Bem acaba o Carnaval, lá estão os cintilantes ovos de Páscoa, sempre caros, avisando que já começou a Quaresma. Desde que eu era criança, muita coisa mudou na rotina desta época; e não foi só o formato dos ovos. Muita coisa mudou.
Primeiro que eu não faço mais questão nenhuma de não comer carne. Eu nunca faço, mas não mais me abstenho que comer por causa da sexta-feira da Paixão. Não se trata de uma questão de fé (ou da falta dela), mas de uma total perda de sentidos. Eu nem vou aprofundar neste contexto. Religão é algo sobre o quê não gosto muito de debater.
Hoje, fui acompanhar uma visita à Olinda e levei Mariana comigo (Mariana é minha meia-irmã caçula, de sete anos, que tem uma lingua afiada e sentidos aguçadíssimos). Nos deparamos com a procissão do Senhor Morto. Olhem, sem querer desmerecer a fé alheia, o que, aliás, não é nem nunca foi do meu feitio, é uma coisa de mau gosto. Explico:
Mariana, como é de praxe, perguntou o que era a movimentação e, depois da explicação:
- Quem é ele?
- É Jesus, Mariana... – respondi
- Jesus morreu? – perguntou, meio assustada, meio incrédula.
- Morreu e ressuscitou – respondi, sem muitas explicações.
- Se ele ressuscitou, por que é o Senhor Morto? – indagou, fazendo cara feia pra cantoria de velório que adentrava a rua do Centro Histórico de Olinda.
Explicar as coisas a Mariana requer tempo, paciência e pormenores demais, mas me deixou pensando. Ela tem certa razão, não?
Do Alto da Sé, dava para ouvir vozes que ecoavam da encenação da Paixão de Cristo que Pimentel re-re-re-refazia, desta vez, na Praça do Carmo. Mariana ficou com medo das vozes funestas e por mais que eu explicasse, ela se agarrava no meu braço cada vez que ouvia.
Falando em Pimentel, será que não tem ninguém aqui em Pernambuco para lembrar a este senhor que Jesus morreu, conta a bíblia, aos 33 anos? Sim, por que acho que ele esqueceu disso, já que continua insistindo em viver o Cristo. Neste ano, faz 33 anos que José Pimentel está nessa. Ele não agüentou o “baque” quando foi exonerado do cargo divino em Nova Jerusalém e criou a Paixão de Cristo do Recife – que mais me parece um movimento de resistência (sem querer desmerecer).
Em tempo: Onde está a cabeça da produção do espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Tantas boas atrizes e eles chamam a ninfeta pré-histórica da Suzana Vieira pra viver Maria? Estão pagando promessa ou praticando a caridade. Só pode.
Para não dar viagem perdida, levei minha câmera. Algumas amostras e um desejo de boa Páscoa a todos – no seu sentido de renovação. É sempre bom.
A pequena, que não parou um só minuto
Olinda/ Tens a paz dos mosteiros da Índia/ Tu és linda pra mim, és ainda/ Minha mulher...
2 comentários:
É mesmo difícil falar sobre religião, mas eu gosto de discutir ela, sim.
Acho que se Jesus baixasse por aqui de novo e visse o que fizeram com o nome dele cairia em depressão. eheehe
Não curto religiões - acho o budismo plausível e o catolicismo risível - mas sou espiritualista. Acredito em um depois daqui.
Já pensou se não tivesse esse mistério?
Putzz, seria horrível saber todos os passos seguintes.
Dá uma sacada nesse edição de imagens que o cara fez pra música "Um messias indeciso" do Raul.
Ficou massa!
http://www.youtube.com/watch?v=JoQOi9Z0ESs
PS: Mariana tem cara de pestinha mesmo. Dê um ovinho de Páscoa pequeno pra ela. :>)
José Henrique
Adorei, Henrique. Concordo e acho que Jesus, depois da depressão, iria querer ir embora, sem volta.
Vou assistir ao vídeo. Comentarei.
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