom de voz sempre ameno, energia sempre em alta e de uma disponibilidade sem igual, Eddi é do tipo agradável, carismático, amável (e amado), capaz de unir a todos em sua defesa, caso alguém mal intencionado ouse fazer-lhe mal.
[pausa: Solicitei ajuda a André Clemente, personagem do “Pensando com” anterior, e ele ficou indignado com a descrição acima:
Aclementetorres diz: Ei... Edi... energia sempre em alta??
:S
Edi é a preguiça e indisposição em pessoa!!!]
Ok, reclamação aceita.
Mas nem tudo na vida do meu amigo jornalista Edilberto Souza são só flores, martinis e equilíbrio. Nem seria possível, sendo assessor de imprensa de uma empresa onde “notícia ruim é bóia”. Não é difícil ele me chamar no MSN, no meio de uma tarde aparentemente tranqüila, e dizer: “Sumiu um malote de dinheiro da **. Pense num infernooooo”, larga, aparentemente nervoso, embora me custe acreditar que ele esteja, de verdade, alterado. Isso significa, claro, que ele vai ter que segurar a onda com o cliente, fazer uma nota de esclarecimento, enviar para as redações, conversar e tentar evitar, ao máximo, que a bagaceira tome conta.
Vida difícil...
Dia desses, Eddi me avisou que ia comprar um carro. Semana depois, me disse, feliz da vida, que tinha comprado um corsa preto, uma de suas conquistas declaradas. “É importante pra mim não só tê-lo, como conseguir sustentá-lo. Digo pra mim mesmo: êê, já está um homenzinho”, me responde, descabando de rir em seguida, esperando que o critique por afirmação tão “fofa”.
BAILE MUNICIPAL - Inspiração para possível fantasia vem de personagem tão meigo quanto o meu amigo
Como sempre nos acontece, entramos em debate para batizar o novo motor da turma, que se juntaria a Cascão (meu Ford Ka prata, que vive imundo), Lindoka (o Ford Ka preto de Gio, que tem a elegância da dona) e Bola de Neve (in memorian, já que André vendeu seu celta branco e hoje vive num inferno astral sem fim). Enfim... eu sugeria que Eddi o chamasse de “negão”, já que ele rodaria a cidade tocando música baiana ou brega, mas o pobrezinho acabou recebendo o singelo nome de “Pérola Negra”. Quando Eddi me contou, resumi meu desagrado dizendo apenas:
- Parece nome de travesti afrodescente.
Mas vamos ao lado mais sério do meu amigo, já que estamos falando de um jornalista diplomado (embora não tenha nem dado entrada no diploma ainda, né, Eddi?), assessor de imprensa de grandes empresas daqui. Perguntei-lhe qual a sua primeira grande descoberta e me surpreendi: “Relacionamento não é só beijinho e ida ao cinema”. Ok, a resposta pode não ser das mais filosóficas, mas conhecendo o motivo da reflexão, eu posso ir além nos pensamentos dessa pessoa, cuja maior alegria são os finais de semana. “Tenho o tempo tão ocupado no dia a dia que basta um sábado só para mim que já me sinto realizado”, me disse, com sua simplicidade e calma costumeiras.
Tem um caso que já virou piada de bar e envolve os meus amigos de trabalho. Em um dia de frio, peguei o meu casaco preto, que estava no meio de um monte de outras roupas da minha casa, e coloquei na mochila. Ao chegar ao trabalho, tirei o casaco e algo cai direto no lixeiro, que fica ao lado da minha cadeira. Horas depois, meu “amigo” de mesa avista um sutiã preto no lixeiro e grita: “fizeraaaam sacanagem aqui de noite!”.
Intrigado, percebo que a peça era da minha mãe e, sem pensar, solto: porra, isso é meu!!!!!! Ligo pra casa, pergunto para a verdadeira dona se ela havia perdido um sutiã desbotado, com uma arame aparecendo. Ela: Sumiiiiiu. Eu: Apois achei, meu colega está vestindo, neste momento, para zoar comigo!
Todo mundo que me conhece sabe que não sou muito chegada aos serviços de assessor de imprensa. Hoje, aqui na Multi, minha maior preocupação é tal “tato” com os clientes, coisa que não tenho muito. Mas o trauma vem do passado, mais especificamente de um cliente que atendi em outro escritório, que acabou sendo herdado por Eddi. Ele conta: “Em um daqueles dias de sol de rachar, acompanhei uma caminhada em prol da paz, na ponte que liga o bairro dos Coelhos ao Coque. Centenas de crianças no meu ouvido pedindo paz, um trio elétrico com Almir Rouche cantando “a paaaaaz do mundoooo”, e várias pombinhas brancas voando e cagando na sua testa. Qual o problema nisso? Nada! Ócios do ofício”. Eddi, prefiro nem imaginar o que eu faria...
Teve uma vez que preparei um Power point com fotos do pessoal da turma na época da infância. Me lembro muito da foto de Eddi, vestido de matuto, com cara de bom menino. Igualzinho a como ele é hoje. Sempre imaginei que ele deve ter sido uma daquelas crianças fáceis de lidar, que toda mãe deseja. No mais, ainda fiquei pensando na resposta dele quando perguntei sobre suas crenças infantis e ele respondeu: Acredito ainda que Xuxa e Beto Barbosa fizeram pacto com o diabo. Esse povo é capaz de tudo para ascender!
[Peraí, Eddi. Xuxa vá lá, por que o pacto meio que deu certo, se fomos calcular a fortuna da Maria da Graça... mas Beto Barbosa, amigo? O cara deve estar num liseu de lascar hoje. Investiu tanto na lambada e acabou no limbo. È muito triste isso... quase tão triste quanto o destino de Afonso Nigro (ex-dominó) que parou de ouvir menininhas gritando por ele para ouvir a voz tenebrosa de Roberto Justus cantando...]
Minha cor favorita depende: se for de roupa, preto (pq você vai sempre estar bem!). Se for na parede de casa, vermelho (pra dar aquele tom vibrante). Mas se for pra admirar e contemplar, azul (porque relaxa).
Uma das grandes dúvidas que permeiam a cabeça de parte dos jornalistas que conheço é: por que diabos eu escolhi essa profissão? Meu problema foi que meu pai quis ser jornalista e acabou cursando Economia. Então, ele sempre foi um torcedor inveterado de que eu seguisse essa carreira ingrata. Ao contrário do pai de Eddi. Segue o diálogo:
Eddi: Não me arrependo do curso que escolhi, mas poderia ter escutado melhor o meu pai, o senhor Edízio, que dizia : “Meu filho, existe mesmo lugar ao sol para um jornalista? Você não tem nenhuma afinidade com programação de computadores?
Edi: Eu mesmo não! Quero escrever para o mundo..... Olha, que promissor!
ENTREVISTA
Alguém de quem você gosta muito e por qual motivo.
Adoro gente com bom humor. Minha tia Denise é assim. Onde chega está garantida a descontração e as gargalhadas. Além disso, me entende em tudo, só com o olhar.
Alguém que te ensinou muito e o que essa pessoa te ensinou.
Com certeza, meu pai! Acordamos sempre no mesmo horário pra trabalhar. A diferença é que ele acorda para tal finalidade de domingo a domingo, sempre pontual e de bom humor. Quando o questiono de onde vem energia pra tanto, ele responde: “Só descanso quando todos vocês estiverem estabilizados, além disso quero chegar na velhice com a cabeça ativa”.
Você agora tem que compor a trilha da sua vida. Me dê duas músicas dela e explique o motivo da escolha.
Uma delas foi a minha entrada na formatura. Na ocasião escolhi pelo ritmo, mas ouvindo melhor, diz muito sobre mim “Deixa a vida me levar”, do poeta Zeca Pagodinho. Outra é a do Jota Quest “Mais uma vez”...por tantos momentos que poderiam ter mesmo parado no momento certo! E, de bônus, aquela que danço agarradinho e de olhos fechados “Se era pra ser assim, então porque cuidou tão bem de mim, me seduziu, me enfeitiçou, diz que me quer, mas comigo não ficou”, de Aviões do Forró - essa é só pra dançar mesmo!
Se você pudesse mudar alguma coisa em você, fisicamente... o que seria?
Queria ser menos calvo. Sei que isso tem o seu charme, mas adoraria gastar mais com shampoo!
E psicologicamente?
Ser muito paciente. Isso significa que quando fico estourado é porque estou no meu limite.
Acontece muito com pessoas, agüento a primeira discussão, a segunda, e até a terceira, depois...
Na próxima vida, quais as características do atual Eddi que você traria de volta?
Meu bom senso. Não saio traçando coisas extraordinárias para mim.
Uma mania
Estou com uma mania bem recente de falar em Spañol. É uma merda, e não conheço a língua, mas os mais íntimos sabem que tenho muito afinidade com tal dialeto.
Um desejo muito profundo.
Cortar as raízes. Ser mais aventureiro! Permitir errar tentando acertar...
Um cheiro.
Classic, da O Boticário, e Dune, Dior.
O que ensinaria para um filho?
Ser pai é um dos projetos que tenho. Estou pensando em encomendar um para breve. Já tem nome: Joyce. A educação dela será rígida. Vai ser uma menina que encantará a todos, mas que não se dará com todos. Esse negócio de estar no colo de todo mundo não será com ela. No futuro, só orgulho pro papai!
Uma prova de amor.
Sou muito romântico. Diga que me ama, que você vai ver a pessoa mais besta na sua frente!
A melhor forma de comemorar é...
Com um churrasco, ás 11h de um sábado, na beira da piscina, bebendo cerveja gelada com todos os meus amigos. Passaria o dia aí!
Fiquei uns três meses para terminar esse texto; ora por falta de tempo, ora por falta de inspiração. Eddi não é dos mais fáceis de descrever, já que é discreto o suficiente para me inibir de fazer observações fantasmagóricas ao seu respeito. Não que eu não conheça detalhes mais “intrigantes”, mas simplesmente não vejo necessidade de revelar – são notas de roda-pé só para íntimos, em cada capitulo que pude acompanhar de parte da vida desse meu amigo.
Embora goste de manter a fidelidade aos meus entrevistados, não sou muito partidária dos melodramas que carregam as homenagens. Então eu procurei uma forma de escapar. Por fim, perguntei: Eddi, você morre. O que eu escrevo na sua lápide?
"Se pudesse, faria entender tudo que acontece aqui.
Todos os porquês, todos os olhares, toques, hormônios, palavras.
Se um dia puder, mostrarei a sensação, o desejo, a fé, o pecado e todos os cheiros dos meus pensamentos.
Um dia quero entender a palavra, o sabor, a inércia, a dor, as condições. O que pega, assegura, petrifica, o que faz ficar aqui.
Em um minuto, vou entender o gosto, textura, calor, velocidade, profundidade. Vou compreender o tempo, as dúvidas. As voltas, as ausências, a presença vazia.
Entenderei a razão, a teoria, a previsão, o futuro, o passado e aquilo que entre nós é elo.
Sentirei a pele, a cor, a respiração, aspiração. Terei respostas, o timbre, o ritmo, o prazer, a dor e o fruto.
Serei como penso, como traço. Como mais, como dois. Em um, como tudo.
Amor, desordem, criação, saber, sentir, traçar e tocar. Do gozo, da alma, da pele. Do pêlo.
Sem cicatriz, com vírgulas. Sem pontos, sem limites, sem perguntas. Sem respostas.
Os anos vão passando e não deixam somente marcas na pele, vista cansada e limitações físicas. Deixam, principalmente, lições. Hoje, elas nos são passadas por quem tem o que ensinar; mais tarde, será nossa obrigação passar essas lições – e as nossas – para frente.
Então, vamos para frente...
Faz mais ou menos uma semana, li um texto super bom sobre o tempo, escrito do jeito que eu gosto de ler (e escrever) – cheio de coloquialismos. Quem assina é o jornalista Ivan Martins, da revista Época. Separei alguns trechos, que seguem (para ler na íntegra, clique aqui):
Quem já teve oportunidade de namorar a mesma mulher com intervalo de alguns anos sabe: as pessoas melhoram. As duas pessoas. O sexo fica mais intenso, as conversas ganham outra densidade, a vida torna-se mais simples e o convívio, mais confortável. Aquilo que na juventude é problema, chega ao futuro resolvido. Ou incorporado. É como se as pessoas parassem de ensaiar e se aproximassem, afinal, do seu papel verdadeiro na vida. Relaxam e desfrutam. (...) Por que falar disso? Porque eu tenho a impressão de que as pessoas, homens e mulheres, estão vendo o tempo sob uma única dimensão: a do envelhecimento. Tempo virou sinônimo de bunda caída, papada e rugas. Tempo traz barriga, careca e Viagra. Tempo só nos enfeia e nos debilita. No fim da linha, nos mata. É o inimigo. Um pesadelo que se mede em tictacs do relógio, do qual se foge permanentemente. Mas será mesmo isso?
Acho que não. Assim como o prazer, que cresce com o tempo, outras dimensões fundamentais da existência se tornam melhores à medida que o tempo passa. Sem pensar muito, me lembro de uma: a capacidade de lidar com as pessoas e com as situações. A falta de traquejo social dos jovens é um fardo horrível. Ela produz angústias e equívocos em quantidades astronômicas. Ainda bem que passa.
Concordo com Ivan, simplesmente por que convivi e convivo com pessoas mais velhas que têm formas fabulosas de levar a vida. Vovó é uma delas. Aos 38 anos, ganhou a primeira neta, quando minha prima mais velha nasceu. Hoje, 27 anos depois, está pertinho de se tornar bisavó e cultiva o mesmo ar jovial e animadamente contagiante de quando a conheci, 26 anos atrás. Vovó é do tipo que usa cremes (muitos deles), faz dieta (é diabética), come doce (mesmo sendo diabética) e tem uma risada gostosa. Um dos prazeres da minha vida é ouvir a gargalhada de vovó, alta e estridente.
Recupero outra fala sobre o tempo, dada a mim pela professora Nonete Barbosa, do Centro de Nutrição da UFPE. A conheci durante uma entrevista para uma matéria sobre os 50 anos de formatura da sua turma, a primeira do curso de Nutrição da Federal de Pernambuco. Como a professora continua lá, dando aulas, perguntei-lhe se havia a hora certa de parar. “Olhe, enquanto eu estiver sendo útil. Um dia me disseram que depois dos 60 anos, ninguém tem o direito de parar, mas a obrigação de passar suas vivências para frente”. Eu vi muita verdade nos olhos azuis de Dona Nonete, e naquela vontade de viver e de ser útil.
Nesses dias em que estive em São Paulo, conversei muito comigo mesma (eu me escuto e me entendo como ninguém, coisa de quem dedica bom tempo às boas companhias) e um dos assuntos em pauta foi justamente o tempo. Num dia, estava esperando o início de um filme (“O solista” – recomendo) e vi um senhor sentado próximo, lendo jornal. Fiquei observando um tempo a dificuldade que ele tinha em ler – pouco maior que a minha, que por safadeza, teimo em não usar meus óculos com a freqüência que deveria. No dia seguinte, sentada perto de uma livraria, na Avenida Paulista, pensava e via o tempo passar quando percebi o mesmo senhor sentado perto de mim. De novo, um esforço enorme para ler, que quase o fazia arrastar o nariz pelas páginas da revista. Passei um tempo contemplando a cena, até que ele cansou, levantou e saiu a passos lentos. Era ele lá, tempo.
Corre uma notícia de que o produtor de cinema Hebert Richers morreu ontem (quinta, 19). Vi a notícia no site do Terra, que viu a informação no twitter do Boninho.
Do Terra:
Herbert Richers nasceu em Araraquara, interior de São Paulo, em 11 de março de 1923, mas passou grande parte da sua vida no Rio de Janeiro. Em 1950, ele fundou na cidade a distribuidora de filmes Herbert Richers S.A, que depois virou uma das pioneiras no ramo da dublagem no Brasil.
A dublagem foi introduzida a Richers em 1960 pelo Walt Disney, de quem ele foi amigo. Ele trouxe o conhecimento de Holywood para resolver o problema das legendas, que eram quase ilegíveis para a tecnologia da época (televisão pequena, em preto e branco e sem definições).
A Seta e o Alvo Composição: Paulinho Moska e Nilo Romero
Eu falo de amor à vida Você de medo da morte Eu falo da força do acaso E você de azar ou sorte.
Eu ando num labirinto e você numa estrada em linha reta Te chamo pra festa, mas você só quer atingir sua meta. Sua meta é a seta no alvo, Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu olho pro infinito E você de óculos escuros.
Eu digo "te amo" E você só acredita quando eu juro.
Eu lanço minha alma no espaço, Você pisa os pés na terra. Eu experimento o futuro E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera
Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar. Eu quero saber a verdade E você se preocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos, Você diz que não tem mais vontade. Eu me ofereço inteiro E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada? Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
Quarta-feira passada (4), precisamente às 22h51, estava no supermercado Hiper Bompreço Casa Forte, aqui no Recife, fazendo compras a pedido da minha mãe. Imagine, claro, que a contra gosto, já que ninguém em sã consciência aprecia supermercados depois de dois expedientes de trabalho num dia puxado. Cerca de 45 minutos e muitas voltas depois, consigo terminar tudo e ir pro caixa.
Minha irmã, que há mais de um ano mora nos Estados Unidos, reclamou da bagunça e do fato de vários caixas estarem fechados, apesar da quantidade de clientes ainda dentro da loja. De fato. E ela mostrou o maior problema: ninguém ali parecia se incomodar com isso. Paga-se, e caro, por um serviço mal prestado.
Repito: eram quase 23h. Muitas pessoas resmungavam, outras conversavam, liam revistas ou simplesmente esperavam sentadas em banquinhos plásticos gentilmente disponbilizados pelo estabelecimento.
GENTILEZA Banquinhos para aguentar a espera
Por curiosidade (jornalística, claro), fui fazer uma contabilidade rápida para entender a "logística" da coisa. Vamos lá.
O Hiper Bompreço Casa Forte, creio, é um dos maiores supermercados da rede no Recife e promete atendimento, de segunda a sábado, até a meia-noite. Tem 48 caixas, 23 deles para pequenas compras (aquelas de até 30 volumes). Sobram, então, 25 caixas para atender grandes compras e clientes preferenciais (idosos, gestantes, deficientes e "espertos").
Naquela quarta-feira, como em muitos outros dias, destes 25 caixas, 15 estavam fechados e totalmente desorganizados.
DETALHE: no banquinho, repousam um saco de carne e um pacote de salsichas
Andei até a fila das pequenas compras, que já quase dobrava o corredor e contei sete caixas funcionando, dos 23 disponíveis. Na fila, 35 pessoas esperavam, assistindo ao futebol em uma das 36 televisões de LCD instaladas uma ao lado da outra.
As fotos mostram quase tudo: falta de respeito do estabelecimento (lembre-se que o supermercado agora é da rede mundial Walmart) e a falta de discernimento nosso (leia-se: falta de senso crítico e de condições de reclamar).