domingo, 4 de abril de 2010

Cazuza, 52 anos

Hoje, Cazuza faria 52 anos. Ariano, nasceu em 4 de abril de 1958, uma sexta-feira Santa.

Há dois anos, o Jornal do Commercio publicava uma matéria especial, em comemoração aos aniversário de 50 anos do poeta. Foi, claro, um presente pra mim, que assinei o especial que ocupou o caderno quase todo.

Hoje, republico aqui a entrevista que fiz com Ezequiel Neves, amigo pessoal e produtor de Cazuza.

Eu já havia perdido as esperanças de conseguir falar com Ezequiel. Havia conseguido o telefone da casa dele em outra pauta (sobre o livro do qual ele foi co-autor, junto com baterista Guto Goffi e o jornalista Rodrigo Pinto, contando a história do Barão Vermelho). Eu já havia ligado várias vezes: na primeira, me atendeu a empregada; na segunda, a secretária eletrônica. Naquela que seria a última tentativa, arrisquei deixar um recado na secretária eletrônica:

- Zeca, aqui é Tatiana Notaro, repórter de cultura do Jornal do Commercio, do Recife. Estou fazendo uma matéria especial sobre os 50 anos de Cazuza. Se você puder...

Pronto, aí Zeca atendeu. Primeiro, controlei o coração (como todo repórter iniciante, eu ainda me emociono com algumas coisas), me recompuz e comecei a conversar com ele. Um dos grandes responsáveis pelo caminho trilhado por Cazuza e pelo Barão Vermelho - juntos e separados.

Zeca tem mais de 80 anos, calculo. Na minha cabeça, cultivei a imagem que li nos livros sobre Cazuza: um senhor de meia-idade, cabelos já quase todos brancos, louco, inteligente e viciado em livros e drogas ilícitas. Bem diferente da figura que apareceu no especial "Por toda a minha vida", acabadinha e sem dentes. Prefiro a primeira opção. Vamos ficar com ela, ok?

Até hoje, mora no Rio de Janeiro, num apartamento de foi de Cazuza, próximo à favela Pavão Pavãozinho. Com o especial publicado, peguei um exemplar do jornal, do dia 3 de abril de 2008, e enviei-lhe pelos correios, como me pediu.
 
ENTREVISTA » EZEQUIEL (ZECA) NEVES
“Cazuza é a ausência mais presente na minha vida”
Publicado em 03.04.2008

Ezequiel Neves tem 73 anos. É jornalista, produtor musical e orgulha-se de ser o “pai” (ou avô, como a ele se refere o baterista Guto Goffi) da banda Barão Vermelho. Zeca ainda trabalha com os meninos do Barão, atualmente fazendo trabalhos individuais, e se formos comparar os relatos sobre ele, datados daquela época, o produtor musical e jornalista continua o mesmo maluco, amante da boemia, das artes (como ele mesmo se declara) e das drogas (“das boas!”). Sua amizade quase siamesa com Cazuza entrelaça a vida dos dois – então não há jeito de falar do poeta exagerado sem juntar-se para um papo ao seu fiel companheiro (de noitadas no Baixo Leblon ao dia do resultado do teste da aids). Entusiasmado com a idéia de relembrar seu "neto", Ezequiel Neves concedeu uma entrevista ao JC.

JC – Como foi o começo da história de Cazuza na música?
EZEQUIEL (ZECA) NEVES – Conheci Cazuza como boêmio, em 1979, e ficamos amigos instantaneamente. Quando ouvi a fita demo do Barão Vermelho, achei aquela banda maravilhosamente underground. Soube que era o Cazuza quem cantava ali, liguei para Lucinha e disse: “Prepare-se, porque seu filho é absolutamente genial!” (Gargalhadas).

JC – A sua posição foi a mais incômoda quando Cazuza resolveu sair do Barão Vermelho. Por que você assumiu os dois?
ZECA – Quando Cazuza me disse que ia sair da banda, eu disse a ele que era a maior bobagem esse negócio de querer virar patrão dele mesmo, sabe? O Barão sempre foi uma excelente moldura pra ele, não tinha motivo. Quando eu disse ao Cazuza que ia cuidar dos dois, ele me disse que eu fazia muito bem. Eu fui “salomônico”. (Risos)

JC – Lucinha contou em seu livro, que você estava com Cazuza no dia em que ele soube que estava com aids. Como foi esse dia?
ZECA – Foi muito difícil, porque eu já sabia. O médico contou primeiro ao João e à Lucinha e os dois me contaram. Achei aquilo erradíssimo! Naquele dia, ele insistiu para que eu fosse, mas me deixou na sala de espera do consultório. Quando saiu, foi logo dizendo “estou, estou, estou”. Aí a gente foi para Ipanema, era umas 19h. Ele estava desesperado! Eu tentei acalmá-lo, dizendo que tinham outros médicos e que ele não era promíscuo, então não tinha como estar contamidado.

JC – Há muitas comunidades sobre Cazuza no Orkut que discutem sobre o que teria inspirado a letra de "Codinome beija-flor". Você assina a parceria da música, pode explicar sobre o que fala a letra?
ZECA – (Risos) Cazuza foi internado com uma “baronite aguda”, porque estava com febres altíssimas e queimou um baseado. Foi no hospital onde a gente compôs "Codinome" e a letra fala da imagem de alguém, mas não alguém específico.

JC – Qual foi o motivo desta internação? Já era a aids?
ZECA – Foi em 87 e ninguém sabia do que se tratava. Olhe... a morte é insubornável! Os pais dele fizeram de tudo para salvá-lo! Os exames desta internação deram negativos à contaminação por HIV.

JC – O quê você lembra sobre a fase da doença?
ZECA – Foi uma coisa horrorosa. Eu estava brigado com Lucinha e João e Cazuza exigia a minha presença. A primeira vez que ele tomou o AZT teve efeitos colaterais horríveis.

JC – Qual foi a última vez em que você viu o Cazuza vivo?
ZECA – Foi na véspera da morte dele. O achei muito ausente. Saí da casa dele naquele dia, fui pra minha casa e cheirei muito (cocaína). Me contaram que foi a Lucinha quem me ligou no dia seguinte, me avisando, mas eu não lembro. Sei que caí no apartamento e acordei com Dulce Quental, Nilo Romero e Frejat, que tinham arrombado a porta. Pus uma camisa que o Cazuza tinha me dado e fui pro velório. Não me lembro de nada, só de ver pessoas chegando. Você quer uma frase bonita pra colocar aí? O Cazuza é a ausência mais presente na minha vida!

JC – Vai muito ao cemitério?
ZECA – Túmulo é uma coisa muito forte, sabe? Principalmente pro Cazuza, que era muito livre. Vou lá, levo flores, acendo um cigarro Hollywood e coloco em cima do túmulo... ele fuma todinho. (Risos)

JC – Como seria a relação do Zeca aos 70 com o Cazuza aos 50?
ZECA – Isso não é palpável. Não quero luzes, quero mágica! Não sei o que seria, sei que ele não está mais aqui.

JC – E as comemorações pelos 50 anos dele?
ZECA – A Lucinha sempre manda rezar uma missa. De lá, vamos para a Pizzaria Guanabara, no Leblon, com ele, viu? Por que eu vou levar um pôster enorme do Cazuza! (risos) Me lembrei de quando eu fiz 49 anos. O Cazuza fez uma festa e disse a todo mundo que eu estava fazendo 50 anos, aí quando foi no ano seguinte, realmente meus 50, o pessoal falava: “de novo?”. (Risos)


E FALANDO NISSO...
Cazuza era fã de Clarice Lispector. Como prometi no post publicado no dia do aniversário de morte da escritora, fui hoje até a Praça Maciel Pinheiro e fotografei a estátua em sua homenagem, que faz parte do Circuito da Poesia:























Estátua de Clarice Lispector, no Circuito da Poesia, no Recife
























Estátua de Clarice Lispector, no Circuito da Poesia, no Recife

Detalhe: a máquina de escrever sobre o colo

3 comentários:

Anônimo disse...

Tb curto muito o Cazuza. A música "O tempo não pára" não tem um verso perdido, a toa.
Um que estaria fazendo cinquentinha esse ano é o Renato Russo.
Engraçado, gostava dos dois de maneira igual, acho que até mais do Russo, mas hoje acho a Legião enjoadíssima. Pra mim envelheceu mal.
Já o som do Cazuza ainda me desde bem redondo.
Tinha curiosidade de saber como ele estaria pensando/agindo hoje.
Manteria a verve, a contundência ou iria para o lado da bunda molice como os Titãs?
Eu apostaria minhas fichas na primeira opção.

José Henrique

Anônimo disse...

Ahhh, esqueci de dizer que o Ezequial é mesmo uma figuraça!

José Henrique

Tacyana Viard disse...

Mas olha só..graaaaaande Cazuzão!