quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A bela arte de parar o tempo

Eu me perdi no tempo.
Perca-se.

Flick do meu colega de redação (e amigo-secreto) Alexandre Belém.
Uma pequena sugestão para deleite (com um simples click no título da postagem)!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O tempo


Fim de ano é uma época para se pensar no tempo. Num olhar acanhado, quase inerte, a gente senta abre "boca cheia de dentes" e fica esperando a morte chegar.
Não... separar o tempo em meses talvez não tenha sido uma idéia brilhante. É a falsa impressão, verossímil, de que podemos recomeçar, tentar, reorganizar e fazer tudo de novo. É só mais um amanhecer; mais uma ilusão. Hoje é igual ao amanhã, sem tirar nem por, só com mais uma mudança de dígito.
O fim do ano chega e com ele termina mais uma série de coisas. Trezentos e sessenta e cinco dias para apagar tudo e pensar: "agora vai ser diferente!".
Nesse meio tempo, entre um recomeço e outro, você se perde em seu tempo, em seu meio, e já nem reconhece mais um novo sorriso, um novo abraço ou aquele velho, que se renova. O lugar-comum ofusca; transforma o mutável em algo banal. Pormenores, detalhes, miudezas...
E você só se dá conta de tudo isso, quando o tempo, sempre ele, leva esse pedaço embora. Quando esse momento vira registro no hall das lembranças. Quando uma dor aguda incomoda e você reconhece a saudade.
Sugiro um pedaço de papel e uma caneta. Cinco minutos para pensamentos rápidos. Agora, deite 2007 sobre a folha...
Surpreendente!
Musique-se
Oração ao Tempo
Caetano Veloso
És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo

Tempo tempo tempo tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que eu te digo
Tempo tempo tempo tempo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso

Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo
O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e migo
Tempo tempo tempo tempo
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo

Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Ela fecha

"Não nasci para casar e lavar cuecas"
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Musique-se

Cor de rosa choque

Nas duas faces de Eva
A bela e a fera
Um certo sorriso de quem nada quer
Sexo frágil não foge à luta
E nem só de cama vive a mulher

Por isso não provoque
É cor-de-rosa choque
Oh, oh, oh, oh, oh Não provoque
É cor-de-rosa choque
Não provoque
É cor-de-rosa choque

Mulher é bicho esquisito
Todo mês sangra
Um sexto sentido maior que a razão
Gata borralheira, você é princesa
Dondoca é uma espécie em extinção

Por isso não provoque
É cor-de-rosa choque
Oh, oh, oh, oh, oh Não provoque
É cor-de-rosa choque
Não provoque
É cor-de-rosa choque

domingo, 16 de dezembro de 2007

Conversa de banheiro

Local: banheiro da redação, logo após o almoço. Duas pessoas conversam:

A: Menina, fui no cardiologista ontem, depois do expediente.
B: E foi? E aí?
A: Tava tudo bem. Conversando com o médico, disse a ele que tinha marcado aquela consulta para depois do expediente. Aí ele me perguntou: "você é jornalista?".
B: hahahaha
A: Eu fiquei toda feliz, achando que o tinha entrevistado e ele tinha me reconhecido.
B: E foi o quê?
A: Ele disse que percebeu pela minha roupa. Disse que tinha desconfiado porque jornalista tem esse jeito "despojado" de se vestir. Pode??
B: Despojado (olhando para as suas próprias roupas)??? A gente anda despojado?
A: Pelo que ele disse... achei logo que ele tava dizendo que eu tava mal vestida.

E as duas se olham no espelho. E saem...

Ok, vamos ao estudo.

Jornalistas, em tese (e na prática), adoram uma roupa "despojada". Embora haja aqueles que insistem em se manter no salto alto, a maioria prefere o velho All Star gasto. Usam uns óculos esquisitos, que entregam logo a sua raça. Acham que sabem de tudo; embora tenham certeza que não sabem nada.

É um bicho esquisito...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Os alfinetes do Lobão

Sim, o exêntrico existe e sua melhor forma humana atende pelo apelido de Lobão. Cinqüenta anos de idade e mais de 30 de uma carreira que já passou do céu ao limbo. Hoje, ele volta às alturas: é dono da sua própria gravadora (a Universo paralelo), tem uma revista (a Outracoisa), um programa de televisão (o Debate MTV) e acaba de gravar um acústico cujo investimento chegou a R$ 1,5 milhão (o Acústico MTV Lobão). Sobre esse último, ele declarou: "eu quis fazer o melhor dos acústicos, e consegui".




Com o acústico, Lobão ganhou o Grammy de melhor disco de rock


Aparentemente avesso à modéstia, ele construiu a fama de polêmico. Foi preso várias vezes, por diversos motivos, "todos arbitrários e inconstitucionais", segundo o próprio. Declara-se totalmente contra o nacionalismo exarcerbado, o folclore, gravadoras, jabá e pensadores "atrasadíssimos", como, segundo ele, o escritor Ariano Suassuna. "Por ele, estaríamos vivendo num quilombo, sem computador".

Farpas à parte, Lobão é um poeta sensível em toda dureza de seus versos. Em seu acervo, partes importantes da música popular brasileira, como Me chama, Esta noite não, Noite e dia, entre tantas outras. Juntas, elas somam algo em torno de 350 canções. Já compôs com vários artistas, como Cazuza, com quem assina boas produções como Baby lonest e Azul e amarelo. "Eu não gosto muito que gravem as minhas músicas. Eu compunha com o Cazuza e dizia a ele que não queria ouvir o resultado. E não ouvia. Ele era muito manso comigo", diz, às gargalhadas. De Lobão, Cazuza gravou Vida louca vida e acabou marcando-a com seu estilo.


A entrevista abaixo foi feita por telefone, da redação do Jornal do Commercio, no Recife. Ele, em São Paulo, seguia com a turnê do acústico. Lá pelas tantas, no melhor do papo, ele se irritA com o motorista e dispara reclamações. Lobão perdeu-se na entrevista e o carro que o levaria para o hotel, seguia desavisado ao local onde, mais tarde, ele se apresentaria. Entre "porras" e "caralhos", ele voltou aos trilhos e à conversa, que seguiu assim:






Entrevista exclusiva com o roqueiro Lobão
Tatiana Notaro

Do Caderno C


Atualmente, o quê é o rock brasileiro?
Eu nunca me interessei por rock brasileiro, me considero um músico popular brasileiro. Não tenho nenhuma obrigação de ser ou não ser rock. Pra mim, esta não é a questão. Eu tenho uma intrínseca cultura de rock'n roll, evidentemente, mas sempre me preocupei em fazer música popular brasileira, que é o filão do lugar onde eu vivo. Eu acho que essa é a minha meta, apesar de ter ganho o Grammy de melhor disco de rock com o acústico (risos), o quê eu achei muito legal. Mas eu acredito que sou uma criatura rock'n roll, mas o que eu produzo é música popular brasileira. Sou tão brasileiro quanto Luiz Gonzaga e João Gilberto.

Como é que está a situação dessa música?
Olha, eu, como editor de uma revista cujo combustível maior é o artista novo, enquanto a criação de uma nova geração, a coisa poderia estar melhor.

Você acha que tem mais admiradores ou inimigos?
Olha, a única coisa que eu acho que não cabe na minha personalidade, que seria realmente muito difícil de suportar, é a indiferença. Qualquer outro sentimento é válido (risos). Eu vejo que isso acontece e que é característica da minha personalidade. Evidente, porra, que eu pressinto que sou amado por 95%. Tem uns 3% de ódio e 2% de indecisos, entendeu? (risos)

Você acha que as produções musicais de hoje são um reflexo do público?
Esse negócio nunca me preocupou. Minha produção não tem nada a ver com isso. Eu faço o que eu quero. Eu sou absolutamente livre com o meu trabalho. A minha produção é feita com duas coisas: com tesão e com vontade de excelência. Eu sempre me dediquei a isso e fiz disso uma marca na minha vida, e acredito que isso não vá mudar.

Como tem sido a receptividade do público em relação ao seu programa na MTV?
Tá um tremendo sucesso. As pessoas não acreditaram, nem eu. O programa saiu do traço pra dois pontos de média. Tá um puta sucesso. Em todos os shows que eu faço, as pessoas sempre se referem com muito carinho ao debate. O engraçado é que são pessoas de várias idades (risos). A gente já renovou, eu vou ter que me mudar pra São Paulo, por que é muito difícil ficar na ponte aérea. Em março a gente estréia nova temporada.

Lobão, você tem quantas composições?
Eu tenho umas 300, né?

Perdeu as contas?
Eu devo ter isso. Entre as que eu gravei e as que eu tenho escrito, acho que tem umas 300, 350...

Delas, quais você considera grandes heranças para a música?
Ah, cara, eu tenho muita música. Eu vejo pelos meus álbuns. A canção é como se fosse um capítulo do livro. É como se você perguntasse pra um autor "qual o melhor capítulo do seu romance?". Então, eu gosto muito dos meus três últimos discos, o A vida é doce, Lobão 2001 - uma odisséia no universo paralelo e o Canções dentro da noite escura. O Vida e o Noite são, de longe, os meus melhores trabalhos. Acho isso e toda a crítica especializada concorda.

Tem alguma que você ouve hoje e acha que foi uma falha?
Todos os discos dos anos 80 foram uma merda! Eu já sabia que estava fazendo uma merda e não tinha como fazer diferente. Tinha uma cultura toda impregnada, não se sabiam produzir um disco de rock no Brasil. A gente sofria muito com a falta de qualidade, com a precariedade, com a falta de cultura musical dentro desse segmento. Eu posso dizer um disco que eu gosto desses, que é o Cena de cinema, que é o primeiro, por que é muito fresco, e o Ronaldo foi pra guerra. Os outros, pode jogar fora que é porcaria mesmo (risos). Nesse disco agora, eu resgatei um monte de músicas que foram pessimamente gravadas, que agora ganharam vida. Pelo material não, mas pela produção, eram muito ruins.

Lobão, gravadora mata?
Depende da pessoa, eu acredito que não tenha morrido até agora (risos). É muito difícil, hoje em dia, alguma coisa me fazer mal, entendeu? Eu já passei por tanta coisa nociva, virulenta, truculenta, covarde e sobrevivi a isso, que eu acho que adquiri muitos anti-corpus nos últimos anos.

Em geral, ela mata o artista?
Olha, eu acho que isso é muito relativo, acho que depende do artista. Eu estou lendo a biografia do Hendrix. Ele morreu, principalmente, por preocupações com a vida profissional dele, em relação aos contratos e tudo mais. Isso sempre existe, né? Já perdi muitos anos da minha vida com brigas judiciais seríssimas. É um meio que você tem que ter atenção, mas, eu prefiro não me colocar como vítima nunca, sabe? Se tem algum terror, o fantasma sou eu (risos). Acho que é melhor que as pessoas morram de medo de mim do que eu ficar me lamentando por alguém. Por que as pessoas me respeitam? Por que eu posso causar danos bem piores (risos).

Em uma entrevista à revista Playboy, você disse que, se abrissem a barriga do Tim Maia, lá encontrariam um câncer chamado "Som livre". Qual o motivo disso?
Eu falei isso num show no antigo Metropolitan. Eu estava mesmo muito indignado. O Tim passou os últimos dez anos da vida dele, mal ou bem, totalmente rechaçado, achando que era maluco. O cara morre e mal foi enterrado, já arranjaram tributos. Isso é muito feio, realmente. Prestar uma homenagem a uma pessoa querida como o Tim e ver que isso tem especulações mesquinhas, isso é muito sórdido, né?

Qual foi a última gravadora com a qual você teve contrato?
Foi a Universal, em 98. O acordo de agora, é entre a minha gravadora, a Universo Paralelo, com a Sony Music. É um contrato completamente inédito dentro dos moldes que a gente está acostumado.

O jabá ainda consome o mercado da música no Brasil?
Sim, e é um dos grandes atores na derrocada do disco. Se há uma coisa que não pode ser deduzida do preço final do disco, e que acaba com a concorrência, é o preço embutido do jabá. São dos famigerados "insumos comerciais". Acaba, não somente com a música, por causa desses preços, como aniquila toda a possibilidade da paixão do radialista em fazer a programação de acordo com o que ele gosta, com o que ele fareja. O comercial já marca as cartas todas, então você tira todo o calor que o rádio tinha. Não tem mais por que é tudo negócio sórdido. Aí você tem vários radialistas que não têm mais contato com a música. As pessoas que estão no meio, geralmente, não entendem mais de música. A maioria, 94,8% (risos). E é muito triste. Eu continuo não tocando na maioria das rádios, mas um tiro só não vai me derrubar (risos).

Como você vê esse acústico da MTV?
Quando eu decidi fazer, decidi que seria o melhor acústico que já foi feio. E foi o que aconteceu (risos). Eu pensei: "agora vou fazer um acústico daqueles. Tudo que faltava nos outros, não vai faltar nesse". Liberdade artística, excelência e sonoridade. Conseguimos uma tecnologia de amplificar os violões de maneira adequada. Isso dá uma imensa diferença da qualidade sonora que esse disco tem para a qualidade medíocre que todos os acústicos sempre apresentaram. E essa foi uma das minhas maiores preocupações. Eu já estou cansado de registrar as minhas músicas de maneira medíocre, não quero mais isso. Quando eu vi que teria uma mega produção, mais de R$ 1 milhão à minha disposição para fazer o máximo, eu tinha que pesquisar músicas, violões, instrumentos dos mais variados e aprofundar junto com os músicos e a viagem musical maravilhosa, eu acredito que não tem precedentes. As pessoas vão sacar que o prestígio do Grammy foi por algum motivo. Não é qualquer trabalho que ganha um Grammy, não é verdade? Eu tenho que concordar que houve muitas críticas à minha pessoa, pessoais, mas nenhum crítico, se você percebeu, em nenhum momento conseguiu falar mal do disco. O disco foi aclamado como excepcional em todos os jornais e revistas que a gente conhece aqui no Brasil. Todo mundo queria especular sobre o meu caráter, se eu sou vendido ou se eu não sou, mas, com todas essas ressalvas, as pessoas não conseguiram atingir o disco. Na certa, iam colocar a própria credibilidade profissional em jogo. Eu quero dizer que estou muito satisfeito com esse corredor polonês que tem acontecido esse ano, com um disco absolutamente laureado, uma turnê maravilhosa, estão dizendo que o programa de televisão é o acontecimento televisivo do ano (risos). Os shows que estamos fazendo em vários lugares estão todos lotados, são shows memoráveis, então não podemos estar mais satisfeitos em relação ao nosso trabalho, sabe?

Mudando de assunto agora. Existe uma idade ideal para morrer?
Existe. A hora em que você perde o amor pela vida. Eu acho que enquanto você tiver vontade de viver, você merece viver. }

Quais são os melhores filhos? Os sangüíneos ou a música?
Olha, tudo o que se identifica com você é o melhor, não interessa se tem laços de sangue. Isso tudo é muito pequeno em relação a intensidade que você tem quando você tem uma relação, seja com pessoas, seja com aquilo que você produz.

A boa composição é diretamente proporcional ao tamanho do porre?
Não. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Pelo contrário, eu acho que as melhores composições foram feitas quando eu estava sóbrio.

Quantos problemas com a justiça?
Tenho 132 processos, fui preso inúmeras vezes, perdi até a conta. Todas as vezes foram absurdas, arbitrárias e anti-constitucionais. É só verificar a história, as condições que eu fui foram absurdas. Isso por que eu não passava pelas cortes como arrependido, inclusive, indignado com a tutela que o Estado pretende nos aferir. Eu, enquanto ser humano, não causando mal a terceiros, ninguém tem direito de interferir na minha vida particular, muito menos o Estado.

Isso é um preço que você paga por ser polêmico?
Eu não sou polêmico! Eu vivo num país de baixíssima escolaridade que se assusta com tudo o que uma pessoa mais ou menos instruída fala. Você não percebeu que isso é mais simples ainda? (exalta-se)Eu vivo num país de baixíssima escolaridade, ultraconservador, com tendências à direita, ultra religioso, atrasadíssimo e quando você fala alguma coisa, as pessoas se assustam. Eu não sou deliberadamente polêmico, as polêmicas são conseqüências desse atrito. Eu sou um cara super informado em tudo o que eu falo e vivo num país que despreza informação, entendeu? O Brasil não sabe conviver com vanguarda, com pensamentos de renovação, sabe? Você vê o Ariano Suassuna, por exemplo, é um poço de atraso, apesar de ser um cara genial. Tem uma obra maravilhosa, mas como pensador, é um atraso para o Brasil. Pior é que o cara é um erudito, porra. Então, imagine a besta fera que está no senado nacional, um parlamentar ou um governante que mal tem o segundo grau completo?

Se a gente pudesse fazer uma lista das figuras mais idiotas do país, quais encabeçariam a lista?
Olha, nós temos uma safra tamanha, uma variedade tamanha, que seria uma injustiça com os demais não nominá-los (risos). O que temos de pessoas sórdidas, idiotas, chupa-sangue e retrógradas em vários setores... de maneira nenhuma Ariano Suassuna seria uma pessoa sórdida, ele simplesmente é atrasadíssimo. Por ele, estaríamos num quilombo, sem computador (risos). Ele quer só coisas brasileiras, como se o Brasil fosse a coisa mais pura e intocada da humanidade. Isso me dá medo, porque isso é muito parecido com o nazismo, não é? E não há por que ter orgulho disso, muito pelo contrário, isso é um fanatismo armorial da pior qualidade. Isso é um cancro, por que ainda fica mascarado pela boa intensão, por que não tem o mau caratismo, apenas o fanatismo. Mas isso já é o suficiente pra gente ficar mais 50 anos para poder se livrar disso. Folclore é uma merda! Uma país bom não tem folclore. Acho que a gente tinha que se urbanizar e se globalizar. Eu to se saco cheio dessa coisa pé-de-chinelo, nacionalista de merda em que o Brasil vive, sabe? Principalmente sob as rédeas do PT, você deve ter percebido que isso deve ter aumentado.

Quem é o maior ícone da música de todos os tempos?
Da música contemporânea popular? Hendrix, né?

E aqui no Brasil, quem você acha que fez música boa, de qualidade, que correspondia ao seu tempo?
Ah, rapaz, tá pra nascer (risos). Não vem ninguém, amiga. Tem um casos bacanas, mas nada que você possa dizer "esse cara é um deus". Villa Lobos é bom, mas revestido de muito nacionalismo, que era o paradigma naquela época, mas a qualidade da obra é muito intensa. Isso, na música clássica. Agora, na música popular, cara, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, aquelas coisas. Mas eu não ouço nada disso. Pra mi, seria uma peça de museu. É bacana, absolutamente louvável, mas, porra, eu ouço uma vez na vida e outra na morte. Não é uma coisa que tenha me influenciado diretamente. O que me influenciou diretamente aqui no Brasil foram os Mutantes, Macalé, Tim Maia, Jorge Bem, a Jovem Guarda (Erasmo e Roberto), essas coisas mais espertas.

Qual é a parceria mais marcante, não só na composição, mas de pessoas que regravaram músicas suas?
Sinceramente, eu não gosto de ouvir minha música na boa de outras pessoas. Quando eu compunha com Cazuza, eu dizia a ele, a gente compõe mas você não me mostra. Eu fica decepcionadíssimo. O piano não é esse! Não é essa batida! Ai, então, não ouvia. Comigo ele era manso (risos).

Depois de 50 anos, como é a cabeça do Lobão hoje?
A mesma de sempre. Estou com a mesma vontade de produzir, mesma vontade de achar uma linguagem, maior vontade de compor e com a mesma ânsia de aprender novas coisas. Eu sou superativo e não sinto nenhuma diferença de energia. Eu nunca fiz shows tão intensos quanto nesses dois anos, têm sido incendiários. Aos 50 anos, eu estou muito bem (risos).

Então o Lobão cinquentão não é careta...
Olha, eu não consigo olhar as coisas com esse maniqueísmo. Eu sempre fui uma pessoa muito íntegra com as minhas posições, mudo muito de opinião, por que eu sou um cara em evolução, mas o meu eixo é o meu eixo (risos).

Deus é burocrata?
Não. Se Deus existir, ele não é burocrata. O diabo deve ser burocrata (risos), ou um arcanjo lá, de asas, que inventou coisas para atrasar a vida da gente.

Você acha que a gente ainda se safa da "idade da mídia"?
Eu sobrevivi a isso. Eu sou a mídia (risos). Hoje em dia, EU tenho uma gravadora, EU tenho uma revista, EU tenho um programa de televisão. Não tem mais essa não.

Agüenta ouvir Me chama ainda?
Não só agüento como adoro, uma música linda daquela. Tem músicas que cada vez que você canta é um mantra. Me chama da maneira como eu faço é irretocável. Tanto é que nenhuma versão se conserva perto da minha.

E sobre o episódio em que João Gilberto, ao gravar Me chama, tirou o verso "nem sempre se vê mágica no absurdo"?
Mesmo que ele não tivesse tirado, o arranjo foi tão vagabundo que não marca. Eu acho aquilo horrível. Pelo menos na minha música. Fiquei muito triste depois. Muita gente por aí grava, mas eu nem ouço. Segundo ele me disse, ele tirou o verso por que não entendeu. Ai eu disse: "mas você não me telefona toda hora, por que não me telefonou perguntando o quê é que era'? Procure saber! (risos)

O que é a "mágica no absurdo"?
Deixa eu tentar pegar um exemplo bem prosaico. O torcedor corinthiano deve estar dizendo isso depois que viu o Corinthias empatar ontem. Eles fizeram um gol, mas não adiantou, né? Nem sempre se vê mágica no absurdo (risos).

De onde veio o verso?
Ah, esse é muito antigo. Eu vi dois filmes que me ajudaram. O primeiro foi The flash dance. Quando eu vi, fui tirar uma balada e acabou se tornando refrão de Noite e dia [canta: Você está me convidando...]. Aí eu fui ver um filme em que o Touro sentadofaz a dança da chuva e passa a tarde inteira dançando. Chegou um determinado momento, sentou-se , e não surgiu porra nenhuma, e ele disse "é, nem sempre as mágicas funcionam". Aí eu formulei a frase, mas ela ficou jogada no meu bloco de anotações. Aí eu pensei que tinha que usar a frase numa música. Aí quando veio a parte da canção Me chama, ela caiu como uma luva. Aí começou a música por aí, mas ela veio de arrastando uns quatro anos antes.

Você quer alcançar alguma coisa com o novo acústico?
Todo conceito do acústico, além do divertimento, era poder mostrar que as minhas duas fases podem conviver juntas, com coerência. Elas têm excelência. E poder mostrar as minhas coisas para o público. Pô, eu inventei a música independente mas eu quero mostrar que existo. Teve gente que pensou que eu tinha virado uma personalidade, por que eu nunca saí da mídia enquanto pessoa, né? Só me proibiram de tocar em rádio, então eu achei essa uma solução bem interessante para acabar com esse mal-estar. Foi só eu colocar a cabecinha de fora que eu ganhei o Grammy (risos). A partir de agora, tem rádio me tocando, o disco é um sucesso. Eu não poderia fazer isso na independência, por que eu não tenho R$ 1,5 milhão para investir. Eu fico feliz de ter tido essa liberdade. Todas as gravadoras vieram a trás de mim para querer fazer e eu pude escolher. Com a Sony Music, além desse disco, vai sair toda a minha caixa de originais no ano que vem.

Musicalmente, você se considera um ícone a ser copiado?
Até agora, ninguém conseguiu e nem vão conseguir (risos).

Por que não?
Porque é difícil. Eu sou uma pessoa muito peculiar e eu não gostaria de ser imitado não. Tomara que as pessoas tenham em mente que eu tenho uma trajetória legal. Minha história é muito bonita, como músico e como uma pessoa que conseguiu se colocar. Se isso servir de inspiração, eu vou ficar super satisfeito.

Você acha que a sua vida daria um bom livro?
Daria sim, daria um super livro.

Vai fazer?
Eu só vou fazer quando eu perceber que eu já passei da metade daquilo que eu queria fazer.

E agora, você está em que estágio?
Eu acho que eu estou no primeiro décimo da minha vida (risos).



terça-feira, 20 de novembro de 2007

1º capítulo...

No fim de semana, no Recife Antigo, estacionei a moto e fui em busca da primeira rodada de cerveja. Seria a primeira, de incontáveis.
O barato, dipensei. Só no álcool, esperei que ele passasse. Dentro do bar tocava algo entre Vinícius e Ney; algo parecido com isso, mas não me recordo agora.

Na verdade, tocava Gil.

No meio da coleção de camisetas customizadas, os olhos verdes dele, cintilavam com toda força. E eu larguei o copo, levantei. Comprei fichas pra radiola e colei o nariz no vidro:
- Elis, Cazuza, Gonzagão, Zé Ramalho...

Pus um samba de Cartola e muita gente careta torceu o nariz. Ele, sem pestanejar, olhou em minha direção, levantou, largou o copo e veio. Chegou, enlaçou-me pela cintura, encoxou-me [como só ele o faz] e me tirou dali. Era a senha.

♪ ♪ Alvorada lá no morro que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo
Tingindo, tingindo

Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando meus caminhos tão sem vida
E o que me resta é bem pouco
Quase nada de que ir assim
Vagando numa estrada perdida ♪♪

Ninguém viu nada, mas era como se houvessem holofotes e aplausos para os nossos compassos. E saímos.

Da cerveja, pra vodka. Vinho e cachaça pura, na areia.
Mas aí, antes do nascer do sol, antes do fim da noite, ele pega minha mão e propõe a prisão eterna.
Olho para o anel que brilha.
Olho para sua expectativa. Tiro o compromisso, coloco-o em sua mão, levanto e saio.

♪♪ O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer... ♪♪

domingo, 11 de novembro de 2007

A matéria embolorada do teste!

Montagem/ Filipe Falcão (gentilmente cedida sem aviso prévio)
Trashes da vida, na seqüência: trash do catamarã, em abril/2007; primeira trash com paquitas; show de Kátia Cega e homenagem de Lívia e Filipe à cantora.



» COMPORTAMENTO

O passado é a onda do presente
Publicado em 04.11.2007

Cada vez mais pessoas buscam em décadas que já vão longe inspiração para o que toca no seu aparelho de som e até nas roupas que vestem

Tatiana Notaro
tnotaro@jc.com.br

Hábitos de consumo e transformações políticas e sociais deram a cada década do século passado um estilo peculiar. Entretanto, o passado está presente em grande parte do que vemos (e como vemos), vestimos e ouvimos hoje. As regravações, a moda retrô, artistas que ressuscitam e tribos que revivem estilos existem aos montes. Os revivals formam uma nuvem de nostalgia que começou no início dos idos anos 90 e trazem até hoje a saudade dos bons e velhos tempos.

O professor de publicidade da Universidade Católica de Pernambuco, Fernando Fontanella, estuda as chamadas culturas populares. “Na minha tese de doutorado, analiso a atração das pessoas pelo passado, principalmente o cultural. A partir do fim da década de 80, a cultura pop entra em uma auto-referência muito forte em relação ao passado e começa uma série de ciclos”, disse. Segundo Fontanella, o início dos anos 90 trouxe um revival dos 40 e 50, com referências do rockabilly (subgênero do rock criado nos anos 50) e seriados como Anos dourados e Anos incríveis, e filmes, como De Volta para o futuro.

Gradualmente, houve uma transição para o estilo anos 60 com uma onda hippie e a releitura do festival Woodstock em 1994, em Nova Iorque. “Logo depois, ressurge a disco da década de 70. É o retorno da calça boca-de-sino, do ator John Travolta às telas e de grupos como o Village People”. Nos últimos anos, houve uma explosão 80 e as festas trash caíram no gosto do público. “Agora estaríamos à beira de reviver os anos 90, mas o que se vê são tribos que tomam o passado como estilo de vida”.

Passando para a prática, o estudo de Fontanella pode ser comprovado. Depois de começar a estudar a língua espanhola, o estudante de direito Bruno Araújo, 26 anos, tornou-se fã do cantor cubano Bienvenido Granda (foto). Conhecido como “el bigote que canta” (o bigode que canta) e famoso na década de 40 por seus boleros e voz inconfundíveis, Bienvenido morreu em 1983. “O professor sugeriu que ouvíssemos músicas hispânicas para melhorar a fluência. Um dia, meu pai chegou com o CD de uma figura de bigodes enormes. Os nomes das canções eram curiosos, como La cancíon del borracho (A canção do bêbado)”, disse Bruno. Ele comprou vários álbuns do cantor e apresentou a descoberta aos amigos. “A maioria deles não gostou, falavam que era música de radiola de ficha”. Apesar do preconceito, Bruno cultiva outros ídolos atípicos para a sua idade, como a cantora argentina Mercedes Sosa. “Meus amigos dizem que tenho gosto de velho, mas eu não acho. Gosto de coisas boas”.

As influências das cinco últimas décadas do século 20 também estão espalhadas pelas vitrines. A estudante de design Raíza Bruscky, 21, tem o guarda-roupa bem ao estilo retrô (do francês rétro, que significa antiquado). “Uso camisas de botão, saia confortável e sapato tipo boneca”, descreveu. A professora de moda da Faculdade Senac, Carmem Marinho, explica os estilos inspirados no armário da vovó. “O retrô é influenciado por modelos antigos. São peças novas com ares de brechó. Já para o vestuário original, realmente feito em décadas passadas, o nome dado é vintage". Ela alerta que é necessário cuidado com o gosto pelas modas do baú. O exagero pode transformar charme em uma fantasia de época.

Mas referências sutis aos detalhes mais charmosos e marcantes de outras décadas podem ser encontradas facilmente. Na loja Maria da Silva, no bairro das Graças, as coleções de design moderno carregam laçarotes, botões grandes ou cobertos e detalhes como casas de abelhas e nervuras. “Nossas roupas não são retrôs, mas têm bagagem. Usamos muito o estilo balonê e as mangas fofas”, descreveu Germana Valadares, estilista da marca. Já a Madame Surtô, assinada pela estilista Thaïs Asfora, tem, assumidamente, o pé no passado. “Em todos os segmentos existe aquilo que já deu certo e dispensa mudanças. Na moda, Chanel chegou ao ápice do charme”, disse Thaïs, referindo-se à estilista francesa falecida em 1971. O glamour dos anos 50 e 60, na sua opinião, são dos estilos mais marcantes já criados. “É nisso que busco a feminilidade que se tornou o traço da Madame Surtô. Aderir ao retrô é buscar esse glamour perdido”.

Nem a sétima arte, hoje já tão cheia de efeitos especiais, consegue se livrar dos seus antepassados. O jornalista Filipe Falcão, 25, é fã dos gêneros produzidos nos anos 80. “Adoro a estética dos anos 80. É tudo muito malfeito se comparado às produções atuais”, disse. Ele usa como exemplo a série A hora do pesadelo (Nightmare on Elm street, EUA), que teve seu primeiro filme lançado em 1984, precedendo uma época de grandes clássicos, como Massacre da serra elétrica (The Texas chain saw massacre, EUA, 1973) e Psicose (Psycho, EUA, 1960). “Hoje, não temos séries que se assemelhem à saga de Freddy Krueger. São 27 anos e 10 filmes. Os filmes de hoje têm uma megabilheteria, mas são caríssimos. Os da década de 80 têm coisas precárias, como cenários de papelão e elenco ruim, mas conseguem envolver o público nessa combinação estranha de coisas”.

Filipe também é fã da banda Roxette e da cantora Madonna. Perguntado se esses artistas teriam a mesma repercussão se tivessem despontado hoje no cenário musical, o jornalista é enfático. “De jeito nenhum. Madonna abriu a porta do entretenimento para um formato que não existia. Foi contestadora, falou de sexo, afrontou a igreja. Hoje, isso não surtiria o mesmo efeito. Qual o artista que você conhece tem 25 anos de carreira e a turnê mais lucrativa da história da música, para uma artista feminina?”. A mais rentável turnê da história da música foi a dos ingleses da Rolling Stones, que durou 3 anos. A última turnê de Madonna, Confessions tour, durou 4 meses e faturou US$ 194 milhões.

Voltando às teorias, Fontanella explica que as marcas culturais substituem ciclos da vida que se perderam. “Vamos dizer que antigamente as fases eram a escola, faculdade, o casamento, filhos e aposentadoria. Hoje, essas etapas não estão claras e perderam espaço para uma forte vivência midiática. Dizemos ‘quando eu era criança, assistia tal desenho’ ou ‘quando era adolescente, ouvia tal música’. Revisitamos esses momentos consumindo as mesmas coisas da época”.

E se estamos em uma época em que a passagem do tempo não faz muito sentido, é natural, segundo o professor, que busquemos referências. “É como se existissem compartimentos para você mergulhar, com um universo de símbolos livremente disponíveis para consumo”.


Festas trash ressuscitam melhor e pior dos anos 80

“Superfantástico, amigo, que bom estar contigo no nosso balão”. Esse é o primeiro convite aos corações mais nostálgicos que comparecem às festas estilo trash que acontecem no Recife desde 2002. Nelas, já pisaram figuras como a cantora Rosana (do inconfundível verso “como uma deusa você me mantém”, da canção O amor e o poder), as Paquitas (do Xou da Xuxa, extinto em 1992), Kátia (a “afilhada” de Roberto Carlos, dona do hit Não está sendo fácil) e Luiz Caldas (que na trash de Carnaval embalou abelhas ao som de Haja amor), além de covers bem satíricos de Sidney Magal, Simony (do Balão Mágico - foto) e Roberto Carlos.

O estilo começou no Rio de Janeiro e São Paulo, no ínicios dos anos 2000. As festas Ploc exploraram um universo até então esquecido. Segundo Manoel Guimarães, organizador de uma das trash recifenses, o estilo já conquistou o público. “Na nossa primeira festa, em abril deste ano, juntamos 1.200 pessoas. Com o sorteios de ingressos para usuários do JC OnLine, ficamos sabendo que 56% das pessoas que participaram são homens entre 25 e 35 anos”, disse. Manoel conta que nas enquetes promovidas na comunidade da festa no orkut, no quesito set list, músicas infantis ganham na preferência. “O jingle mais lembrado foi o da Estrela (a fábrica de brinquedos fundada em 1937). Com essa, eu já vi marmanjo emocionado”. Os jogos Banco imobiliário, Genius e War, e o brinquedo Pogoball estão no topo da lista dos mais lembrados.

Relembrar as festas traz risos a Manoel. “Uma vez, fizemos uma performance do grupo Dominó, com peças de dominó feitas de papel coladas na camisa e calças apertadas. No concurso de lambada, o casal vencedor ganhou uma geléia de mocotó Inbasa”. No telão instalado no fundo do palco, diz o organizador, passam cenas de desenhos animados inesquecíveis, como Smurfs (foto), Snorkels e Caverna do dragão.

Mas há uma linha que separa os saudosistas dos fanáticos pelos revivals. O termo kidadults (do inglês kid, criança, e adults, adultos) define pessoas que não aceitam a vida adulta e mantêm comportamentos e hábitos de crianças. “Não é o simples saudosismo. O saudosista suspira pelo passado, mas com consciência de que ele passou. No Bloco da Saudade, por exemplo, as pessoas sabem que aqueles carnavais não voltam e vivem a atmosfera apenas naquele momento. Os kidadults têm a vida mergulhada no passado. O nível de consumo é maior, já que não é somente aquele momento da festa trash. Os anos 80 passam a ser o estilo de vida”, explicou Fernando Fontanella.

Perguntado sobre o motivo pelo qual as pessoas tendem a resgatar o passado, Manoel é taxativo. “Para mim, tudo já foi inventado, o que nos resta agora é imitar”. A respeito disso, Fontanella entra em uma discussão sobre os limites da criatividade. “É um tabu determinar isso no campo da arte, mas na música o que ainda falta? Você tem possibilidades infinitas de criação, mas elas fatalmente acabam sendo influenciadas pelo passado. Entretanto, isso não é ruim se há uma relação saudável com essas memórias”, explicou. Então, vale a pena cultivar as boas recordações e para isso, a teoria não define idade.

Renato Russo, a peça

[A partir de hoje, esse espaço também servirá para minha livre expressão. As matérias aqui publicadas estarão livre de defeitos editoriais]


» Renato Russo
Líder de uma legião de fãs
Publicado em 10.11.2007

Tatiana Notaro
tnotaro@jc.com.br


Divulgação
Absolutamente nada atrapalhou a excepcional performance de Renato Russo no palco na noite da última quinta-feira. Nem os contratempos com o estacionamento lotado do Centro de Convenções, nem o microfone, que resolveu parar de funcionar. Nada. O ator Bruce Gomlevsky livrou-se de si mesmo e cedeu lugar ao eterno líder da Legião Urbana, saudade desde 1996. Renato Russo – a peça, encenada no Teatro Guararapes até ontem, foi show para deixar fãs extasiados por quase duas horas. Trejeitos, sotaque, delírios, filosofia; Renato estava ali por inteiro.

O monólogo escrito por Daniela Pereira e dirigido por Mauro Mendonça Filho tem roteiro forte, um cenário interessante e música ao vivo. Bruce canta de verdade, grita, encara a platéia e transpira Renato Russo. O texto não é didático; serve para que os que conhecem a história do cantor possam ter a sensação de vê-lo de novo. Leigos no assunto, no máximo, cantarolam versos mais conhecidos.

O set list, aliás, corre pela vida de Renato, desde a época do Aborto Elétrico, passando pela breve carreira solo como “trovador solitário”, até o começo, meio e fim da Legião. Ouviu-se faixas como Perfeição, Tédio, Geração Coca-Cola, Ainda é cedo, Eduardo e Mônica, Será e Que país é esse. Acompanhado pela excelente banda ou sozinho ao violão, Bruce cantou e interagiu com a platéia. Deu para esquecer que Renato já se foi e vivê-lo novamente.

Assim como o Renato da música, o do palco vai se recolhendo à medida que o seu espetáculo se aproxima do fim. E tal qual a morte do cantor, a do personagem se dá de forma sutil, num leve apagar de luzes e com a mensagem de um legado: “força sempre”.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Atalho

Saudades enormes.

Não há o que lamentar; nem os freios, nem pudores ou a sensação de ter deixado passar o momento ideal.

Foram muitos.

Cheiro de CK, gosto de taco, absinto. Brilhos de strass, conversas "apimentadas", dissabores e dores. Por que não?

Amam-se e se vão, tal qual segundos, incessantes.
Desconcertantes momentos à dois, de troca de farpas, calafrios.
Instintos contidos, gestos suprimidos, beijos engolidos.

Indiferença e anestesia.
Indolor, incolor, insípido, intragável...

Musique-se

Sampa

Caetano Veloso

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo, afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso o avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan Américas de Áfricas utópicas
Túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi

E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

domingo, 4 de novembro de 2007

Teorias rodrigueanas salvam o dia...

Hoje, finalmente, vi minha trabalhosa matéria sobre revivals publicada no Jornal do Commercio, com direito a página inteira (sem publicidades) só pra mim.

Como personagens, dois amigos adoradores de coisas velhas, um doutorando em cultura popular e uma estilista adepta ao estilo retrô, além de um organizador de festa trash.

Comprei "o profeta" (jornal de domingo que sai no sábado à noite), louca para ver a matéria. E lá estava ela, linda de morrer, com meu nome, orgulhosamente assinado.

Hoje, Filipe (uma das personagens, amigo meu, também jornalista) me disse que eu acabei trocando os títulos em inglês de Sexta-feira 13 e de A hora do pesadelo. Fred por Jason...

Mas que droga!!!!!
Fiquei enfurecida. Depois de quase dois meses de encubação, a matéria ainda sai errada??

Afoguei as mágoas num copo de coca-cola zero, agora há pouco, no aniversário de Ulisses... isso, depois de ter tido a fantástica experiência de conhecer sogro, sogra, cunhada, cunhado, tia...
Uma beleza!

Aí, cá estou eu, com requícios dessa mágoa, quando me surge o sempre sábio Nelson Rodrigues, por quem me apaixonei perdidamente há pouco tempo (assim como meu já amado Cazuza, ele "escarra na boca que 'lhe' beija"):


"Perfeição é coisa de menininha tocadora de piano".

Disse tudo.
Palmas para o grande anjo maldito.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Poetinha

Vinicius é um amor antigo, desde a época da radiola do meu avô, que trabalhava incessantemente aos domingos.

Voz boêmia, fascinante.
Poemas delirantes, regados à uísque e temperados à tragos.

E, como se isso fosse pouco, juntou sua embriaguez poética à de Tom.
Nascem as grandes maravilhas da nossa Bossa Nova.

Reverência total ao Mestre!
Sua bênção, Poetinha!





Musique-se

Samba da Bênção


♪ ♪ É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim, como luz no coração

♪♪ Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba não

Senão, é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher
Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e para ser só perdão

♪♪ Fazer samba não é contar piada
Quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração

♪♪ Por que o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida
Cuidado, companheiro
A vida é pra valer
E não se engane não, é uma só
Duas mesmo, que é bom, ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: DEUS!
E com firma reconhecida

A vida não é de brincadeira, amigo
A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida

Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão

♪♪ Ponha um pouco de amor na sua vida, como no seu samba
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem o samba não

♪♪ Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

Eu, por exemplo
Capitão-do-mato Vinicius de Moraes, poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô

Saravá (saravá)

A bênção, Senhora, a maior ialorixá da Bahia
Terra de Caimmy e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha, tu que choraste na flauta todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Senhor
A bênção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Ciro Monteiro, você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel
Sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes sambistas do meu Brasil branco, preto, mulato, lindo como a pele macia de Oxum

A bênção, Maestro Antônio Carlos Jobim, parceiro e amigo querido, que já viajaste tantas canções comigo e ainda há tantas a viajar
A bênção, Carlinhos Lira, parceirinho cem porcento, você que une a ação ao pensamento
A bênção
A bênção, Baden Powel, amigo novo, parceiro novo, que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos, que não é um só, és tantos
Tantos como o meu Brasil de todos os santos, inclusive meu São Sebastião

Saravá (saravá)

A bênção, que eu vou ter que partir
Eu vou ter que dizer adeus...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Breve diálogo

Sexta, 12 de outubro.
Destino: um pesque-e-pague em Olinda (idéia esdrúchula do meu pai, mas eu adoro pescar)
Trilha: Toquinho e Vinicius

Segue a cena...


Mariana, sentada em sua cadeira, no banco de trás do carro, cantarola "Aquarela", de Toquinho. Eu, surpresa com a cena, digo:


- Não acredito!!!
- É, ela adora Toquinho - disse meu pai.
- Ah, gorda safada - disse, apertando as pernas dela.
- Faz quinze dias que ela descobriu um DVD de Ney Matogrosso em casa e é só o que ela vê. Me disse que adora ele e que ele tem olhos lindos - completou papai, com tom orgulhoso.
- ... [= o]

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Segundo de reflexão

Todas as vezes que me proponho a escrever além da redação, a cabeça está tão estafada que não consigo tecer nenhuma linha. Durante o dia, fico tentando escapar das amarras editoriais e imaginando o quanto é bom a "livre expressão" do meu blog. Penso e escrevo como quero.

É um alívio, pra variar.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Nelson Rodrigues

"A sorte não existe!
Nem o azar
Tal como não existe deus
nem o demônio.

Faz falta às pessoas atribuir nomes às coisas boas ou más que lhes acontecem.
Querem chamar sorte o fato de alguém ter ganho a loteria
ou azar por alguém ter caído e partir uma perna?

Chamem.

Eu não!

São episódios da vida comum, normalidades.
Se um ganhou, foi porque jogou.
Se o outro partiu, foi porque caiu.

Nada mais simples".

sábado, 13 de outubro de 2007

Tirando as teias


Hoje é dia de faxina por aqui.
Chega do ócio intelectual. Chega da total entrega ao trabalho. Chega de encaixar planos pessoais em segundo plano. Sempre, sempre depois.
Isso é assunto para depois. Vamos tentar recaptular as inspirações passadas. Daria uma boa postagem, como há tempos não faço.
O trabalho oscila entre o automático e o imaginário. Fatos se fundem em textos construídos com inexperiência. A tediosa "pirâmide invertida". Danem-se as regras.
Ando levando muito à sério a idéia de mudar. Tentei começar pelo cabelo hoje, mas me faltou coragem de enfrentar a tesoura. A dieta também foi esquecida durante o feriado prolongado. O peso do corpo contamina a cabeça... essas coisas que só que é do time do sobre-peso entente.
Ok. Chega.
Estou mesmo sem assunto e isso explica o silêncio fúnebre no qual esse espaço está mergulhado há dias. Ando pela rua tentando encontrar pautas pro blog, mas elas acabam se perdendo pela falta de sentar e escrever. Isso sem aquelas amarras do "preciso ser entendida". Acho que o jornalismo corroeu minha artéria poética-literária.
Aquisições ótimas na bienal. Com certeza renderão excelentes posts por aqui.
Fico devendo a música.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

E EU QUE NÃO SEI QUASE NADA DO MAR

Garimpeira da beleza
Te achei na beira de você me achar
Me agarra na cintura, me segura e jura que não vai soltar
E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer
Navegando nos meios seios, mar partindo ao meio
Não vou esquecer

Eu que não sei quase nada do mar
Descobri que não sei nada de mim


Clara, noite rara, nos levando além da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão

Me agarrei nos seus cabelos
Sua boca quente pra não me afogar
Tua língua correnteza
lambe minhas pernas
Como faz o mar
E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer
Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio
Não vou esquecer

Eu que não sei quase nada do mar
Descobri que não sei nada de mim

sábado, 29 de setembro de 2007

Se enamora

Tão lindo...

Agora, concordem... Fofão é tosco!
Aliás, o QUE É o Fofão????

Vote:

( ) Cachorro
( ) Porco
( ) E.T.
( ) Mutação genética
( ) Um boneco feio da década de 80 que tinha uma faca descendo pescoço abaixo


segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Ossos do domingo

Ai, que dia chato.

Dé, em João Pessoa com Daniel. Natália com preguiça de sair de casa. Bruno foi ver o jogo (Náutico 2 x 0 Sport) na casa de Bartô, mas a última coisa que eu pretendia hoje era ouvir os palavrões futebolístico dos meninos.

Trajeto computador, cama, sala, cozinha, geladeira. Isso, com certeza, deve ter me rendido quilos a mais e neurônio a menos. "O ócio debilita as células nervosas", li certa vez. Hoje, então, devo ter perdido grande parte da minha capacidade mental.

Fui comprar passagens de avião pra Natal e acabei comprando duas sem querer, por culpa do site da companhia aérea que estava congestionado. Amanhã, como se não bastasse as coisas que tenho pra fazer, terei que ligar para o banco para extornar a compra. Liguei pra Tam, mas a simpática atendente eletrônica avisou: "a previsão de atendimento é de até 30 minutos". Esperei até a orelha queimar e até acabar o estoque de palavrões. Li três capítulos de um livro. E nada.

Segunda-feira...
Reunião de pauta...

MuSiQue-Se

Os cegos do castelo
Titãs

Eu não quero mais mentir
Usar espinhos que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu
Dos cegos do castelo me despeço e vou
A pé até encontrar
Um caminho, o lugar
Pro que eu sou

Eu não quero mais dormir
De olhos abertos me esquenta o sol
Eu não espero que um revólver venha explodir
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
Que restou

E se você puder me olhar
E se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar
Eu vou cuidar, eu cuidarei dele
Eu vou cuidar
Do seu jardim
Eu vou cuidar, eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar, e de você e de mim

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Canal aberto.

Certo, Dé?

Às moscas

Carlos veio me dizer que ele atualiza mais o blog dele do que eu o meu. Isso, claro, é um desaforo, já que meu embolorado amigo raras vezes tem inspiração para compor textos.

O fato, caros leitores, é que não tenho tido paciência para pensar. Fico sentada naquela redação e, entre um resumo de novela e outro, me detenho a observar as pessoas. Aquele lugar poderia ser objeto de estudo, onde o cientista iria se deparar com tipinhos bem esquisitos; desde inidis, emos (duas espécies até então desconhecidas para mim, mas que meu 'amigo Talles' me explicou dia desses), gays e lésbicas, até pessoas interessantes e legais, passando pelo tipo ralé, daquelas que se acham as donas do mundo e te olham como se não fosse apodrecer à sete palmos. Ah, amigo, esse último tem de monte. Pobres coitados infelizes.

Tenho um amigo que ia adorar ler esse meu comentáro...

Eu não entendo as pessoas. São esquisitas. Vez ou outra, te mandam flores ou livros, te dedicam fotos e tal. Aí, você fica com cara de tacho e eu leio Clarice.

Sabe de uma coisa? Vou dormir.
Hunf!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A pátria desmemoriada

É, Renan absolvido. Eu, sinceramente, esperei esperançosa por um resultado diferente, mas o clichê "pizza" foi soberano mais uma vez. Eu fui petista. Hoje, digamos, sou populista. À favor de nós, povo brasileiro, descaradamente enganados, passados para trás e envergonhados.
Povo sem educação, sem salário digno, sem escola de qualidade, sem saúde e com o direito de ficar calado.

As imagens abaixo devem refrescar nossa aturdida memória. Somos enganados, traídos, roubados e isso, infelizmente, não é um filme que teve estréia em 2002, quando Lula assumiu o Planalto. Na primeira saga, o antagonista atendia por Pedro Álvares. Daí, ele abriu alas para marechais, getúlios, cafés, sarneys, tancredos e mais um monte de conglomerados de letras que, soletradas, viriam a dizer a mesma coisa.

Eu, sendo você, teria vergonha de votar. A culpa é sua e vai continuar sendo nossa.

Vai uma fatia de pizza?






















domingo, 9 de setembro de 2007

A Mimo

Hoje à noite, a cidade alta assistiu ao encerramento da Mostra Internacional de Música em Olinda. No pequeno palco montado diante do altar-mor da Igreja da Sé, sobre o túmulo de Dom Hélder, Hamilton de Holanda e Yamandú Costa.


A Sé estava lotada. Quem não tinha convite para entrar na igreja e ver o show de perto, não se fez de rogado; arrumou um cantinho para assistir pelo telão ao maior duelo de cordas que eu já presenciei. Hamilton, de posse do seu bandolim, é mineiro de família pernambucana. Yamandú, com seu violão em punho, é gaúcho, autodidata e tem ares de gênio.


Um palco bem intimista, altares iluminados e uma platéia silenciosa. Entram em cena duas figuras com seus instrumentos em punho. Chuva de palmas. Eles sentam, olham um pro outro e num aceno dão o primeiro acorde. O silêncio do público é total, interrompido apenas pelos aplausos, uma demostração entusiasmada de êxtase diante da arte. Sem exageros.

Hamilton é mais comedido. Tem pele amorenada, cabelos bem curtos e um domínio impressionante dos dedos que dedilham freneticamente as cordas do bandolim. Yamandú parece ter saído de um delírio. Cabelos desgrenhados, cara de maluco que muda de feição a cada tom. Sentado, ele parece completamente entregue aos acordes; dança de acordo com eles, um ballet desengonçado, mas precisamente ritmado.

A participação de Naná Vasconcelos no bis foi simpática, mas em nada contribui musicalmente ao festival de cordas. O show, a partir daquele momento, ficou por conta da platéia, que cantarolou Noel Rosa, para o entusiasmo de Yamandú e Hamilton. Deu gosto de ouvir. Foi de inflar o bairrismo de qualquer pernambucano.

Destaque para o programa de excelente qualidade que, talvez, o público daqui nem esteja acostumado, mas merece. Soube respeitar o momento, silenciou, aplaudiu e saiu com cara de satisfeito no final. Eu saí!

E viva a música!

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O Sete de setembro


Por causa do feriado, hoje não teve expediente pra mim no jornal. Então acordei e fiquei pensando no significado da data. Ao que parece, um dia a mais entre os tantos feriados do calendário.

De fato, o patriotrismo deixa a desejar. Eu mesma nunca fui em uma parada do 7 de setembro, o que considero um grande erro dos meus pais. Apesar disso, acho o hino nacional magnifíco e me lembro de sempre canta-lo cheia de ufanismo nas atividades cívicas da época de Salesiano. Na caderneta da escola tinha a letra do hino nacional. Lá pros 10 anos de idade, eu achei que deveria saber cantá-lo. E aprendi. Inclusive, já naquela época, sabia qual verso vinha primeiro...

Mas, enfim, estou discutindo sobre o feriado. Acho que seria um dia ideal para se falar a repeito do Brasil.

Quinhentos e sete anos desde a primeira invasão oficial. Daí, a gente aprende que em sete de setembro de 1822, nos tornamos independentes, depois de um tal "grito no Ypiranga". Ao que parece, somente em agosto de 1825, é que os colonizadores luzitanos, com sua lendária pouca capacidade intelectual, se deram conta que a cria aqui tinha crescido e não tava mais afim de ficar sob suas rédeas e mãos usurpadoras.

Mas o que era ruim parece que ficou pior. A bagunça se estendeu por um território de proporções continentais, que chegam aos seus 8.514.876,599 km², sendo a 5ª maior bagunça do planeta. Passamos por todo tipo de provações. Fome, pobreza, ditadura. Fomos e somos torturados. Antes, entre as paredes dos DOPs, hoje pela rua, em fila de banco, numa carteira de escola ou diante da urna.

Devíamos nos envergonhar. O valor do brasileiro parece ser tão baixo quanto o do salário minimo. A dança folclórica típica poderia ser as encenadas em comemorações sem-vergonhas em pleno Congresso. A saúde nos adoece, a educação nos aliena e destrói os sonhos que ainda nem pudemos construir. Estradas esburacadas, freios burocráticos, demagogia assassina e a velha e fatal má educação, camuflada com o simpático nome de "jeitinho brasileiro".

Mas, hoje, sejamos ufanistas. Amemos essa terra de águas mornas e sorrisos quentes. Nos ludibriemos com o gosto das frutas, com cheiro de pimenta, temperos. Nos embriaguemos de água ardente ao som do samba de Bezerra da Silva, Martinho, Paulinho. Sintamos a emoção da Aquarela de Ary Barroso e dos versos históricos das "alcovas" de Chico. Ah, Chico... e suas mulheres, suas rimas, suas batidas, sua genialidade.

Chico... Buarque, Science, César... todos!
Brindemos os climas; do frio elegante do sul ao calor ofegante das lindas praias do Nordeste. A garoa paulistana e as enchentes pantaneiras. Que sejamos os primeiros no passo do frevo, do samba e nos acordes da nossa brasileiríssima Bossa Nova. Que com ela, possamos fechar os olhos e sentir Tom, Vinícius, Toquinho. Os cabelos de Gal e Bethânia. A voz rouca de Elis, dos passos do bêbado equilibrista, tão vivo nos subúrbios sofridos, de gente divertida, de toda a periferia.

Periferia de farinha de mandioca, cuscuz, buchada e feijoada. Churrasco de gaúcho e acarajé das negras baianas do alto da Sé de Olinda. Tapioca, canjica, bolo-de-rolo. Carne de charque, bergamota, cajá, caipirinha. Peixe na telha, camarão, açaí.
Becos, ruas, favelas, avenidas. Chãos de Giz e bichos maluco-beleza. Asas brancas e luas de São Jorge. Garotas de Ipanema, La Belle de Jour de Boa Viagem, diabos louros de Olinda. Beija-flores e Ideologias... As letras nordestinas de Amado, João Cabral, Bandeira e do vivente Ariano. A genialidade de Machado, de Clarice, de Drummond. As sem-vergonhices de Nelson Rodrigues.

Nossa Constituição de 88, nosso Real de 94, nosso penta de 2002... Terra de Vera Cruz, país do futuro, pátria de chuteiras, país do futebol, "um país de todos". Onde tudo acaba em pizza, em samba, em mar.

Musique-se

Brasil
Cazuza


Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
Apagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes d'eu nascer

Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha

Brasil, mostra a tua cara
Quero ver quem paga pra gente ficar assim
Brasil, qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

(...)
Não me elegeram a garota do Fantástico
Não me subornaram, será que é o meu fim?
Ver TV a cores na taba de um índio
Programada pra só dizer sim, sim

Brasil, mostra a tua cara
Quero ver quem paga pra gente ficar assim
Brasil, qual é o teu negócio
O nome do teu sócio
Confia em mim

Grande pátria desimportante
Em nenhum instante eu vou te trair
Não, não vou te trair

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Tardelle


E essa é sua!
Lindo...
Em janeiro, o Rio estava nublado, então, eu não tenho nenhum pôr-do-sol para oferecer. A foto é em sépia mesmo, sem photoshop. Eu gosto dos contornos e cores fortes...
Foi um momento mágico.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Nelson, a verdade

Eu amo Nelson Rodrigues.

Sempre achei intrigante sua maneira de chocar. Ruborizar platéias e leitores sem apontar-lhes o dedo diretamente. No palco, Geni se insinua, se oferece, expõe-se sentimental e fisicamente. O seu nu afronta, inibe, castra reações e causa desejo.

É o aflorar da hipocrisia. Palavras e gestos duros, indecentes, sacanas, rudes, eróticas, pornográficas.

Nelson é, também, maravilhosamente surpreendente:

O que é amor?

Nelson, para você, o que é amor?

Sou uma das raras pessoas das minhas relações que acredita no amor eterno. Já escrevi mil vezes: todo amor é eterno e, se acaba, não era amor. O amor não morre - vivo eu dizendo. Morre o sentimento que é, apenas uma imitação do amor muitas vezes uma maravilhosa imitação do amor.

Diz Oswaldinho, na minha peça Anti-Nelson Roddrigues: “Quando eu a vi, senti que não era a primeira vez, que eu a conhecia de vidas passadas.” Isso quer dizer que só quem ama conhece a eternidade. Isso é romantismo de maneira despudorada. Isso é amor. Sou uma alma da Belle Époque e de vez em quando me pergunto o que é que estou fazendo em 1974.

None

Norte, direção, objetivo, meta, destino, planos, conceitos, sentido, itinerário, caminho, via, rua ou avenida. As perguntas de sempre. De onde venho? Para onde vou? E... por quê vou?
Seria interessante despir-se da primeira pessoa. Esquecer o ego, o individual, pessoal, o ‘si’, o ‘meu’. Aí você vira um espectador, telespectador, na expectativa de que alguma coisa aconteça, e rápido.
Fugir do marasmo, das mesmas músicas, das mesmas vozes, caras, rostos, reações e familiaridades, afinidades afins. Enfim.
É fácil entender o fim? É fácil perceber-se sem rumo, sem meios, sem lados, sem braços, sem sons, no silêncio mais incômodo de se ouvir. Ele fala, mas você não reage.
Inerte, morto, parado, recluso, conformado, estagnado, enraizado e de saco cheio de si mesmo.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Aniversário de André



Jantar no Ponteio é uma prova de amor, viu!
Meu figo, eu te amo muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito!!!!!!
E viva a "Meta" Eventos!!
ps: Foi bom pra vc?

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Folha de Pernambuco - Programa

Retrato do artista quando jovem

DVD do Barão Vermelho no Rock in Rio mostra o poeta Cazuza belo e saudável

Pedro Ferrer
Especial para a Folha

Há três anos, quando o filme “Cazuza - O Tempo Não Pára” chegou às telas de todo o Brasil, a nova geração pôde conhecer um pouco mais da história do cantor e compositor Cazuza, morto em 1990, aos 32 anos, em decorrência do vírus da Aids. Para quem só lembra dele com o rosto já marcado pela doença, o cabelo ralo e o corpo esquálido, é importante que se diga que - um dia - Cazuza foi belo e saudável como qualquer um de nós e que sua música já tinha força. E isso é comprovado no DVD “Rock in Rio - Barão Vermelho 1985”, que acaba de chegar às lojas via Som Livre/MZA Music. O show flagra a banda num momento histórico.


O Barão Vermelho daquela época era um quinteto formado ainda por Frejat, Guto Goffi, Maurício Barros e Dé Palmeira. O primeiro, como todos sabem, assumiu os vocais da banda com a saída de Cazuza, no mesmo ano de 1985. Guto e Maurício continuam na banda. Dé, por sua vez, trabalha há um bom tempo com Adriana Calcanhotto. Mas os quatro, e mais o produtor Ezequiel Neves, se reúnem no ótimo documentário “Aconteceu em 1985”, um dos extras do DVD. Entre lembranças daquela apresentação, eles falam do sentimento de patriotismo que pairava no ar. Também aparecem Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, e a jornalista Leda Nagle, que na época era um dos nomes mais importantes da TV Globo e entrevistava as atrações do festival.


E o que se vê no palco é mesmo uma festa. Estourada em todo o Brasil com “Maior Abandonado”, a banda enfileira vários hits, para deleite da platéia, também repleta de bandeiras do Brasil. Além de festejar o momento político, a impressão que se tem é que o público está dando seu aval para o rock brazuca, que naquele festival - rivalizando com atrações do porte do Queen - começava a se estabelecer como a principal forma de expressão musical do País. Basta prestar atenção à vibração da platéia, toda vez que o Barão Vermelho inicia os acordes de hits como “Bete Balanço”, “Subproduto do Rock”, “Todo Amor que Houver Nessa Vida”, “Baby Suporte” e “Por Que a Gente é Assim”.


Esse mesmo show foi mostrado no Recife, em março do mesmo ano. Num Geraldão lotado, Cazuza fez todas as diabruras a que tinha direito. E a resposta do público não poderia ser melhor: todo o ginásio cantou e dançou “Pro Dia Nascer Feliz”. Poucos meses depois, Cazuza - com a certeza de que já tinha ficado maior que aquilo tudo - partiu para a carreira solo, lançando “Exagerado”. O Barão, apesar do baque inicial, seguiu adiante, estabilizando-se como uma das principais bandas de rock do País. Cazuza - já debilitado pela doença - voltou ao Recife em novembro de 1988, para mostrar o belo show “Ideologia” a um Teatro Guararapes abarrotado. A platéia acompanhava em coro as então já clássicas “Faz Parte do Meu Show”, “Vida Louca Vida” e “Brasil”, que naquele momento era tema da histórica novela “Vale Tudo”, na voz de Gal Costa, e virou uma espécie de hino às avessas.


No comecinho de 1989, o cantor ainda apareceu na cidade para uma apresentação no Pavilhão do Centro de Convenções. Mas, infelizmente, não conseguiu se manter firme no palco. Em abril, sua imagem na capa da Veja, sob o título “Cazuza: Uma vítima da Aids agoniza em praça pública”, deixou o Brasil em estado de choque. Artistas fizeram um abaixo-assinado contra a revista. Mas o fato é que Cazuza foi extremente corajoso ao se expor daquela maneira, numa época em que a doença ainda era motivo de muita intolerância (se hoje ainda é, imaginem há 18 anos). Cazuza morreu em 1990, mas as suas canções sobrevivem e, o que mais impressiona, continuam atuais. Com o lançamento do DVD “Rock in Rio - Barão Vermelho 1985” - que também sai em CD -, sua “pré-história” finalmente é resgatada. Sem sombra da doença, vemos um Cazuza lindo, forte, provocante, pedindo “Pro Dia Nascer Feliz” naquele ano de tantas mudanças. Para ele próprio, para o público e para o Brasil.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

A puta

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na Rua de Baixo
onde é proibido passar.

Onde o ar é vidro ardendo
e labaredas torram a língua
de quem disser: Eu quero
a puta
quero a puta quero a puta.

Ela arreganha dentes largos
de longe. Na mata do cabelo
se abre toda, chupante
boca de mina amanteigada
quente. A puta quente.

É preciso crescer
esta noite a noite inteira sem parar
de crescer e querer
a puta que não sabe
o gosto do desejo do menino
o gosto menino
que nem o menino
sabe, e quer saber, querendo a puta.

Carlos Drummond de Andrade ©

[20 anos sem Drummond - 17 de agosto de 1987]