quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Tom do Tom


Tenho verdadeira devoção por Tom. Até mais que por Cazuza...
Cazuza é diferente, companheirão, amigo, presente, palpável, fala e eu entendo. Sente, e eu sinto junto. Não permite formalidades, é prático, direto.

Tom não. É alto, é melódico, transcende ao meu entendimento.
Há dois anos, todos os sábados pela manhã, entre uma aula e outra na Católica, eu ia até a biblioteca. O passatempo passou a ser sagrado, quando encontrei a bibliografia de Tom, escrita já depois da sua morte. Então, todos os sábados, eu ficava de pé na beira da estante, no corredor 9, e lia ali mesmo. Minha visão sobre o Rio de Janeiro foi talhada pelas narrativas musicais de Tom, ao tom da Bossa Nova.

Achei vídeos ótimos, de Tom cantando com Elis. Inspiram tudo e tenho que me conter para não cantar alto no meio de escritório. O jogo de palavras de “Águas de Março” é mágico, fascinante. Quando ouço “Corcovado”, fico até respirando os ares cariocas...

Ai, ai... adoro hipérboles.

Em outro (vídeo), uma visão do paraíso: Tom, Vinícius, Miúcha e Toquinho cantando juntos!
Nossa!! Tom canta Vinícius...


E sábado que vem...

Eu, ao telefone: Por favor, é do Canecão?

Do outro lado, no Rio de Janeiro: Sim, pois não?

Eu:
Quero saber quanto é o show de “Seu Francisco”

Do outro lado:
Quem?

Eu:
O preço do show do marido de Marieta Severo, quero saber...

Do outro lado:
Desculpe, senhora. Ainda não entendi...

Eu (já com raiva):
Chico Buarque, minha filha! Chico Buarque. Quero saber qual é o preço do show...




******************************************************

Musique-se

Águas de Março

Tom Jobim

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

PRA SENTIR TAMBÉM, ACESSE:
http://www.youtube.com/watch?v=jYLoxMtnUDE
... e sinta. Atenção à "reentrada" depois dos assovios! Adorei!!!!!
MáGiCo!!!

Nenhum comentário: