quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Clarice de “modernismo remodernizado”

Hoje é “aniversário de morte” (!) de Clarice Lispector, que deixou essa terra em 9 de dezembro de 1977. Particularmente, me identifico muito com suas falas – ela é, das mulheres da literatura, aquela por quem tenho mais apreço. Não desmerecendo Raquel e Cecília (de Queiroz e Meireles, respectivamente), mas por conseguir compreender “profundamente” melhor as palavras de Clarice do que o regionalismo e as efemeridades das outras (respectivamente). Clarice se auto declarou impulsiva, certa vez. Muitas vezes, eu também o faço. 

Aliás, a simples afirmativa de “identificar-se com Clarice” é pequena e vasta. Pequena, por que “ser” o que Clarice escreve é muito fácil - no fim das linhas, acabamos nos mesmo lugares, com os mesmos anseios e os mesmo medos. “Vasta” é uma tentativa frustrada de descrever a grandiosidade do que ela foi capaz de (d)escrever, embora ainda acredite que o predicado seja simplório demais para coisa tão grande.
Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Clarice morreu aos 57 anos incompletos, um dia antes do seu aniversário. Nasceu Haia Lispector, na Ucrânia, em 1925, mas veio morar no Recife bem cedo. Viveu aqui durante toda infância, até mudar-se para o Rio de Janeiro. No centro da cidade, temos uma estátua dela, na Praça Maciel Pinheiro. Inclusive, me bateu agora a curiosidade de saber como anda o estado da tal pedra. Dia desses, passo lá na praça para averiguar e ainda registro foto melhor do que esta, que foi a única que encontrei no Google. Aproveito também para fotografar e identificar (não nessa ordem) o prédio onde viveu a escritora e jornalista, que fica na esquina da praça com a Travessa do Veras.



"Pedra" de Clarice, na Praça Maciel Pinheiro, aqui no Recife

Não vou me perder mais falando da biografia de Clarice, já que dados e comentários sobre isso se encontram aos montes em qualquer simples busca. Mas uma coisa que li aqui me chamou atenção: Em 2005, em artigo publicado pelo The New York Times, Clarice foi “descrita como o equivalente de Kafka na literatura latino-americana” (ou latinoamericana?) por Gregory Rabassa, que traduziu a obra da “ucrano-brasílica” para o inglês.

E outra: em 14 de setembro, Clarice dormiu enquanto fumava e causou um incêndio que deixou seu quarto ficou totalmente destruído. Com inúmeras queimaduras pelo corpo, passou três dias sob o risco de morte — e dois meses hospitalizada. Quase tem sua mão direita — a mais afetada — amputada pelos médicos. Dizem os registros que o acidente mudou totalmente a vida de Clarice. Eu não sei o quanto, mas já me interessei em procurar. Lembrem-me, por favor.

Há um tempo, ganhei um exemplar de “A descoberta do mundo” que, confesso, ainda não li. Não sei exatamente de quem ganhei, mas sei exatamente o porquê: era um dos livros preferidos de Cazuza. A pessoa que me deu decerto me conhecia bem.

Sugiro àqueles que gostam de Clarice [e àqueles que ainda não tiveram o prazer de conhecê-la], que acessem o sítio www.claricelispector.com.br. Ali, ganhe dez minutos lendo o artigo escrito por Tristão de Atayde:

No seu último livro, em dedicatória escrita um mês antes de morrer e que recebi, no próprio escritório de seu último editor, José Olympio, essa mulher atormentada terminava suas palavras de afeto, ao seu primeiro editor, com essa sentença literal que tudo explica: “Eu sei que Deus existe.” Sua trágica solidão teve também um Companheiro. (leia na íntegra clicando aqui)






BELA CLARICE 
“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”

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