Saindo do jornal hoje, aproveitando para dar uma caroninha ao meu querido André Clemente e aproveitando mais de sua agradável [e sempre compatível] companhia, conversávamos sobre os professores figuras que tivemos na época da Católica. Foram vários, mas duas professoras especificamente têm espaço garantido no coração da gente. É uma identificação que temos, os dois, por pessoas que conseguem ser "grosseiras" sem perder a classe. Sabe a doce "acidez" de ser inteligente e chato? É isso...
É difícil de entender, então, vamos a elas. Por ordem alfabética.
Neide Mendonça é uma senhora (não arrisco chutar sua faixa etária, tenho medo), aliás, é a "senhora" da Língua Portuguesa. Mas digamos que ela é direta, curta e grossa. Prática. É ela mesma aí nessa foto, que eu achei ilustrando essa matéria do Diario de Pernambuco. Mas não se engane muito com o sorrisão não...
Contei eu a André que, quando pagava cadeira com ela, chegou o dia de apresentar trabalhos. Lembro de ter lido incansavelmente o texto que me cabia para não fazer feio. Não tinha um pé de gente naquela sala que não morresse de medo de Neide. Só que um teve a ousadia de chegar lá na frente da turma, pior, na frente de Neide, e começar a ler o texto. Ao que ela interrompeu:
- Meu filho, alfabetizado eu sei que você é. Se for pra ler, pode sentar. Não perdemos nem o meu tempo nem o seu.
[quem arrasa com um é ela!]
Então André me contou que quando ele era seu aluno, Neide perguntou em sala como a turma fazia para identificar um erro de grafia [nunca diga erro de "ortografia" perto de Neide, o fora é certo*], para identificar se uma palavra estava escrita de forma correta. Uma pobre alma respondeu:
- Professora, eu escrevo de várias formas e utilizo a memória visual para identificar a correta...
E Neide:
- É uma saída... de ignorante, mas é uma saída.
E André morreu de rir. Eu também.
Stella é o mesmo tipo. Aliás, é um tipo mais ameno, mas não menos ácido. Filipe (meu amigo Filipe Falcão) costuma dizer que Stella Maris Saldanha é a "dama da tv pernambucana". André e eu assinamos embaixo. A elegância passou por ali e ficou.
Pois então.
Stella foi professora da minha turma em três das quatro cadeiras que pagamos de televisão. Em TV 1, avisava logo que a leitura de "Chatô, o Rei do Brasil" era obrigatória e, pra piorar, com prova oral. E fez mesmo. Lembro até que tirei um 8, em companhia do eu amigo Rodrigo Raposo.
Mas vamos aos clássicos "stelísticos".
Filipe contava (fique claro que não sei se é lenda) que certa vez, assistindo a um stand up de uma aluna, Stella interrompeu e disse:
- Algo em você incomoda ao telespectador, mas ainda não sei o que é...
E reviu o vídeo mais duas vezes, até que:
- Aaaaah... é que você tem os olhos 'assimétricos'. Eu não sei se é o caso de uma intervenção cirúrgica ou se uma maquiagem resolveria o problema.
[Nesse momento, André diz: palmaaaaaaaaaas!!!]
Em outra vez (essa eu estava na sala), ela virou-se para uma colega nossa e disse, com o script da matéria na mão:
- Minha filha, antes de qualquer coisa, sugiro que você faça um investimento em você. Compre uma gramática... seus erros de Português são inadmissíveis para uma aluna de jornalismo.
[momento tenso de silêncio...]
Num outro momento, também na nossa sala, Stella assistia a uma matéria de uma colega nossa. Até que aparece "Fofão", o dono de um dos bares do entorno da Católica. Digamos que Fofão não é das pessoas mais bonitas do Recife. Ele mais parece que pegou varíola... Stella então manda o pessoal parar a fita e diz:
- Minha filha, como é que você coloca um ser tenebroso desse no vídeo?
A "repórter" se zangou com o "preconceito" da professora, que deu logo um corte:
- Nada, menina, nada pode chamar mais atenção na reportagem do que a notícia. Nem você, nem seu cabelo, nem seus brincos e, muito menos, o personagem.
Mas Stella tem uma coletânea de frases impagáveis:
- "Olhe, Tatiana, sua matéria sai do nada para canto nenhum" - sim, essa foi comigo.
- "Você tem a voz infantilizada. E quem vai dar credibilidade a uma criança?" - essa foi com uma amiga nossa, Ana Patrícia.
- "Meu filho, o seu sotaque não precisa gritar: EU SOU DE CARUARU" - essa foi pra André.
Ai, ai... Neide e Stella são tudo! E que fique claro que são profissionais exemplares, excelentes mestras! Amor eterno às duas!
* segundo Neide ensinou: ORTOGRAFIA ["orto" - correta; "grafia" - escrita]